SEM MÁSCARA

Anvisa derruba obrigatoriedade do uso de máscara em avião e aeroporto

O diretor da Anvisa Alex Campos reforçou na reunião de ontem que as máscaras continuam sendo importantes no combate à pandemia

Lucas Moraes
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Lucas Moraes
Publicado em 01/03/2023 às 21:42
FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL
EXCEÇÃO Passageiros poderá tirar máscara para comer ou ingerir líquidos em outros momentos do voo - FOTO: FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL

Estadão Conteúdo

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) derrubou ontem a exigência de máscaras em aeroportos e aeronaves como forma de prevenção contra a covid-19. O órgão federal, porém, manteve outras medidas: desembarque por fileiras, limpeza das aeronaves e, na presença de casos suspeitos nos voos, as empresas devem fornecer máscara para o passageiro que apresentar sintomas.

A suspensão havia sido pedida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Para o pedido, o CFM se baseou em uma revisão de estudos internacionais publicada na Cochrane Library, cuja conclusão é de que a proteção facial não teria impacto significativo. Cientistas, porém, apontam fragilidades e questionam resultados.

O diretor da Anvisa Alex Campos reforçou na reunião de ontem que as máscaras continuam sendo importantes no combate à pandemia. Segundo ele, a proteção segue recomendada para pessoas com sintomas respiratórios.

Publicado em 30 de janeiro, o estudo citado avaliou a eficácia da máscara na prevenção de doenças respiratórias - entre elas a covid-19. O trabalho revisa dados de outros 12 estudos e é assinado por pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido. A principal conclusão da revisão é de que a máscara faz "pouca ou nenhuma diferença" como política de saúde pública destinada a evitar a disseminação de vírus respiratórios. O estudo reacendeu a polêmica que já havia provocado intensos debates no início da pandemia.

Um artigo de opinião assinado pelo jornalista conservador Bret Stephens e publicado no The New York Times na semana passada jogou gasolina no já acalorado debate. "(...) Quando se trata dos benefícios do uso de máscara em nível populacional, o veredicto é: o uso obrigatório foi um fracasso", escreveu Stephens. "Os céticos que foram furiosamente ridicularizados e ocasionalmente censurados como ‘desinformantes’ estavam certos. Os principais especialistas que incentivaram as máscaras estavam errados. Em um mundo melhor, caberia a este último grupo reconhecer o erro, juntamente com seus consideráveis custos físicos, psicológicos, pedagógicos e políticos."

Antes mesmo de o artigo de Stephens ser publicado, o CFM já havia elencado o estudo de Oxford (entre outros trabalhos) no ofício enviado à Anvisa, datado de 13 de fevereiro. "Ao final, conclui-se que, diferentemente do que ocorre no contexto de profissionais de saúde em ambientes hospitalares usando equipamentos de alto nível, não há justificativa científica para a recomendação ou obrigatoriedade do uso de máscaras pela população em geral como política pública de combate à pandemia de covid-19."

Crítica ao estudo

Pesquisadores brasileiros ouvidos pelo Estadão, no entanto, apontam falhas na revisão da Cochrane que podem ter enviesado os resultados e defendem a continuação da obrigatoriedade do uso de máscaras em aviões e aeroportos. Os cientistas dizem que os britânicos compararam situações e momentos diferentes (em muitos casos não havia circulação significativa do vírus, por exemplo) e não houve um controle por exemplo sobre como as máscaras teriam sido usadas.

"Foi uma infelicidade da Cochrane misturar uma revisão sistemática com uma meta-análise; fica uma salada, analisaram situações e momentos diferentes", afirmou a pneumologista da Fiocruz Margareth Dalcolmo, uma das maiores especialistas do País em covid-19. "Tirar desse estudo a conclusão de que uma barreira mecânica não protege contra uma doença viral de transmissão respiratória é uma estupidez completa."

O infectologista Júlio Croda, também da Fiocruz, outro expoente do combate à covid-19 no País, concorda com a colega. Croda explicou que todos os estudos incluídos na revisão são ensaios clínicos individuais. "Muitos profissionais de saúde acreditam que os ensaios clínicos geram as evidências mais robustas para qualquer tipo de pergunta científica, o que não é necessariamente verdade", afirmou o especialista. "E essa dificuldade de entendimento sobre a qualidade das evidências atrapalha a compreensão das limitações de cada estudo." Nos estudos analisados, o uso da máscara é uma recomendação. "Ou seja, não temos como checar se as pessoas realmente usaram a máscara, se usaram durante todo o tempo, se usaram da forma correta como recomendado."

"Por isso, os estudos clínicos de comunidade são os mais adequados para este tipo de avaliação. Nesses estudos, usamos comunidades semelhantes (nível econômico, educacional), como cidades, bairros ou aldeias. Em algumas fazemos campanhas educativas e distribuímos máscaras. Em outras, não. Como são comunidades semelhantes e a única coisa diferente foi a sua intervenção, é possível medir o efeito dessa intervenção."

OMS

De acordo com as orientações gerais da Organização Mundial da Saúde (OMS), revisadas no último mês, as máscaras são recomendadas para "qualquer pessoa em espaço lotado, fechado ou mal ventilado". "Vale lembrar que a OMS não declarou ainda o fim da pandemia. É pouco provável que tenha outra onda, mas não é impossível. O vírus continua circulando", afirmou Margareth Dalcolmo. "Ainda que os aviões tenham filtros de ar novos, eu defendo o uso de máscara. Se houver um portador de vírus de transmissão respiratória, a chance de contágio é muito grande."

Risco pós-carnaval

Na semana do carnaval, os índices de positividade para covid-19 tiveram alta de 20,2% em comparação com a semana anterior. O aumento decorre principalmente dos festejos pré-carnavalescos e foi impulsionado pela expansão da variante XBB nos Estados do Rio e de São Paulo, segundo levantamento da Dasa, rede de saúde privada que atua em todo o País.

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