Pandemia

'Índia deu prioridade ao Brasil nas vacinas', diz cônsul-geral

Os indianos enviaram ao Brasil o primeiro lote de 2 milhões de doses produzidas pelo Instituto Serum, o maior fabricante de vacinas do mundo

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Estadão Conteúdo

Publicado em 29/01/2021 às 13:46 | Atualizado em 29/01/2021 às 13:47
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Maior produtor de vacinas do planeta, a Índia priorizou o Brasil para o fornecimento de vacinas contra a covid-19, afirmou o cônsul-geral do país em São Paulo, Amit Kumar Mishra. Logo após ter distribuído doses de maneira assistencial a 9 países vizinhos, como uma forma de proteger as próprias fronteiras e expandir sua presença no Sudeste Asiático, os indianos enviaram ao Brasil o primeiro lote de 2 milhões de doses produzidas pelo Instituto Serum, o maior fabricante de vacinas do mundo.
Apesar disso, a Índia frustrou os planos do Brasil ao não ter liberado as doses com antecedência - a expectativa do governo brasileiro era receber a vacina Oxford-AstraZeneca no dia 17. Na ocasião, o país asiático alegou "problemas logísticos" para liberar as doses, pois a vacinação na Índia começou no dia 16. Outros lotes estão em negociação e devem chegar em fevereiro.
Com capacidade para desenvolver 8,2 bilhões de doses de diferentes vacinas em um ano e responsável por 60% da produção mundial, a Índia continuará fornecendo vacinas contra a covid-19 a outros países de maneira gradual. "Este fornecimento será calibrado de acordo com as necessidades domésticas e a demanda e obrigações internacionais", disse o cônsul da Índia, país de 1,4 bilhão de habitantes.

O Brasil recebeu 2 milhões de doses da vacina da Índia na semana passada. Qual o significado dessa parceria comercial para as relações bilaterais?

O Brasil é o primeiro país para o qual o governo da Índia autorizou a exportação de vacinas AstraZeneca/Oxford, produzidas no Serum Institute, contra o coronavírus (após as doações a países vizinhos). A prioridade atribuída ao fornecimento de vacinas ao Brasil reflete nossas fortes relações e cooperação estreita na área de saúde. A Índia está com o Brasil na luta contra a pandemia covid-19. As empresas indianas também estão em conversas com o Brasil para suprimentos adicionais de vacinas contra o coronavírus.

Além de Brasil e Marrocos, com quais países a Índia já assinou acordos? E com quem está fazendo negociações?

O governo da Índia recebeu vários pedidos de países vizinhos e parceiros importantes. Os suprimentos de vacinas em andamento são parte da iniciativa "VaccineMaitri" (palavra em hindi que significa amizade), sob a qual mais de 5 milhões de doses da vacina foram fornecidas como assistência a Butão, Bangladesh, Nepal, Mianmar, Maurício, Maldivas e Seychelles. Outros países como Sri Lanka, Afeganistão e Jamaica também devem receber vacinas como assistência. Além disso, 9 milhões de doses da vacina foram entregues a Brasil, Marrocos e Bangladesh em vendas comerciais. Vários países abordaram a Índia para a compra de vacinas. Suprimentos comerciais serão enviados para Arábia Saudita, África do Sul, Mianmar e Sri Lanka nos próximos dias.

Que ganhos a Índia busca com esta 'diplomacia de vacinas', especialmente com foco nas doações a vizinhos como Mianmar, Bangladesh e Butão?

O fornecimento de vacina a países em todo o mundo reflete os valores indianos de Vasudhaiv Kutumbakam (em hindi, 'o mundo é uma família'). O foco nos países vizinhos é natural dada nossa cooperação na luta contra a pandemia (a Índia tem fronteiras com Nepal, Butão e Bangladesh).

Qual é hoje a capacidade de produção de vacinas da Índia?

A Índia é um dos maiores produtores mundiais de vacinas, com participação de 60% da produção global. A Organização Mundial da Saúde fornece 70% de suas vacinas de imunização essenciais da Índia. As empresas indianas fornecem 1,5 bilhão de doses anualmente para mais de 150 países. Os principais fabricantes indianos de vacinas têm capacidade para fabricar 8,2 bilhões de doses de diferentes vacinas em um ano. O Serum Institute é o maior fabricante de vacinas do mundo em doses produzidas e vendidas globalmente.

Como está a reação do público na Índia, já que o país não tem vacinas para toda a população, mas está exportando?

Em 16 de janeiro, o primeiro-ministro lançou a vacinação contra a covid-19 na Índia, a maior campanha do mundo. Dos 30 milhões de trabalhadores da linha de frente a serem atendidos na primeira fase, cerca de 23 milhões já foram vacinados. A próxima fase incluirá a vacinação de 300 milhões de pessoas. O governo da Índia está garantindo que os fabricantes nacionais terão estoques adequados para atender às necessidades internas enquanto fornecem no exterior.

A Covaxin poderá ser exportada até o final de 2021?

Há seis vacinas candidatas, incluindo três produzidas localmente em estágios clínicos de desenvolvimento. Outras três estão em estágio pré-clínico avançado de desenvolvimento. Em 2 de janeiro, duas vacinas Covishield (Oxford-AstraZeneca-Serum Institute) e a Covaxin (do Bharat Biotech International) receberam autorização para uso emergencial. Os testes da fase 3 (decisiva) para a Covaxin estão em andamento e ela deve estar disponível para exportação em breve. A Bharat Biotech também fechou contrato com a empresa brasileira Precisa Medicamentos para o fornecimento de 12 milhões de doses de Covaxin. Então, podemos esperar o fornecimento para o Brasil e outros países após a conclusão dos ensaios clínicos e aprovações regulatórias necessárias.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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