PATRIMÔNIO

"Indiana Jones do mundo da arte" devolve valiosa estátua romana à museu da França; entenda

A rara escultura romana fundida em bronze é considerada um dos maiores tesouros da França e foi recuperada meio século após o roubo

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AFP

Publicado em 02/02/2022 às 12:10
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Um detetive holandês, especialista em recuperar obras de arte roubadas, devolveu uma rara escultura romana fundida em bronze - considerada um dos maiores tesouros da França - ao museu de onde foi roubada há quase meio século.

Arthur Brand, apelidado de "o Indiana Jones do mundo da arte", devolveu em Amsterdã a escultura de bronze do deus Baco (ou Dionísio) do século I à diretora do Museu do 'Pays Châtillonnais' (no leste da França).

 

Em uma tarde de dezembro de 1973, ladrões quebraram uma janela do museu e roubaram a escultura de apenas 40 cm de altura, que representa o deus do vinho. "Os criminosos também levaram outras antiguidades e cerca de 5.000 moedas, todas de origem romana, mas a mais importante foi a estátua de bronze de Baco quando criança", disse Brand à AFP.

"A perda para o museu e sua comunidade foi enorme. Uma de suas peças antigas mais valiosas tinha sido roubada. Como naquela época não havia um catálogo adequado de obras de arte roubadas, a escultura desapareceu no submundo (do crime) e acreditava-se que estava perdida para sempre", acrescenta.

A diretora do museu na França, famoso por sua coleção de peças romanas de um sítio arqueológico perto de 'Vertillum', vilarejo galo-romano onde as escavações começaram em 1846, disse estar muito emocionada. "Quando a vi, na mala, percebi o quanto era mais bonita do que a cópia que tínhamos", declarou Catherine Monnet à AFP.

A história da estátua ressurgiu por acaso há alguns anos, quando um cliente austríaco contactou Brand, que há algum tempo recuperou um Picasso e os chamados "Cavalos de Hitler", uma escultura de bronze em tamanho natural que adornava o exterior do chancelaria em Berlim, quando o ditador a ocupou.

O austríaco pediu que ele investigasse uma estátua de uma criança que ele havia comprado legalmente no mercado de arte. Não encontrando nenhuma referência, Arthur Brand inferiu que podia ter sido roubada. "A caça foi aberta" para descobrir sua origem, explica.

Após meses de investigação, a pista veio de uma foto de uma revista arqueológica de 1927: a estátua representa Baco quando criança e pertencia a um museu francês. Mais tarde, um relatório oficial da polícia - do qual a AFP obteve uma cópia - revelaria que a escultura havia sido roubada em 19 de dezembro de 1973. Surpreso ao saber, o austríaco exigiu que ela fosse devolvida ao museu.

"De acordo com a lei francesa, ele recebeu uma pequena quantia em dinheiro, apenas uma parte do valor da estátua, que pode chegar a milhões de euros, por sua 'custódia'", explica Brand.

Dois colecionadores de arte britânicos, Brett e Aaron Hammond, aportaram metade do dinheiro, e a cidade de Châtillon-sur-Seine, a outra - o total não foi revelado. "Depois de 50 anos, é muito raro que um objeto roubado reapareça. Principalmente por ser tão importante", diz Brand.

"É uma estátua muito, muito importante da mais alta qualidade", comemora Monnet. A escultura havia sido descoberta por arqueólogos em 1894 no sítio de Vertillum, declarado monumento histórico vinte anos antes.

Quanto a Brand, o museu garantiu sua entrada gratuita vitalícia.

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