O sistema imunológico é responsável por proteger o corpo humano de doenças, ativando células, desenvolvendo anticorpos e combatendo microorganismos estranhos. Portanto, entender de que forma o sistema imune reage em relação à covid-19 é essencial para saber quais tipos de tratamentos e que abordagens de vacina são os ideais.
Pensando nisso, pesquisadores do Instituto de Imunologia de La Jolla, na Califórnia (EUA), perceberam uma imunidade cruzada em resposta ao Sars-Cov-2. Eles observaram que indivíduos não expostos ao novo coronavírus apresentavam linfócitos T (células do sistema imunológico) que reconheciam algumas estruturas do Sars-Cov-2, provavelmente porque já haviam entrado em contato com outros coronavírus, que causam resfriados mais leves. Outro estudo identificou algo parecido, mas com a atuação de anticorpos.
A imunologista Juliana Ueda, professora do curso de Farmácia da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que isso ocorre porque o Sars-Cov-2 tem estruturas semelhantes aos de outros coronavírus. Quando o sistema imune se depara com essas estruturas, ele tem a impressão de estar na frente do outro vírus já combatido. Por isso, ele ativa os linfócitos T já desenvolvidos na infecção passada.
“O vírus é uma estrutura bastante complexa. Ele tem várias moléculas [antígenos], mas não é contra todas que se desenvolve uma resposta imune. A gente reconhece só alguns pedacinhos [do vírus]”, comenta a especialista. Dessa forma, o objetivo da pesquisa do Instituto de Imunologia de La Jolla foi identificar para quais estruturas do vírus o corpo desenvolveu uma resposta imunológica. O artigo foi publicado em maio na revista científica Cell.
Descoberta é essencial para desenvolvimento de vacinas e tratamentos
As pesquisas identificaram que o corpo humano tem produzido anticorpos específicos para combater a proteína Spike, responsável por ajudar o vírus a invadir a célula humana. Ela se encontra nos espinhos do coronavírus, na parte externa do organismo.
“A proteína Spike é um ótimo alvo [para vacinas]. Uma outra coisa interessante é que entre todos os coronavírus, ela se mantém mais conservada, ela não muda muito”, afirma Juliana. “Imagina, eu pego uma infecção por coronavírus A. Quando eu entrar em contato com o novo coronavírus [Sars-Cov-2], essa proteína Spike é muito semelhante, acionando toda aquela resposta imune”, ilustra.
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Com a descoberta da imunidade cruzada para o Sars-Cov-2, alguns especialistas lamentaram a descontinuação de pesquisas para o desenvolvimento de vacinas contra o Sars-Cov, coronavírus que surgiu na China em 2002 e desde 2004 não registra transmissões. Na época em que estava sendo desenvolvida, o cenário epidemiológico reduziu, impossibilitando testes conclusivos.
Questionamentos remanescentes
No meio de tantas produções científicas do campo da Imunologia, a pesquisa estadunidense foi pioneira ao enfocar na imunidade cruzada, analisa a imunologista Juliana Ueda. “Essa é uma doença que tem ataque imunológico extremamente importante, porque desenvolve uma inflamação exacerbada. Então eu preciso entender quais são os fatores para isso? Como eu paro essa inflamação? Quais células fazem parte desse processo?”, explica.
A imunologista aponta que ainda há muito a se entender sobre a doença: Por que algumas pessoas não desenvolvem os sintomas ou os desenvolvem, mas brandamente? Será que em algum momento elas já foram contaminadas com outros coronavírus? Por quê crianças aparentemente parecem estar mais protegidas?
Para encontrar respostas para essas e outras perguntas, a comunidade científica do mundo inteiro está mobilizada em pesquisas voltadas para a covid-19. Como um enorme quebra-cabeças, os resultados são compartilhados internacionalmente e dão insights para novas pesquisas e desenvolvimento de estratégias de combate ao novo coronavírus.
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