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Coronavírus: ‘Contagiante mesmo deve ser nosso cuidado pelo outro’ neste Dia da Felicidade

Neste Dia da Felicidade, o JC te lembra a importância da solidariedade e em conservar sua saúde mental em tempos de isolamento causado pelo novo coronavírus

JC
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Publicado em 20/03/2020 às 7:02 | Atualizado em 20/03/2020 às 8:31
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'Importante hoje mantermos a distância dos corpos e a proximidade dos corações' - FOTO: PIXABAY

Neste Dia da Felicidade (20 de março), o JC convidou Bruno Severo Gomes, doutor em medicina, psicanalista e professor da disciplina ‘Felicidade’, lecionada na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), para dar dicas de como enfrentar o isolamento e a quarentena provocados pela pandemia do novo coronavírus sem perder a alegria e a saúde emocional.

» A Felicidade nos tempos do coronavírus

Bruno Severo Gomes

Há pouco mais de três semanas, o coronavírus chegou ao Brasil. De lá para cá, tivemos casos confirmados pelo país, universidades e escolas, privadas e públicas, já cancelaram as aulas, empresas estão liberando o trabalho em casa, shows, apresentações culturais, eventos adiados, TVs mudando a programação, igrejas suspendendo missas, reuniões e cultos para evitar que as pessoas saiam de casa.

Antes de tudo, precisamos que cada um faça a sua parte seguindo as recomendações do Ministério da Saúde, tão faladas e comentadas, como evitar aglomerações, lavar bem as mãos com água e sabão e, quando não for possível, utilizar o álcool gel para a higienização. Uso de máscaras apenas quando na presença de sintomas como tosse, espirros ou dificuldade de respirar, para evitar o contágio a pessoas próximas.

O estresse nesse período de quarentena em casa pode promover medo e preocupação com nossa saúde e com a saúde de nossos familiares e amigos, mudança no período e qualidade do sono, ingestão alimentar, capacidade de concentração, agravamento de doenças crônicas, aumento do consumo de álcool, tabaco e outras drogas.

A modificação de uma rotina, claro que tem impacto em nossas vidas. Não ir trabalhar, ou não poder fazer as atividades diárias, como ir para academia, frequentar teatro, escola, igreja, ir para a universidade, pode trazer repercussão em nossa saúde emocional. É muito importante entender que, ao contrário de outros cenários de pandemia, nessa não temos medicamento específico contra o vírus, nem vacina. Logo, o único método que pode mudar o curso da pandemia é o isolamento social.

Somos seres essencialmente afetivos e sociais, e neste momento de quarentena, precisamos ressignificar o nosso espaço, nossos hábitos e nossa forma de ver a realidade
Bruno Severo

Somos seres essencialmente afetivos e sociais, e neste momento de quarentena, precisamos ressignificar o nosso espaço, nossos hábitos e nossa forma de ver a realidade. Os seres humanos são animais sociais, onde ligar-se à uma sociedade nos oferece uma vantagem evolucionária num mundo repleto de ameaças. Quando nos relacionamos e sentimos afeto, carinho, compaixão e sentimentos de proximidade e de companheirismo, ocorre a liberação de hormônios como oxitocina, dopamina e endorfina, que induzem o relaxamento e geram sensações de prazer.

Vivemos um momento não apenas de pandemia, mas de “Infodemia”, termo que podemos representar a epidemia de informações muitas vezes falsas que podem abalar quem as recebe. O que fazer, por exemplo, quando estamos ligados no Twitter, no Facebook e nos grupos de Whatsapp e as notificações só tem um único tema: coronavírus? O constante estresse causado por esse momento pode provocar; além de casos de ansiedade e depressão, já causadas pelo isolamento social.

Então devemos tentar filtrar as informações, notícias falsas e rumores que podem promover a ansiedade. Devemos procurar informações por meio de fontes confiáveis e não acreditar em tudo que nos chega pelo celular, por exemplo.

Devemos também promover as nossas emoções positivas, aproveitar o lado bom das coisas. Uma dica muito boa é criar um ritual de autocuidado, como fazer atividades que você gosta de fazer e faz bem, a partir daí você tem um ponto forte para potencializar as emoções positivas. Leia livros, escute música, veja filmes, faça atividades manuais como artesanato e pintura, organize sua casa, aprenda receitas novas, entre outras atividades.

Ressignifique os momentos

Para quem estiver trabalhando em casa, tente fazer um planejamento de horários, pausas e refeições. Ressignifique o momento presente, pois nesse período em casa, você não gastará tempo de deslocamento ou enfrentará engarrafamento para ir trabalhar, oportunidade para viver um ritmo de vida diferente, que pode, entre outras coisas, promover o autoconhecimento e colocar as coisas em dia.

Procure ter momentos do dia para interagir com sua família, brinque com seus filhos, com seu cachorro, façam as refeições juntos, falem de planos para o futuro, cuide das plantas, ligue ou envie mensagem para familiares e amigos que estão distantes. Compartilhem seus sentimentos e emoções positivas. Se você não estiver trabalhando ou estudando, procure fazer atividades que lhe agrade. É um bom momento também, se você não morar sozinho, de se reconectar com as pessoas que já moram com você.

A ansiedade é o que muitas pessoas estão sentindo diante do isolamento social, onde temos um excesso de pensamentos ligados ao futuro e às angústias por conta da incerteza do que está por vir traz. A incerteza em relação ao que vai acontecer no mundo e mudança da rotina devido ao coronavírus faz com que essa insegurança aumente ainda mais.

Desacelere

Atrelado a isso, o Brasil já é o país mais ansioso do mundo, onde 9,3% da população (18,6 milhões de brasileiros) sofre do transtorno, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Uma pessoa com ansiedade apresenta a respiração ofegante, os batimentos cardíacos acelerados e com o pensamento de que algo ruim irá acontecer.

Para evitar a preocupação constante com o coronavírus, é preciso manter a mente ocupada, principalmente neste cenário de quarentena. Esse movimento nos faz desacelerar do modo de vida atual, nos faz pensar na comunidade e entender que fazemos parte de um todo que precisa estar unido. Manter a saúde mental em dia e controlar a ansiedade é crucial para enfrentarmos esse momento da melhor maneira.

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Como diminuir a ansiedade?

Por isso, o primeiro passo é ouvir a pessoa. Julgue menos e acolha mais. O segundo é lembrá-lo de que o importante é se atentar ao que pode ser feito naquele momento, já que não temos controle do futuro e, sim, do presente. Terceiro, procure ajudá-la a respirar pausadamente e de forma lenta a fim de desacelerar os batimentos cardíacos alterados.. Quando estamos com ansiedade, temos a tendência de respirar de forma mais ofegante e não conseguir, de fato, pensar, pois a respiração oxigena o cérebro.

Mas nem tudo é pânico, o sentimento mais comum em momentos pandêmicos é o de solidariedade. A colaboração da sociedade como um todo é essencial para a redução dos danos. Muitas pessoas em uma verdadeira rede de solidariedade estão utilizando as redes sociais oferecendo atividades, cursos diversos, recreação, contação de histórias, atividades físicas, yoga e meditação à distância.

A quarentena veio nos lembrar que o ser humano é um ser social. Voltamos a nos preocupar mais uns com os outros. Não basta mais apenas eu estar bem, o outro também deve estar bem
Bruno Severo

A pandemia nos relembra a importância que somos seres biopsicossociais. Que o planeta é o mesmo para todo mundo e por isso precisa ser cuidado. Vivemos em tempos de muita velocidade, consumo e virtualidade, o que promove muitas vezes o isolamento social, a falta de capacidade de pensar no outro, na família, nos amigos, na comunidade à nossa volta, no bairro, no país, no planeta. A quarentena veio nos lembrar que o ser humano é um ser social. Voltamos a nos preocupar mais uns com os outros. Não basta mais apenas eu estar bem, o outro também deve estar bem.

É preciso mesmo ter atenção com a saúde física, alongue-se, faça refeições saudáveis e equilibradas, reze, faça preces, ore, medite.

A meditação ativa o sistema nervoso parassimpático, diminuindo o nível de cortisol que está ligado ao estresse, regula a respiração, frequência cardíaca, aumenta o fluxo de sangue ao cérebro, aumenta a atividade no córtex pré-frontal (o que é observado nas pessoas mais felizes), fortalece o sistema imunológico e leva a um estado de bem estar.

As crianças não devem ser esquecidas. Além das boas práticas recomendadas para todos, é importante encontrar formas positivas de expressão de sentimentos como o medo ou a tristeza. Atividades criativas e lúdicas como desenhar ou jogos podem facilitar a comunicação entre pais e filhos e criar um ambiente seguro.

Se possível, fique em casa!

Sabemos que é bem difícil ficar sem abraçar, apertar as mãos, e demonstrar afeto. Mas o amor que podemos demonstrar neste momento é ficar em casa. Por amor não abraçamos, por amor evitamos aglomerações, por amor mudamos nossa rotina. Neste momento a nossa felicidade é fazer o bem ao nosso semelhante, evitando contato social.

Contagiante mesmo deve ser nosso cuidado pelo outro. Vamos fazer nossa parte. Juntos, somos mais fortes que um vírus
Bruno Severo

É difícil para mim também, um grande incentivador do aperto de mão, do abraço, da afetividade, e neste momento, de forma temporária, promover o não abraço, o não aperto de mãos. Como Microbiologista, acredito muito no contágio, é claro, mas, hoje, contagiante mesmo deve ser nosso cuidado pelo outro. Vamos fazer nossa parte. Juntos, somos mais fortes que um vírus.

Chegará um momento, sim, que retornaremos a fazer tudo como de costume, mas no momento vivemos a empatia e a compaixão.

Mesmo assim, mantemos esperança de superação e poderemos sair muito mais maduros, solidários, e mais humanos.

Promova a gratidão e a solidariedade

Aproveite esse momento para promover a gratidão. A cada noite antes de dormir, escreva pelo menos cinco coisas que o fizeram ou o fazem feliz, coisas pelas quais você é grato. Podem ser coisas simples mesmo, como ter o que comer, pois a felicidade é simples. Enquanto escreve, desfrute os sentimentos associados. No momento, com o que estamos vivendo, ajudar os outros também nos faz bem. Em vários prédios, pessoas estão se colocando à disposição para ajudar idosos, com compras de medicamentos e de supermercado para que eles não precisem ir para a rua.

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Isso mostra que uma das mais belas compensações da vida é que ninguém pode sinceramente tentar ajudar outra pessoa sem ajudar a si mesmo. Ajudar a si mesmo e ajudar os outros são ações entrançadas, pois quanto mais ajudamos os outros, mais felizes nos tornamos, e quanto mais felizes nos tornamos, mais vontade temos de ajudar os outros, isso é verdadeiramente contagiante.

Contribuir para a felicidade dos outros nos proporciona significado e prazer, e é por isso que ajudar os outros é um dos principais componentes de uma vida feliz
Bruno Severo

Contribuir para a felicidade dos outros nos proporciona significado e prazer, e é por isso que ajudar os outros é um dos principais componentes de uma vida feliz. Imagine a felicidade dos profissionais de saúde, com dedicação quase total, muitas vezes trabalhando nos bastidores e no silêncio desta pandemia. Não podemos esquecer-nos destes amigos, que fazem do seu servir uma grande e verdadeira definição de empatia e compaixão.

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A empatia é a capacidade de sentir a dor, ou a alegria de outra pessoa. Uma das melhores maneiras de desenvolver empatia é buscar oportunidades de oferecer amor, compreensão e compaixão. Oferecer algo sem conhecer a outra pessoa pode ser ainda mais gratificante. Esse modo de dar significa não esperar nada em troca, é o verdadeiro significado de altruísmo. Oferecer de coração nos conecta com a espécie humana, expande e preenche aquele você em você (o que alguns chamam de alma) e aumenta os níveis de serotonina.

É importante hoje mantermos a distância dos corpos e a proximidade dos corações

Vamos aguardar essa “tempestade” passar e voltaremos à nossa programação normal, com abraços arrochados, beijos sem mungangas, juntando mão com mão, na ciranda da vida! É importante hoje mantermos a distância dos corpos e a proximidade dos corações. Que cada um hoje possa tocar na alma do outro, com suas preces, orações, emoções positivas, ações de solidariedade, compaixão e promoção do bem.

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Somos seres essencialmente afetivos e sociais, e neste momento de quarentena, precisamos ressignificar o nosso espaço, nossos hábitos e nossa forma de ver a realidade

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A quarentena veio nos lembrar que o ser humano é um ser social. Voltamos a nos preocupar mais uns com os outros. Não basta mais apenas eu estar bem, o outro também deve estar bem

Bruno Severo
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Contagiante mesmo deve ser nosso cuidado pelo outro. Vamos fazer nossa parte. Juntos, somos mais fortes que um vírus

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Contribuir para a felicidade dos outros nos proporciona significado e prazer, e é por isso que ajudar os outros é um dos principais componentes de uma vida feliz

Bruno Severo

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