Sete postos de saúde estão fechados pelo garimpo em Roraima

A demanda de pacientes sobrecarrega o posto de saúde Surucucu, que tem dificuldade de fazer busca ativa pelo alto volume de serviço de urgência e emergência
Estadão Conteúdo
Publicado em 09/02/2023 às 22:15
Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y) atende cerca de 31 mil indígenas Foto: IGOR EVANGELISTA/MS


Ao menos sete polos de atendimento a indígenas estão fechados pela insegurança causada pela ação de garimpeiros, revelou relatório da missão exploratória do Ministério da Saúde ocorrida na segunda quinzena de janeiro, no território Yanomami.

A demanda de pacientes sobrecarrega o posto de saúde Surucucu, que tem dificuldade de fazer busca ativa pelo alto volume de serviço de urgência e emergência.

O Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y) atende cerca de 31 mil indígenas. Eles estão distribuídos em 31 postos de saúde e se localizam em 379 aldeias.

No relatório, a pasta conta que a missão se deu após denúncia de óbito de três crianças entre 24 e 27 de dezembro.

O ministério decidiu fazer a vistoria nos postos de Surucucu e Xitei, consideradas "regiões prioritárias", por causa da "proximidade com as comunidades que tiveram seus postos e unidades de saúde fechadas devido à insegurança do garimpo ilegal".

Em nota publicada no site, a pasta destacou que, além da insegurança, "os principais problemas encontrados foram estruturas de atendimento em condições precárias, falta de profissionais e uma desassistência generalizada".

Funcionários da saúde indígena, que atenderam o território Yanomami, já haviam relatado ao Estadão o medo dos invasores e dos nativos cooptados para trabalhar no garimpo, que têm armas de fogo. "Tem crianças armadas, tem adolescentes armados."

Na reserva, os profissionais da saúde, por medo, acabam também atendendo garimpeiros. Isso agrava a falta de remédios e a sobrecarga de trabalho.

Grupos ligados à mineração ilegal dominam áreas dentro da reserva, incluindo pistas de pouso e até uma unidade de saúde. "Ocorre a troca de remédio por ouro", afirma Junior Hekurari, do Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi).

Quando o relatório menciona que não há equipes de saúde em algumas unidades, é porque não havia condições de os profissionais serem enviados de forma segura para essas áreas.

Ainda de acordo com a pasta, foi solicitado o reforço na segurança, além das reformas estruturais para a reativação dos polos desativados.

OUTRO LADO

O Estadão procurou o ex-presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga , assim como os responsáveis pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e pelo Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y) no governo Bolsonaro.

Mas não obteve resposta. O coronel Robson Santos da Silva, que comandou a Sesai até abril de 2022, disse que "sem uma visão histórica dos fatos, não há uma compreensão da situação". Outras autoridades do DSEI-Y e Sesai não foram localizadas.

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