Pazuello

Ministro militar, que não tem futuro político ou científico para hipotecar, torna-se risco à Saúde

José Serra (PSDB) tinha uma carreira política em risco caso tudo desse errado. Mandetta (DEM) além de histórico político é médico. Com Nelson Teich acontecia o mesmo. Já Pazuello só arrisca a carreira se não obedecer ao chefe.

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 09/06/2020 às 11:23 | Atualizado em 09/06/2020 às 11:31
Foto: Arquivo/Marcello Casal Jr./ABr
Esplanada, em Brasília - FOTO: Foto: Arquivo/Marcello Casal Jr./ABr

Há quem acredite ser uma bobagem ter alguém da área médica chefiando o Ministério da Saúde. Do ponto de vista técnico, é verdade. Mas, atualmente isso ficou um pouco mais complicado.

José Serra (PSDB), um dos melhores ministros da Saúde de que se tem notícia, é formado em Economia. Ser da área ajuda, mas não é primordial. O cargo é político e basta ter auxiliares competentes para tocar a área técnica. Essa é a receita que faz dar certo.

O problema para o atual momento do ministério não é o fato de o ministro Pazuello não entender bulhufas de Saúde, o problema é ele ser militar. Esqueça também o discurso assustado de ditadura militar, não se trata disso. Trata-se de ele não ter uma carreira na área científica nem política para hipotecar. Explico:

José Serra não era médico, mas vinha da academia, foi professor universitário e tinha uma carreira política em risco caso tudo desse errado. Ele não aceitaria uma sugestão negacionista que arriscasse a imagem da sua gestão, porque queria ser candidato a presidente ou senador num futuro, como foi.

Luís Henrique Mandetta (DEM) além de histórico político é médico. Em determinado ponto, por mais que tentasse equacionar as coisas internamente, precisou ficar ao lado da ciência para não comprometer a própria carreira.

Com Nelson Teich aconteceu o mesmo. Ele foi até um limite e, dali em diante, precisou sair, porque tinha uma carreira médica que seria comprometida pelo negacionismo de Jair Bolsonaro (sem partido).

Ninguém quis arriscar sua própria carreira, hipotecada em nome das vontades do chefe.

E a sociedade ganhou com isso em transparência e segurança.

Com Eduardo Pazuello é diferente. Ele é militar. Enquanto médicos e acadêmicos aprendem a observar e obedecer a processos científicos, militares aprendem a observar e reverenciar a hierarquia. A natureza do militar é obedecer aos seus superiores hierárquicos.

O superior de Pazuello é Bolsonaro. O ministro interino paga tranquilamente a hipoteca de sua carreira obedecendo aos desejos do bolsonarismo, porque cumpre a hierarquia. E isso é perigoso para a população.

Como saber quando ele está tomando uma decisão correta e se a motivação é a consciência pessoal ou a obediência cega?

E, pra completar a trama, vários técnicos do Ministério da Saúde foram substituídos por militares que também não têm experiência na área.

Não tem como dar certo. E já não está dando. A tentativa de maquiar números é prova disso.

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