"Conversava pouco, não tinha amigos"; saiba quem é o autor do atentado que matou crianças e professoras em creche de Santa Catarina
Com ficha criminal limpa, o suspeito cursava o terceiro ano do ensino médio em uma escola estadual e tinha acabado de completar 18 anos
Com informações da Folha de S. Paulo e do Estadão
Fabiano Kipper Mai é o nome do homem suspeito de matar duas professoras e três crianças em uma creche localizada no município de Saudades, Oeste de Santa Catarina (SC). O rapaz, de 18 anos, tentou cortar o próprio pescoço após protagonizar o atentado, e, por isso, segue internado na UTI em estado grave. Sem previsão de alta, o suspeito não prestou depoimento à polícia até o momento.
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"Um menino fechado, conversava pouco, não tinha amigos, e se trancava no quarto com os jogos de tiros e violência". Esta foi a descrição que o advogado Kleber dos Passos Jardim, nomeado pela Justiça de Santa Catarina para atuar na defesa de Kipper Mai, fez dele. Kleber é do norte catarinense e foi escolhido para caso após todos os advogados indicados da região negarem representar a defesa do autor do atentado. O jurista concedeu entrevista à Folha de São Paulo, na qual contou detalhes da personalidade do rapaz, todas de acordo com informações cedidas por familiares do suspeito.
A descrição feita por Kleber dos Passos coincide com o que foi dito para o delegado responsável pelo caso, Jerônimo Ferreira, em depoimentos. "Ele era muito introspectivo. Dormia na mesma cama que o pai, porque tinha medo de dormir sozinho, e judiava dos bichinhos da casa", disse o delegado, também em conversa com a Folha.
Com ficha criminal limpa, ele cursava o terceiro ano do ensino médio em uma escola estadual e tinha acabado de completar 18 anos em 3 de maio, dois dias antes de cometer o atentado. Das 5h às 15h, Kipper Mai atuava como jovem aprendiz em uma empresa de produção têxtil. Foi no intervalo do trabalho, às 9h, que foi até a creche e assassinou cinco pessoas.
Vizinhos de Fabiano ficaram chocados com o crime. Não apenas pela gravidade, mas porque jamais imaginariam que ele seria capaz de cometer um assassinato. "O menino brincava com as crianças aqui na rua, nunca se viu nada de diferente. Ele ajudava a mãe, estendia roupa, limpava a garagem. Ele se criou dentro de casa. A gente não tem palavras para dizer o que levou esse menino a fazer essas coisas", revelou uma pessoa próxima à família.
Para os pais, o suspeito teria revelado que sofria bullying na escola. Por isso, ele queria largar o colégio. Segundo Kleber dos Passos, esta é uma característica presente também em outros atentados, onde o autor queixava-se da forma que era tratado em ambientes de convivência social.
"A gente não sabe a proporção do bullying, o que incomodava ele. Mas o comportamento é típico desses massacres em escolas que infelizmente aconteceram aqui no Brasil e internacionalmente. Está encaminhando para essa linha, ele tem características de ser esse tipo de pessoa", alegou o advogado.
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Além de falar sobre o suspeito, o advogado revelou informações sobre os pais do rapaz. Descritos pelo jurista como "pessoas simples", que "estão sem condições, tanto pelas vítimas quanto pelo Fabiano".
"É como se eles tivessem perdido o filho, seja pela questão prisional, de ficar anos preso, seja pela questão clínica, de que ele pode morrer", disse.
Na última quarta-feira (5), a defesa do suspeito pediu que a Justiça realizasse exame para avaliar sua sanidade mental. Deste modo, caso fosse constatado que o jovem não estava consciente no momento do crime, a condenação penal poderia ser revertida em uma internação para tratamento mental. O juiz Caio Lembruber Taborda, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, no entanto, optou por não aceitar o pedido ainda, já que o suspeito encontra-se internado.
A quebra de sigilo de dados do suspeito também foi determinada pelo juiz. Na casa em que Kipper Mai morava, notebook, pendrive e videogame foram apreendidos, além da quantia de R$ 11 mil em espécie. Os objetos eletrônicos já estão sendo analisados pela polícia, bem como e-mails, mensagens e outros tipos de interações em redes sociais e fóruns. A arma apreendida no local do crime, que se assemelha a uma espada ninja, também passa por perícia no Instituto Geral de Perícias (IGP).
Com poucas informações e sem o testemunho do suspeito, muitas perguntas continuam sem respostas. A motivação de Fabiano, por exemplo, ainda é desconhecida. Após o atentado, ele foi indiciado por cinco homicídios triplamente qualificados, além de uma tentativa de homicídio contra uma criança que foi ferida. Ele deverá responder por motivo torpe, utilização de recurso que impossibilitou a defesa das vítimas e utilização de meio cruel.
O caso
Um jovem de 18 anos identificado como Fabiano Kipper Mai matou pelo menos cinco pessoas nesta terça-feira (4), entre elas a professora Keli Adriane Aniecevski, de 30 anos, a agente educacional Mirla Renner, de 20 anos, e as crianças Sarah Luiza Mahle Sehn, de 1 ano e 7 meses, Murilo Massing, de 1 ano e 9 meses e Anna Bela Fernandes de Barros, de 1 ano e 8 meses. O crime aconteceu em uma creche no município de Saudades, há aproximadamente 60 km de Chapecó, no oeste de Santa Catarina.
Segundo o delegado da Polícia Civil Jerônimo Marçal Ferreira, o autor do crime, sem histórico criminal, foi até a creche Pró-Infância Aquarela, no centro da cidade, de bicicleta, por volta das 9h. Ao entrar na creche, ele começou a atacar uma professora de 30 anos que, mesmo ferida, correu para uma sala onde estavam quatro crianças e uma funcionária da escola, na tentativa de alertar sobre o perigo.
O rapaz, então, teria atacado as crianças que estavam na sala e a funcionária da escola. Duas meninas de menos de dois anos e a professora morreram no local. Outra criança e a funcionária morreram no hospital.
O Corpo de Bombeiros confirmou que ao chegar ao local, o jovem já havia sido contido por populares. Ele tinha um ferimento profundo no pescoço e perguntava sobre quantas vítimas teria conseguido atingir.
A governadora em exercício de Santa Catarina, Daniela Reinehr (sem partido), decretou luto oficial de três dias no Estado após o ataque.