A casa-grande do Engenho São João, na Ilha de Itamaracá, onde nasceu o abolicionista João Alfredo Corrêa de Oliveira, em 12 de dezembro de 1835, continua desmoronando à vista de todos, às margens da PE-35. Destelhado, cheio de mato, com piso quebrado e paredes rachadas, nem parece que o casarão é tombado como patrimônio histórico de Pernambuco desde 1983. O prédio, sem uso e sem conservação, pertence ao governo do Estado.
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Em 2012, a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco elaborou projeto para transformar toda a área do engenho no Centro de Referência Cultural e Ecológica de Itamaracá. A obra, avaliada em quase R$ 6 milhões, esbarrou na falta de verba. “Infelizmente, o projeto não foi levado adiante”, afirma a arquiteta Rosa Bonfim, chefe da Unidade de Preservação da Fundarpe.
A proposta previa novos usos para o casarão, a fábrica – onde se produzia o açúcar – e os demais imóveis erguidos no terreno quando o espaço era ocupado pela Penitenciária Agrícola de Itamaracá, no século 20. Todos voltados para o turismo histórico e ambiental. A fábrica não é tombada, mas faz parte da área de preservação do monumento.
Um dos primeiros engenhos movidos a vapor no Brasil, o São João remonta ao século 17. O casarão atual, possivelmente do século 18, foi construído sobre as ruínas da edificação mais velha e mantém a fachada no estilo arquitetônico neoclássico, informa Rosa Bonfim. No século 19, o engenho pertencia ao avô materno de João Alfredo.
Conselheiro e estadista do reinado de Dom Pedro II (1840-1889), João Alfredo Corrêa de Oliveira tem o nome vinculado à abolição da escravatura no Brasil. Ele foi ministro do Gabinete Rio Branco, que promulgou a Lei do Ventre Livre, em 28 de setembro de 1871; e presidente do Gabinete de 10 de Março, que ordenou a publicação da Lei Áurea (documento redigido pelo abolicionista pernambucano), em 13 de maio de 1888.
A última intervenção realizada pela Fundarpe na casa-grande foi a estabilização das paredes, em 2008. Na época, a fundação vedou as aberturas de portas e janelas, para evitar novos saques. Logo depois, vândalos abriram um buraco nos tijolos. O casarão serviu como residência para o diretor da Penitenciária Agrícola, nos anos 50 e 60.
De acordo com Tácito Galvão, pesquisador do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, até então, sabia-se que o São João já moía cana em 1689. Porém, mapas antigos indicam a existência de outro engenho, denominado Trapiche, nesse mesmo local, no início da ocupação holandesa no Nordeste brasileiro, em 1630.
“É possível que o Engenho São João seja o Trapiche, reconstruído após a saída dos holandeses, em 1654, e renomeado”, declara. Há um ano e meio ele pesquisa a história da Ilha de Itamaracá e está coletando dados sobre a origem dos engenhos de cana-de-açúcar. O São João era propriedade do português João Guedes Alcoforado. Depois de vendido chegou às mãos de João de Medeiros Raposo, o avô de João Alfredo, diz Tácito.
Sábado próximo, 12 de dezembro, é o aniversário de 180 anos de nascimento de João Alfredo. O abolicionista morreu no Rio de Janeiro em 6 de março de 1919.