A morte do violinista Jessé de Paula, na semana passada, atingido pelo retrovisor de um metrô na Estação Largo da Paz, em Afogados, causou grande comoção nos passageiros de coletivos da Região Metropolitana do Recife. O acidente chamou a atenção para um grave problema nas estações de trens urbanos da RMR: o desrespeito à faixa amarela, medida de segurança ignorada pela maioria de seus usuários.
O coordenador de Operação do Metrorec, Murilo Barros, informou que a morte de Jessé é um caso à parte. A única em 30 anos de funcionamento dos metrôs. “É a primeira vez que alguém vai a óbito, mas acidentes acontecem diariamente”, disse.
De acordo com Barros, a demarcação da faixa segue um padrão internacional de segurança, delimitando pouco mais de 50 centímetros entre os passageiros e o trem. “A faixa evita que o usuário ponha as mãos no veículo ou que tropecem e caiam no vão da plataforma. Se todos respeitassem a demarcação, não haveria acidentes”, argumentou. Além da linha emborrachada, as estações da RMR possuem placas, sinais sonoros e avisos ao público sobre a distância permitida.
A vendedora Maria Vandileide da Silva, de 49 anos, diz que sempre respeitou a faixa amarela, mesmo antes do acidente que resultou na morte do músico. Mas, para ela, que pega o metrô semanalmente, é comum ver pessoas ultrapassando a distância permitida. “Hoje mesmo, eu vi um caso absurdo. Uma senhora estava completamente fora da faixa amarela. Um senhor a alertou sobre o perigo e ela nem se importou. Virou de costas e continuou lá. Todos ficaram revoltados. Ninguém quer ser testemunha de uma morte”, contou.
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O vendedor Sebastião Manoel de Lima, de 70 anos, pega o metrô diariamente e diz que sempre respeitou a faixa. Ele tenta conscientizar os outros usuários. "Eu tenho falado às pessoas: o trem mata. Os acidentes acontecem por causa dos usuários que não tem medo, desrespeitam mesmo", disse.
Outra usuária, a empregada doméstica Maria José da Silva, de 42 anos, usa o meio de transporte de segunda a sexta. Às vezes, desrespeita a demarcação. “Confesso que me pego desrespeitando a faixa. Quando quero ver se há um trem chegando, eu me descuido e passo, mas sei que a responsabilidade é minha. Agora, quando lembro do músico, tento ao máximo me posicionar antes da linha”, falou.
Jessé de Paula ganhava seu sustento tocando violino em linhas de ônibus e metrôs do Recife. Morreu atingido por uma composição, porque ultrapassou o limite imposto pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU).