Um pedaço da história de Pernambuco está registrada nos 270 hectares do Parque Metropolitano Armando Holanda Cavalcanti, no Cabo de Santo Agostinho, Grande Recife. A área é guardiã das ruínas de um sistema de defesa construído no século 17 com quartel, fortes e baterias. Também conserva ruínas de prédios religiosos (igrejas e convento), de faróis e da casa dos faroleiros. Tudo abandonado e precisando de cuidados.
“Daqui a uns dias a gente não tem mais história para mostrar. O parque é tombado pelo Estado, mas não tem a devida manutenção, o lugar está esquecido”, lamenta Mariano Manoel Amorim, zelador da Igreja de Nossa Senhora de Nazaré há 14 anos. Localizada na Vila de Nazaré, a igreja é o único monumento com tombamento federal na região. “Pés de aroeira cresceram no antigo quartel e destruíram paredes da ruína”, destaca.
Mal sinalizado e sem infraestrutura para receber turistas, o parque é também inseguro. Os guias não recomendam descer até o Forte Castelo do Mar ou à casa do faroleiro, por exemplo, porque o visitante pode ser assaltado. Placas com informações dos monumentos encontram-se pichadas, rasgadas e quase ilegíveis. Uma delas, indicativa de pontos turísticos, está torta e tragada pelo mato.
Nem a ruína do quartel do sistema de defesa da capitania, obra de luso-brasileiros no século 17, escapou da ação dos pichadores, apesar de cercado pelo Exército. Último projeto assinado pelo arquiteto Armando Holanda (1940-1979), o parque não foi executado de acordo com a proposta do autor.
“Ele morreu antes de finalizar o trabalho e não seguiram o que ele havia pensado para a área”, informa Adriana Freire, professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco e responsável pelo inventário do acervo Armando Holanda, composto de 1.560 documentos (não inclui o projeto do parque do Cabo), sob custódia da UFPE há 15 anos.
Restaurado e organizado com apoio do Funcultura, o acervo pode ser acessado pelo site www.armandoholanda.com.br, que será lançado pelo Laboratório da Imagem de Arquitetura e Urbanismo, às 19h desta quarta-feira (25), no Museu da Cidade do Recife, no bairro de São José, Centro. A programação inclui depoimentos de arquitetos que conviveram com Armando Holanda e debate.
Marcos Germano, secretário de Planejamento e Meio Ambiente do Cabo de Santo Agostinho, admite a situação precária e informa que estão previstas ações para ordenar o parque, a partir de 2015. Estão envolvidos o Estado, Fundarpe, Ministério Público de Pernambuco e a Empresa Suape, proprietária da área.
A ideia do Conselho Gestor é rever os limites do parque, que deverá diminuir. Proposta será enviada à Assembleia Legislativa. “Não temos como tirar as ocupações nas bordas do parque.Vamos urbanizar e remover as pessoas dos trechos de preservação rigorosa para habitações que estão sendo construídas pela Empresa Suape”, diz o secretário.
