ENTREVISTA

"Meu bebê foi embora", desabafa mãe de Bruna Gobbi

Mãe de Bruna Gobbi, a jovem morta num ataque de tubarão, fala pela primeira vez

João Carvalho
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João Carvalho
Publicado em 26/07/2013 às 8:15
Foto: Guga Matos/JC Imagem
Mãe de Bruna Gobbi, a jovem morta num ataque de tubarão, fala pela primeira vez - FOTO: Foto: Guga Matos/JC Imagem
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Quando resolveu visitar Pernambuco com as duas filhas, uma sobrinha e uma tia, a comerciante Josete Nascimento da Silva não imaginava que aconteceria a maior tragédia da vida dela. A filha mais velha, Bruna Gobbi, 18 anos, resolveu passar um dia na praia com os primos. Aproveitar o sol depois de tantos dias nublados. Mas ela não voltou para a casa da família onde estava hospedada, em Olinda. Bruna foi atacada por um tubarão a 20 metros da areia da Praia de Boa Viagem, na última segunda-feira. Nesta entrevista, Josete conta que a jovem não tinha ido para a parte mais funda. “A maré encheu e ela foi arrastada”, contou. Ela comenta como era a vida de Bruna e diz que demoraram para levá-la ao hospital.

JC – A senhora foi para São Paulo bem jovem, com 20 anos, quase a idade de Bruna. Como foi a vida de vocês lá?
JOSETE NASCIMENTO– Eu fui para São Paulo com um primo para trabalhar. Lá conheci o pai das meninas (Valdir Gobbi) Bruna, que tinha 18 anos, e Débora, que tem 10. Depois, nos separamos mas ele continua morando na mesma casa, no primeiro andar. Nos ajudamos muito e ele sempre foi muito presente e atencioso com as meninas. Às vezes eu queria brigar com as minhas filhas e ele não deixava. É muito amoroso.

JC – Como era a vida de Bruna em São Paulo?
JOSETE– Ela sempre foi uma pessoa muito feliz (neste momento Josete faz uma pausa e chora). Era cercada de amigos. Terminou o colégio no ano passado e logo arranjou um trabalho como recepcionista numa imobiliária onde trabalhou 11 meses. Agora, estava procurando emprego. Vivia nos sites para arranjar um novo emprego, queria juntar dinheiro para fazer um curso e tentar a carreira dos sonhos.

JC – Que carreira Bruna queria seguir?
JOSETE– O sonho dela era ser aeromoça. Quando a gente veio para cá ela até comentou: ‘Olha mãe, como elas são bonitas’, quando viu as aeromoças no avião. Sempre foi uma menina muito estudiosa. A gente nem precisava cobrar nada dela, nem pedir para que ela fizesse as tarefas ou estudasse. Nunca repetiu de ano, participava de tudo na escola. A irmã (Débora) tinha Bruna como um espelho.

JC – E como a irmã está reagindo sobre isso tudo?
JOSETE – Débora tem 10 anos e está sem entender direito o que aconteceu. No velório ficou pedindo o tempo inteiro para que a irmã acordasse. Ela não quer comer e não quer dormir. Não acredita no que está acontecendo. Estou, inclusive, preocupada com o estado psicológico dela. Eram muito amigas. Ela sempre ajudava Débora em tudo.

JC – A página de Bruna no Facebook é recheada de fotos com amigos em muitas festas. Ela era muito querida?
JOSETE – Muito, demais. Nós moramos na Vila Maria (SP), numa rua sem saída. Sempre moramos lá. Os vizinhos estão muito tristes, em estado de choque. Eles até mandaram coroas de flores. Estão cuidando de minha casa lá. Meu ex-marido já voltou e está sendo amparado também pela família do Gabriel (Brito, namorado de Bruna).

Minha filha sonhava em voar. Queria ser aeromoça. Queria trabalhar agora para pagar um curso, que era muito caro. Para mim, vão ficar duas marcas de Bruna: a alegria e a responsabilidade. Ela virou mais uma estrelinha no céu.Josete Nascimento

 

JC – O namorado veio de São Paulo para acompanhar o velório e o enterro. Estava muito emocionado. Eles mantinham um relacionamento sério ou era apenas um namoro comum?
JOSETE – Desde que eles começaram a namorar, em novembro do ano passado, Bruna ficou ainda mais feliz. Ele vivia para ela. Era um relacionamento muito sério mas muito sadio, apesar da pouca idade dos dois. Uns meses antes de ela viajar Gabriel conseguiu um emprego fixo, como motorista de caminhão de uma empresa de Vila Maria. Eles viviam grudados. Quando ela disse que viria para cá, ele comprou um celular novo, só para falar todo dia e mandar mensagens e fotos. É um menino de ouro. Gabriel e a família estão cuidando do Valdir (pai de Bruna) desde que eles voltaram hoje (ontem).

JC – Apesar de ter apenas 18 anos ela falava sobre casamento, filhos?
JOSETE – Apesar de dizer sempre que amava Gabriel ela tinha vergonha de falar sobre filhos, esses detalhes. Queriam, sim, casar, falou algumas vezes. Mas quando comentávamos sobre filhos Bruna ficava acanhada. Mas sempre gostou muito de crianças. Adorava. Quando tinha contato com crianças, principalmente bebês, parava tudo para ficar junto.

JC – Sobre o acidente, o que a senhora soube através dos seus sobrinhos que estavam no local?
JOSETE – Bruna não foi para a área mais funda nem se arriscou, como disseram. Estava no mar com água no joelho porque não sabia nadar. Foi quando ela e a prima foram puxadas por uma onda. O mar estava muito bravo, me disseram. O primo estava de mãos dadas com ela quando uma onda puxou. Dois conseguiram sair. Mas ela e a prima ficaram. Neste momento, bombeiros entraram e socorreram as duas. O socorro foi rápido para sair da água. Mas para levar ao hospital demorou muito. Ela perdeu muito sangue.



JC – A família agora está precisando de alguma ajuda?
JOSETE – Eu estou preocupada porque falta dinheiro para algumas coisas. Ajuda para pagar a troca de minha passagem e de minha filha. E também uma psicóloga para Débora, que é muito nova e está muito abalada. A Prefeitura de Escada (cidade da família materna de Bruna) ajudou com o enterro. Mas precisamos pagar ainda o transporte e custos com a casa funerária. Só conseguimos porque meu cunhado é amigo do pessoal que ficou de resolver depois. Não temos esse dinheiro.

JC – Além disso, o que a senhora queria agora?
JOSETE – Eu só queria que minha filha tivesse viva, que tivesse a vidinha dela, a família dela, a carreira e a profissão que tanto sonhava. Que ela vivesse junto das pessoas que gostam dela e que ela amava tanto. Só isso. Mas não deu tempo, foi embora tão cedo e de uma maneira tão trágica. Meu bebê foi embora.

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