Um projeto de alunos recifenses sobre a atuação da mata ciliar na preservação do rio Beberibe, que corta as cidades de Camaragibe, Recife e Olinda, foi selecionado para ser apresentado na Feira de Ciências da Universidade de São Paulo (USP), em março do próximo ano. Os responsáveis pelo trabalho são alunos do ensino médio do Colégio Militar do Recife (CMR) na Zona Oeste da capital pernambucana. Além da pesquisa teórica, os adolescentes pretendem colocar o projeto em prática e replantar parte da vegetação que margeia o rio, tarefa feita com a ajuda de softwares e animações 3D.
O Beberibe se forma a partir do encontro dos rios Araçá e Pacas, em Aldeia, no bairro de Pau-Ferro, Zona Rural do Recife, e tem 19 km. Durante as análises do trajeto percorrido pelo rio e seu uso, alunos e professores perceberam o preocupante nível de degradação da vegetação e sujeira água. “Ele tem uma importância social, econômica e geográfica enorme desde o surgimento da cidade. Quando vamos observá-lo hoje, em determinados pontos, não vemos mais rio, é praticamente um esgoto”, explica a professora e orientadora do trabalho, Maria Goretti Cabral, que também utilizou as pesquisas como material para sua tese de doutorado.
A pesquisa teve início em 2017, quando foram feitas visitas ao rio para desenvolver um trabalho para a feira de ciências da escola. Depois disso, os alunos decidiram continuar com o tema e propor mudanças benéficas para sua preservação. “Depois de iniciado o trabalho, olhando para o Beberibe, percebemos que nossa atuação não podia ficar apenas na análise. A partir daí, surgiu a ideia de fazer o replantio e utilizar uma projeção virtual para entender como poderíamos fazer isso”, relata Eduardo Robalinho, 17 anos, integrante do grupo selecionado.
Parceria
Inicialmente, 18 alunos do ensino médio participaram das pesquisas, que saíram das salas de aula do CMR e chegaram até a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A partir de uma parceria, alguns integrantes do projeto participaram do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) para o nível médio e aprofundaram o que estava sendo produzido para a feira de ciências. Com a orientação do professor Carlos Alberto Schuler, do departamento de cartografia da UFPE, os alunos produziram imagens anaglifo, que são vistas em três dimensões, para mapear todo o curso do rio.
Lucas Acioly, 16, aproveitou as habilidades com programas gráficos para desenvolver com o grupo uma estratégia de resgate da mata ciliar do Beberibe. “Com a ajuda de imagens atuais, criamos uma maquete do percurso do rio. Depois, recriamos uma com um projeto de reflorestamento, seguindo alguns pontos do código florestal, como a recriação de margens com aproximadamente 30 metros. Com essas maquetes podemos pensar em estratégias viáveis tanto para a sociedade, quanto para o meio ambiente”, conta.
Somado à proposta de uma nova vegetação, o grupo pretende desenvolver ações de conscientização da população que vive próximo ao rio quanto a importância da mata ciliar e da preservação do Beberibe. Segundo a professora Goretti Cabral, a manutenção desse tipo de vida no entorno do rio ajuda a evitar enchentes, auxilia no controle de erosão das margens, além de proteger a água da poluição. “Ela funciona como uma barreira. Em boa parte do curso do Rio, a água está totalmente poluída, parte disso é pela falta da mata. Principalmente em áreas onde há construções irregulares nas margens. Vimos de tudo… entulho, móveis, carcaças de animais e muito plástico. Por isso a necessidade de se aproximar da população”, diz.
O resultado da seleção foi divulgado no dia na última terça-feira (18). Em março, quando serão alunos do terceiro ano do ensino médio, o grupo viajará para São Paulo para apresentar a simulação de recomposição da mata ciliar do Beberibe na USP.