Aniversário

Recife celebra 479 anos hoje, 12 de março

Na reportagem especial, conheça a história da Rua Direita, a via pública mais antiga da capital, que está sob o piso da Avenida Marquês de Olinda, no Bairro do Recife

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 12/03/2016 às 6:06
Foto: Ashlley Melo/JC Imagem
Na reportagem especial, conheça a história da Rua Direita, a via pública mais antiga da capital, que está sob o piso da Avenida Marquês de Olinda, no Bairro do Recife - FOTO: Foto: Ashlley Melo/JC Imagem
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Numa cidade que assistiu a tantas transformações urbanas em seus 479 anos de existência, comemorados neste sábado, 12 de março, onde estaria a sua primeira rua? Existir, ela existe. Mas seria preciso uma pesquisa arqueológica para encontrar este pedaço de chão. A via mais antiga do Recife está debaixo da atual Avenida Marquês de Olinda, no Bairro do Recife.

A Rua Direita começava na Igreja do Corpo Santo (nas imediações do prédio da Associação Comercial de Pernambuco), demolida no início do século 20 com a reforma do Porto. E seguia na direção do rio, onde ficava a balsa que fazia a travessia para a Ilha de Antônio Vaz (atuais bairros de Santo Antônio e São José), na ausência de uma ponte no século 16.

“Era uma rua estreita e dela temos representações em litografia e fotografia, antes de ser modificada com a reforma da zona portuária. Passava na frente e por trás da Ermida do Corpo Santo”, afirma o arquiteto José Luiz Mota Menezes, que lançou mão da cartografia histórica para assinalar em mapa as vias, cercas e prédios do Recife de antigamente.

Durante o período holandês, no século 17, a Rua Direita se ligava com a Ponte do Recife, construída em 1639-1640 no governo de João Maurício de Nassau para substituir a travessia por balsa. Cerca de 15 anos atrás, José Luiz sugeriu à Prefeitura do Recife a abertura de quadrados iluminados na Marquês de Olinda, protegidos por grelhas, deixando visível a moradores e turistas os vestígios da rua mais antiga da capital.

“Para mostrar turisticamente uma cidade e sua importância é preciso buscar o que nela há de diferente. O diferencial, nesse caso, é ter uma cidade sob a outra”, destaca o arquiteto. A pesquisa indica que, no trecho onde a Marquês de Olinda se encontra com Rua Dona Maria César, a Rua Direita está a 2,5 metros de profundidade, afirma José Luiz.

Com o novo cais, o Recife ficou muito abaixo do nível do Porto, explica. “As ruas foram aterradas com o material de demolição das casas derrubadas. É uma riqueza para a arqueologia.” Parte dos imóveis construídos no lado direito da Marquês de Olinda (sentido do trânsito) está assentada sobre a Rua Direita.

No século 16, havia só umas poucas moradias no lugar. O perfil muda no século 17, com novas edificações e imóveis de uso misto: comércio no térreo e residências nos pavimentos superiores. Famílias endinheiradas – comerciantes, negociantes, usineiros – viviam na Rua Direita. Prostituição e a fuligem do Porto, diz o arquiteto, afastaram os moradores para outros bairros da cidade.

O Conjunto Chantecler, um dos principais prédios da Marquês de Olinda, é um exemplo dos imóveis de uso misto, com 18 apartamentos, informa o pesquisador. A entrada do edifício, originalmente, era pela Rua do Vigário (Rua do Encantamento no século 16), a segunda mais antiga do Recife, e que depois passou a ser identificada como Vigário Tenório.

“O nome era Rua do Vigário porque nela morava o padre da Igreja do Corpo Santo”, informa o arquiteto. A denominação atual, Vigário Tenório é uma homenagem ao padre Pedro de Sousa Tenório, um dos heróis da Revolução Pernambucana de 1817, movimento social que completa 200 anos no próximo ano.

Das moradias dos homens ricos da Marquês de Olinda restam só os prédios, com uso comercial e de serviço. Alguns encontram-se fechados e exibindo os desgastes do tempo. Num passado não muito distante, abrigaram os cabarés do Recife Antigo.

“A zona de prostituição virou uma rua de comércio. Antes, as moças e as mulheres casadas só andavam aqui avexadas, assustadas. Hoje, famílias passeiam aos domingos”, diz Wilson Santos Morais, 56 anos, que mantém um fiteiro na Marquês de Olinda há 36 anos. “Muita coisa mudou. Trinta anos atrás o Carnaval do Recife Antigo se resumia ao desfile do Azulão do Bandepe. Nem se compara com a festa de agora”, diz ele.

Édson Paulino de Lima, 69, trabalha como motorista de táxi na Marquês de Olinda desde 1967 e acompanha as mudanças na avenida. “Lembro da sapataria Casa Lobo, da sede da Usina Barra, do Banco Real, dos cabarés, das lojas de ferragens, do trilho do bonde no piso de paralelepípedo. Tudo foi sendo substituído com o passar do tempo”, recorda.

Morador na Marquês de Olinda não se acha mais, garante Édson Paulino, que costuma decifrar endereços para as pessoas pouco familiarizadas com a peculiaridade da via, que hoje liga a Praça do Marco Zero à Ponte Maurício de Nassau, com 330 metros de extensão.

“Os fundos dos prédios eram na avenida e entrada, na Vigário Tenório ou na Álvares Cabral. Muita gente procura sem encontrar o número tal da Marquês de Olinda e não acha, porque a numeração corresponde às outras ruas. É isso, mudanças sempre ocorrerão”, declara.

O marquês que dá nome à avenida chamava-se Pedro de Araújo Lima (1793-1870), primeiro-ministro do Império. Hoje, a cidade tem outra Rua Direita, no bairro de São José.

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