SEM FISCALIZAÇÃO

Redes de pesca são uma das principais causas de morte de golfinhos

Após dois golfinhos aparecerem mortos no último fim de semana, especialistas apontam as malhas utilizadas na pescaria e a escassez de alimento como as grandes causas da extinção desses animais na costa. Legislação de proteção não é cumprida

Maria Luisa Ferro
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Maria Luisa Ferro
Publicado em 27/03/2017 às 13:51
Adriano Artoni/Cortesia
Após dois golfinhos aparecerem mortos no último fim de semana, especialistas apontam as malhas utilizadas na pescaria e a escassez de alimento como as grandes causas da extinção desses animais na costa. Legislação de proteção não é cumprida - FOTO: Adriano Artoni/Cortesia
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Após a aparição de dois golfinhos mortos neste fim de semana na Praia de Boa Viagem, Zona Sul do Recife, uma discussão a respeito das redes de pesca utilizadas foi levantada, após um dos animais ter marcas do objeto nas nadadeiras superiores e inferiores. De acordo com o ambientalista Adriano Artoni, as malhas utilizadas na pescaria são as principais causas da morte de golfinho na costa pernambucana. “Geralmente, o animal fica enroscado na rede de pesca e termina morrendo afogado. Quando não é afogamento, é o próprio pescador que mata o golfinho ao invés de cortar a rede para soltar o bicho”, explica. A fiscalização dos pescadores e das malhas utilizadas na pescaria são de responsabilidade do Ibama.

O primeiro animal foi encontrado no último sábado, por banhistas que circulavam próximo ao Quiosque 17. Segundo informações, o golfinho de cerca de dois metros já estaria morto antes de encalhar na praia, pois seu abdômem foi cortado de ponta a ponta, e foi levado pela correnteza até a beira da água. “Provavelmente foi capturado por algum pescador e jogado de volta ao mar”, informou Artoni. Já o segundo golfinho foi encontrado no domingo, com sinais de decomposição avançada e marcas de malha de pescaria. Esse mesmo animal foi resgatado na mesma praia no último dia 18 pelo Grupamento de Bombeiros Marítimo e devolvido ao mar.

Segundo Maria Adélia Oliveira, professora-titular do morfologia e fisiologia animal da Universidade Federal Rural de Pernambuco, essa captura não intencional de golfinhos é semelhante ao caso das tartarugas-marinhas. “Apesar da semelhança, existe uma grande diferença. As tartarugas se enroscam nas redes porque tem visão de baixa qualidade. Já os golfinhos, que tem excelente visão e movimentação, são atraídos pelos animais presos nas malhas de pescaria e acabam aprisionados e morrendo afogados, pois precisam subir à superfície para respirar”, detalha. E se engana quem pensa que na costa da Região Metropolitana do Recife não existem golfinhos. Eles buscam viver ao fundo, nos chamados taludes, mas quando não encontram alimento nesse locais, costumam vir mais próximo da costa, encontrando os pescadores.

Fiscalização é fraca

Para Adriano Artoni, fiscalização e orientação são as peças-chave para que casos como esse não voltem a acontecer. “No ano passado, um caso semelhante aconteceu em Jaboatão dos Guararapes, e foi criado um projeto de conscientização para mais de 800 pescadores da colônia regional, explicando sobre os tipos de rede a serem utilizadas, como proceder ao encontrar um animal, que tipo de pescada pode ser trazida para a orla. É necessário que as prefeituras de Recife e de Olinda procurem seguir este mesmo caminho”, afirma. Procurada pelo JC, a Secretaria de Meio Ambiente do Recife informou não ter nenhum projeto de orientação sobre golfinhos em andamento e afirmou que iria analisar o caso para tomar medidas cabíveis. Já a professora Maria Adélia aposta no cumprimento da legislação. “Bastaria que a gente cumprisse o que a lei determina, que já é de bom tamanho. Se os pescadores utilizassem ao menos um dispositivo recomendado, que não atrapalha a pesca e ainda preserva golfinhos e tubarões, ou até mesmo não pescassem em local proibido, o quadro atual seria muito diferente”, finaliza.

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