Já diria o sábio que o 'gol é o grande momento do futebol'. Não por menos, muitos desses lances se tornam imagens afetivas, que marcam jogadores e torcedores, e até mesmo a história dos clubes para a eternidade. No Santa Cruz, já foram exatos 10.003 gols anotados até a redação deste texto, sendo apenas o 12° clube entre os mais de 800 em atividade no futebol brasileiro a atingir a marca dos dez mil.
São gols que geram uma galeria repleta de artilheiros. E quis o destino que justamente entre os gols 9.999 e 10.001, marcados pelo ídolo Pipico no 3x0 sobre o Petrolina, um novo nome fosse forjado entre os lendários atacantes do Santa Cruz. Patrick Nonato, aos 22 anos, evidentemente ainda não tem a mesma relevância histórica de Tará, Luciano Veloso, Ramón, Nunes, Grafite e tantos outros ídolos dos tricolores. Mas ele sabe o que precisa para chegar a esse patamar, já largando com um grande feito ao registrar seu nome como o autor do décimo milésimo do clube.
O Jornal do Commercio entrevistou o jovem atacante, para conhecer e contar a história do garoto que deixou a cidade natal Goiânia para tentar a vida no Recife, para se destacar com quatro gols e a vice-artilharia da Copa Pernambuco e receber com surpresa a notícia de ser titular logo na estreia da temporada. Pai de uma filha de quatro anos, Patrick tem na família o seu alicerce de incentivo e perseverança na luta pelo sonho de se tornar um jogador de sucesso no futebol, e claro, ser ídolo do Santa Cruz.
“Comecei a jogar na quadra, no futsal, com meus tios e primos. Lembro que meu tio Osvaldo sempre fazia tudo e quando chegava na cara do gol, ele parava a bola e eu chegava e chutava para fazer os gols”, lembra, antes de resgatar o caminho traçado até chegar no Santa Cruz. “Fui para o Goiás aos sete anos de idade e lá fui subindo de categoria. Cheguei na base aos doze anos e fiquei até os 21 anos. Foram 14 anos de Goiás. Logo em seguida, meu contato lá encerrou e eu fiquei em casa uns dois meses e apareceu a oportunidade de vir para o Santa Cruz.”
“Quando o meu empresário me falou, eu topei na hora. Sabia a grandeza que era o clube e vim para o time de aspirantes. Participei de quase todos os jogos no ano passado, só não joguei contra o Ceará porque não estava inscrito ainda. Consegui fazer gol contra a Ponte Preta e logo teve a oportunidade de disputar a Copa Pernambuco, onde consegui ser destaque. Tive o contrato renovado e agradeço a Deus e ao Santa Cruz por essa oportunidade.”
“Tive essa oportunidade de começar jogando o jogo. Nem imaginava. Quando cheguei e vi lá a minha chuteira como titular, na camisa onze, não tinha caído a ficha ainda. Todo atacante pensa em estrear fazendo gols e Deus me honrou, porque trabalhei bastante. Fiquei 14 anos no Goiás e não tive essa oportunidade, talvez eu não estivesse preparado ainda, mas Deus me preparou e colocou no dia certo e no momento certo, como titular, fazendo o gol 10 mil do Santa Cruz. Isso vai ficar marcado na minha vida.”
“Sempre prezo na vida pela família. Tenho uma filha de 4 anos (Emanueli). E não sou casado ainda, mas pretendo casar agora. Já tem dez anos que estou com minha namorada (Monike) e ela está segurando a barra lá (em Goiânia). Não é fácil, eu confesso, ficar longe delas. Também agradeço ao meu sogro, que dá o maior apoio a mim, e ao meu pai também, que me apoia para seguir."
“Há umas quatro semanas atrás aqui, confesso que por uns dois dias eu acordei triste e desanimado, pensando em desistir. Mas graças a Deus eles me falaram para aguentar, que Deus iria me honrar. Tive a oportunidade de estrear e foi maravilhoso."
“Um dia antes do treino, houve um coletivo e ele (técnico Itamar Shcülle) estava ajustado o time e eu fiz um bonito gol aqui no Arruda. Daí, indo para a concentração, o Pipico chegou em mim enquanto eu conversava com alguns meninos do grupo e ele falou que o treinador estava em dúvida, se iria começar comigo ou com o Mayco (Félix). Como o Mayco estava treinando, eu nem fiquei com aquilo na cabeça, mas quando cheguei no vestiário e vi a minha chuteira na camisa onze, é que a ficha foi caindo aos poucos. Mas até então eu não sabia. Só na hora.”
“Na hora da jogada, eu peguei a bola e toquei no fundo para o lateral e corri para a área, como é a função do centroavante e todo atacante tem que estar na área. Ele cruzou e eu vi a bola passando pelo Pipico e eu já estava chegando e pedi a bola para o Jeremias. Ele acabou chutando e tive a sorte dela pegar no zagueiro e vir para mim livre. Eu tive a frieza de só tirar do goleiro e foi um bonito gol. Um gol que vai ficar marcado pra sempre na minha vida.”
“Foi cair a ficha depois que acabou o jogo e eu fiquei nas redes sociais e vi as pessoas falando. Como Deus é perfeito no que faz. Primeiro jogo como titular, um gol, e o gol 10 mil da história do Santa Cruz, que é um grande clube. Foi maravilhoso. Vou poder contar para os meus filhos."
“Te falar que depois desse gol, eles ficaram tão felizes porque me deram forças para continuar, de onde muitos não viam. Eu fiz esse gol e é o meu maior sonho. É estar hoje no Santa Cruz, fazer gols e ganhar títulos, e trazer a minha família. A minha filha e a minha mulher, que está sempre torcendo e me apoiando e segurando a barra em Goiânia, porque não é fácil ter uma criança e não ter o pai por perto."
“Minha filha, quando fiz o gol e mostrou na televisão lá (em Goiânia), minha namorada mandou um vídeo dela apontando para a TV e falando ‘Papai, papai, que gol’. E quando eu vi, me emocionei. Estou me organizando para elas virem para cá, porque querendo ou não ajuda bastante estando perto, a cabeça fica tranquila até para jogar.”
“Eu me inspiro no Grafite, porque quando estava em Goiânia ele jogou em Goiás e eu acompanhei ele desde pequeno. Depois ele veio para o Santa e fez história aqui também. É um centroavante que faz gol. É a minha característica aqui também, apesar de jogar de lado, mas estou aprimorando a cada dia. Quando cheguei no Santa Cruz, eu fui pesquisar porque eu sabia que ele era ídolo mas não tinha acompanhado a história dele aqui. Olhei os gols, o posicionamento dele, para melhorar também no meu posicionamento no dia a dia, e isso me inspira."
“Meu maior sonho é fazer história. Primeiramente agradeço a Deus pela oportunidade e ao treinador. É trabalhar cada vez mais forte, cada vez mais evoluir e ajudar a equipe, com gols e assistências. Poder entrar para a história, que vai ser maravilhoso. Ganhar títulos, que é importante demais para a carreira de qualquer atleta e dar alegrias à torcida do Santa Cruz, que é bastante apaixonada."