INVESTIGAÇÃO

Pesquisador assegura que ataque de tubarão em Noronha não foi provocado pelo turista

O contador Márcio de Castro, 33, vítima do ataque, falou nessa quarta (23) pela primeira vez

Maria Regina Jardim
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Maria Regina Jardim
Publicado em 24/12/2015 às 6:09
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O contador Márcio de Castro, 33, vítima do ataque, falou nessa quarta (23) pela primeira vez - FOTO: Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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O contador paranaense Márcio de Castro Palma da Silva, 32 anos, mordido por um tubarão na última segunda-feira (21) na Baía do Sueste, no Arquipélago de Fernando de Noronha, não teve responsabilidade pelo incidente que o fez perder a mão e parte do braço direito. A confirmação é do engenheiro de pesca e pesquisador Leonardo Veras, que tem investigado o caso junto a profissionais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) na ilha.

De acordo com Leonardo Veras, o cenário do ataque foi reconstituído através das apurações. “O horário do mergulho, no final da tarde, elevou o risco de ataques, pois é o momento em que os tubarões costumam se aproximar da costa. Apesar disso, já temos uma ideia amadurecida de que não houve nenhum tipo de estímulo ou provocação por parte do turista”, explicou o pesquisador.

Márcio de Castro falou pela primeira vez na tarde dessa quarta (23), em coletiva de imprensa no hospital particular onde está internado, na área central do Recife. Confirmando as investigações, o paranaense declarou que foi surpreendido pelo tubarão. “Eu sabia que poderia ver o animal, mas não tive medo. Nunca tinha ouvido falar de ataques no arquipélago. Estava mergulhando, boiando na praia a cerca de 200 metros da costa, quando dei de cara com ele. Foi tudo muito rápido”, narrou.

O paranaense revelou ter chegado à ilha no dia anterior ao ataque. Acompanhado da esposa, do irmão, da cunhada e de um casal de amigos, foi a primeira visita a Noronha. Apesar da fatalidade, Márcio afirmou acreditar ter sido vítima de um fato isolado. “Sei que não é algo comum no lugar. Com certeza voltaria lá, mas com um pouco mais de cautela”, brincou. Confira o relato do turista:

 

PRÓTESE

O contador, que é destro, apontou a profissão como o maior desafio a superar após ter o membro amputado. “Será difícil, principalmente no meu trabalho, mas acredito que vou conseguir. Depois de me recuperar, planejo fazer uma cirurgia plástica e implantar uma prótese”, disse otimista. “Não acho que lamentar é uma saída para este momento. Agora, só quero agradecer a Deus. Sou muito grato por ter ganhado essa segunda chance.”

O diretor-adjunto da unidade de saúde onde Márcio está sendo acompanhado, o médico André Akel, informou que o quadro de saúde dele é estável, mas ainda há riscos de infecção. “Estamos ministrando um tratamento à base de antibióticos para melhorar o quadro. Em cerca de 10 dias, ele passará por cirurgia para regularizar o braço, ou seja, fechar a ferida. Isso permitirá que ele tenha uma vida normal”, falou. A recuperação da cirurgia ortopédica, segundo ele, é de três a quatro dias.

TUBARÃO-TIGRE

A espécie que provavelmente atacou o turista paranaense é o tubarão-tigre. O pesquisador de tubarões Leonardo Veras justifica as suspeitas de acordo com as características dos tipos presentes em Fernando de Noronha. “Avistamos quatro espécies do animal na ilha: o tubarão lixa, o tubarão limão, o tubarão dos recifes e o tubarão tigre. Desses, três tipos interagem diariamente com os mergulhadores e banhistas. Só o tubarão tigre não é assim”, disse.

Veras argumentou que o tubarão tigre é uma espécie mais esquiva, com uma característica investigativa, e só aparece eventualmente nas águas do arquipélago. “Ele passa o dia em regiões afastadas e, durante a noite, se aproxima do litoral. Além disso, morde mesmo sem pretensão de caça, só para investigar as coisas. Costuma morder boias, barcos e tartarugas”, afirmou. “As marcas da mordida, descritas pelos médicos que atenderam a vítima, só confirmam a tese. O tipo de corte se assemelha a uma guilhotina e é capaz de quebrar os ossos”, acrescentou.

INTERDIÇÃO

Devido às buscas no local do incidente, a Baía do Sueste foi interditada e está sendo monitorada diariamente por mergulhadores profissionais e sobrevoo de drones. A praia será desinterditada amanhã, no entanto funcionará com horário especial, das 10h às 15h, até o dia 5 de janeiro. Os mergulhos também só serão autorizados quando acompanhados por guias credenciados pela administração da ilha. Até a liberação da baía, o ICMBio deve divulgar um manual de conduta com orientações para turistas.

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