ARRUDA

Análise - O Santa, a cruz e o milagre

A vitória sobre o Volta Redonda deixou o Tricolor vivo na luta contra o rebaixamento, mas não apaga a campanha ruim que o time faz na temporada

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Marcelo Cavalcante

Publicado em 31/08/2021 às 13:18
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A maioria de quem está lendo esse texto não lembra de quando o Santa Cruz metia medo nos grandes clubes do Brasil quando jogava no Arruda. Era década de 70. Faz tempo, hein? Esse era o verdadeiro tricolor que, ontem, comemorou como se fosse um título, a vitória sobre o Volta Redonda, por 2x1, pela Série C, cinco meses depois de um jejum sem triunfos no seu estádio. Sim, essa é a realidade do clube coral, que nos últimos anos carrega uma cruz pesada do coitadismo, onde se escuta os mais variados estigmas, entre eles o que já se tornou verdade: "o Santa Cruz é um clube pobre, não tem dinheiro e tudo é sofrido". É aceitando o sofrimento como realidade que a alegria se tornou momentos raros. E assim segue o clube coral.

A vitória sobre o Volta Redonda não tira o Santa Cruz da lanterna do Grupo A da Série C. E nem apaga a campanha vergonhosa que o clube descreve na temporada. Não ser rebaixado à Série D continua sendo um milagre do qual eu não acredito que aconteça. Mas, a noite da segunda-feira trouxe uma história diferente dos últimos jogos: o time contou com a sorte no Pipico, criou chances de gols e não se abateu quando sofreu o gol de empate do adversário. Na raça, foi buscar a vitória. Gostei da determinação, da luta, da fé que move montanhas e também as redes do adversário. E faz ecoar a canção titânica que Roberto Fernandes gosta de cantarolar: "O pulso ainda pulsa". Arnaldo Antunes agradece.

Se puxarmos pelo memoria, a história do Santa Cruz é repleta de milagres. Em 1983, o time coral, comandado pelo saudoso Carlos Alberto Silva, era repleto de jovens. Ganhou a última fase do terceiro turno quando ninguém mais acreditava. E acabou conquistando o título estadual. Em 1998, contra o mesmo Volta Redonda, o Santa Cruz venceu por 3x2, com gol do zagueiro Ral jogando de atacante. O Tricolor escapou do rebaixamento à Série C. Em 1999, o Tricolor sofreu uma goleada para o América-MG, por 5x1, no Arruda, e a diretoria anunciou a dispensa de vários jogadores. O elenco se fortaleceu e conseguiu o acesso à Série A do Campeonato Brasileiro. Em 2011, começou a temporada sem divisão. Jogando naquela filosofia de "uma bola", chegou às finais e superou o Sport. E aí, dá para acreditar que mais um milagre vai acontecer em 2021? Os tricolores precisam dessa fé. Roberto Fernandes tem outra decisão contra o Paysandu, na próxima rodada. E abre os olhos dos pessimistas para uma realidade positiva: o Santa Cruz está otimista há quatro rodadas: duas vitórias e dois empates.

Mas independente do resultado final, quem faz o clube precisa aprender uma lição: a cruz do Santa Cruz tem sido o próprio Santa Cruz. E não é de hoje. A última eleição do clube foi o exemplo mais real que se possa ter. Eu acredito muito que uma crise mostra as mazelas. No entanto, para enxergá-las, é preciso frieza e inquietude. Não se iludir com o feito de permanecer na Série C, que terá um sentimento de alívio do que uma conquista. Sonhe, arruma a casa, implante uma filosofia, define as etapas e siga em frente. Unam-se com quem de fato quer o bem para o clube. E não com quem apenas pensa em se manter no Arruda. Desse jeito, a possibilidade do pulso pulsar sempre é ainda maior.

 

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