Considerando pela primeira vez o uso da vacina chinesa Coronovac, o ministro da Saúde,
Eduardo Pazuello, estimou ontem que o governo deve começar a imunização contra a covid-19 no País em "meados de fevereiro". A nova previsão, que depende do registro e da compra dos imunizantes, foi anunciada em entrevista após o lançamento do plano nacional de imunização, em evento no Palácio do Planalto que marcou mudança de tom do presidente
Jair Bolsonaro sobre o tema.
Após meses de embate com governadores sobre o enfrentamento da pandemia, Bolsonaro pregou "união" com autoridades estaduais pelo "bem comum" e minimizou "exageros" ocorridos. O governo tem sido pressionado a apresentar soluções, após Reino Unido e Estados Unidos começarem a vacinar. Por outro lado, o Brasil assiste a uma escalada de mortes - ontem, pela segunda vez consecutiva, o País superou 900 registros em 24 horas, segundo dados do consórcio de imprensa coletados com as secretarias de saúde.
A gestão Helder Barbalho (MDB), do Pará, disse que técnicos do ministério afirmaram, em reunião com governadores, que a pasta prevê fechar esta semana contrato com o Butantã para comprar 45 milhões de doses. Segundo o governo paraense, a previsão informada pelo Butantã seria de 20 milhões de doses até 30 de janeiro. O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), também citou que o ministério de doses disponíveis já no mês que vem.
Em nota, o Butantã disse que enviou proposta ao ministério para fornecer doses em janeiro, sem falar em datas ou quantidade.
Caso a União confirme a compra, prossegue o instituto, o envio do produto ocorrerá tão logo haja registro da Anvisa. Indagado sobre as falas dos governadores, o ministério voltou a dizer que "não há data definida para início da vacinação" e afirmou que o calendário depende de registro na Anvisa.
Para começar em fevereiro, Pazuello disse na entrevista coletiva que Butantã e Fiocruz devem entregar dados finais dos testes clínicos à agência ainda em dezembro. "Aí teremos janeiro para a análise da Anvisa e possivelmente em meados de fevereiro para frente estejamos com essas vacinas." A Fiocruz, vai produzir doses do imunizante da Universidade de Oxford e do laboratório AstraZeneca.
Mas os cientistas responsáveis pela vacina de Oxford já reconheceram erros nos testes e a necessidade de ampliar ensaios clínicos para medir a eficácia, o que deve atrasar o registro. Já o Butantã trabalha para o registro da Coronavac e diz que os dados finais chegam à Anvisa no dia 23.
Outro discurso
O evento teve a presença de governadores da oposição, como os petistas Wellington Dias e Camilo Santana, do Ceará, e Fátima Bezerra, do Rio Grande do Norte. Doria não foi. "Se algum de nós extrapolou, ou exagerou, foi no afã de buscar solução", afirmou o presidente. Em declarações anteriores, ele preferiu o confronto. Em outubro, chamou a Coronavac de "vacina chinesa de João Doria" e disse que não compraria o imunizante. No mês seguinte, comemorou quando os estudos foram interrompidos.
A mudança de tom ocorre após queda da avaliação positiva de Bolsonaro, de 40%, em setembro, para 35%, segundo dados do Ibope. O presidente da Câmara,
Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse ao Estadão semana passada que a demora para iniciar a vacinação é o "maior erro político" do presidente e pode afetar o projeto de reeleição. A pressão contra o governo aumentou após Doria prever o início da campanha de vacinação em São Paulo em 25 de janeiro.
Na nova versão do plano, a pasta afirma já negociar cerca de 350 milhões de doses para 2021, o suficiente para imunizar 175 milhões de pessoas no País. Além dos acordos já mencionados na versão anterior do plano, que incluíam as vacinas de Oxford/ (210 milhões), consórcio Covax Facility (42,5 milhões) e Pfizer (70 milhões), o ministério adicionou ao planejamento 38 milhões de doses do imunizante da farmacêutica Janssen, também testado no Brasil. Conforme o governo, 3 milhões de doses dessa vacina seriam ofertadas no 2º trimestre de 2021; 8 milhões, no 3º trimestre; e 27 milhões, no 4º trimestre.
Seringas. Paulo Henrique Fraccaro, superintendente da Associação Brasileira de Artigos e Equipamentos Médicos e Odontológicos, garantiu que não faltará seringa. Com pregão para a compra marcado para o dia 29, afirmou que haverá tempo para que as 330 milhões de seringas que o governo quer comprar sejam entregues de modo escalonado. "Não dá para ser entrega única, mas o momento é positivo. Há três semanas não tínhamos ideia de quando seria o pregão."
Todas as empresas brasileiras produtoras do material, diz, são capazes de entregar volumes mensais de 10 a 20 milhões. á ainda importadoras devidamente regulamentadas atuando no País.