Dois projetos da ONG Diaconia, desenvolvidos no interior de Pernambuco, estão entre os vencedores do prêmio Caixa Melhores Práticas 2015. Um deles, o biodigestor, que usa excrementos de animais para produzir gás de cozinha, já foi amplamente divulgado. O outro, o banheiro redondo, é mais antigo, porém menos conhecido, e pode se transformar em alternativa para garantir aos agricultores familiares o acesso ao saneamento básico. Os prêmios serão entregues no dia 1° de dezembro.
A tecnologia do banheiro redondo foi desenvolvida pela Diaconia em 2003. Ele é construído com anéis de cimento, feitos com formas de ferro, e dispensa tijolos. A água que sai da pia e do chuveiro passa por uma caixa de gordura e um filtro que retém os resíduos. Em seguida, segue para outro filtro de areia e brita, que elimina impurezas não retidas pela caixa de gordura. Depois de filtrada, vai para um tanque onde poderá ser reutilizada em hortas e pomares.
“O banheiro redondo ocupa menos espaço e é mais sustentável que o convencional porque toda a água é reutilizada”, explica o coordenador da Diaconia, Carmo Fuchs. Também custa cerca de 60% do valor dos banheiros instalados anos atrás pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) em casas da zona rural, segundo Adilson Alves, coordenador da unidade territorial da ONG no Sertão do Pajeú. “Outra vantagem é que, diferente dos banheiros convencionais, que algumas famílias desmancharam para aproveitar telhas e madeiras em outras construções, o redondo não pode ser desmontado”, ressalta Alves.
Além de orientar pedreiros para construir os banheiros, comprar materiais na região, aquecendo a economia, a ONG capacita as famílias para aprender a manejar os filtros que permitem a reutilização da água. “Não é só construir e ir embora. Também damos assistência técnica a todos”, assegura Carmo.
Com a chegada do banheiro no campo, muitos costumes foram aposentados. As mulheres não precisam mais caminhar longas distâncias para buscar água. As famílias também estão livres do constrangimento de fazer suas necessidades no entorno das casas, próximo às hortas. Esse hábito provocava, além da disseminação de verminoses, a contaminação das poucas fontes de água existentes. Sem falar no transtorno de não ter um espaço para tomar banho.
“A nossa vista melhorou 100% com a construção do banheiro redondo”, garante Maria Lucilene Lima, 42 anos, moradora do Sítio Barreiro, em Quixaba, no Sertão do Pajeú. Antes, ela, o marido e os seis filhos tinham que fazer as necessidades fisiológicas “no mato”, já que não possuíam sequer um sanitário. “Num tempo de seca como agora era muito pior, pois nem mato tinha para a gente se esconder”, lembra.
O banheiro foi construído do lado de fora, colado à casa, mas a família fez uma adaptação, abrindo uma parede, para ter acesso direto ao equipamento. “Também temos um tanque do lado de fora onde lavamos a roupa.” Apesar do água do banheiro ser reutilizada na horta, a dona de casa está consciente da importância de preservá-la. “É preciso economizar a água que tiramos do poço”, ensina.
Com a vitória no prêmio Caixa, os dois projetos da Diaconia garantiram a inclusão em outro prêmio, conferido pela ONU Habitat em Dubai, nos Emirados Árabes, a propostas que apresentam tecnologias de baixo custo. “Se formos certificados por esse prêmio, seremos incluídos num banco mundial de projetos replicáveis. Também conseguiremos mais recursos para continuar construindo banheiros redondos e biodigestores”, acredita Carmo Fuchs.
A expectativa da Diaconia é de que o banheiro e o biodigestor se transformem em políticas públicas. “Uma arquiteta da Caixa Econômica em Caruaru, no Agreste, conseguiu adaptar o banheiro redondo para casas do Programa Nacional de Habitação Rural daquele município. Nossa esperança é que ações assim se multipliquem”, aposta.