Quem passa pela Rua Desembargador Góis Cavalcanti, em Parnamirim, Zona Norte do Recife, se espanta com dois troncos fincados na calçada no lugar das imensas árvores que ali viviam. Mesma sensação dos que veem três restos da espécie dentro de uma escola pública da Rua da Saudade, em Santo Amaro, área central. Podas de grande porte também têm levado moradores de vários bairros a registrarem sua indignação nas redes sociais. De 2013 até agora, 4.272 árvores foram suprimidas das ruas e morros da cidade e 48.190 podas, realizadas pela Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb).
“Moro há 18 anos no Parnamirim e todos os dias passava pela sombra dessas árvores. É desesperador vê-las arrancadas. Em vez de tratar, a primeira coisa que o município faz é cortar. Se for pela fiação elétrica é mais vergonhoso ainda. As muitas empresas que utilizam os postes já deveriam ter encontrado uma solução de embutimento”, reclama o engenheiro Daniel Valença, 32 anos.
Mestrando em gestão ambiental e advogado de uma empresa de consultoria na área, Caio Scheideggen, 28, diz ter recebido várias denúncias de árvores centenárias removidas. “Não temos onde ver os números, laudos, motivos da supressão. E há espécies protegidas. A sociedade precisa participar desse processo, o uso de aplicativos é uma ideia”, sugere.
Morador do bairro das Graças, o analista de sistemas Eduardo Bezerra, 50, vê o tema por outro ângulo. Diante da poda que reduziu em muito as frondosas árvores da Rua Amélia, ele pondera: “Às vezes, é um mal necessário. Nas chuvas recentes muitos galhos caíram sobre carros e podem cair em cima das pessoas”.
O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) tem inquérito aberto sobre o tema há dois anos e fez recomendações de algumas precauções ao município e à Companhia Energética de Pernambuco (Celpe), em setembro, como cursos de capacitação. “O inquérito permanece em aberto pois à medida que vão surgindo novos casos vou incorporando. O maior problema é a Celpe ter autorização para fazer poda onde quer e a hora que quer”.
A diretora executiva de Praças, Parques e Áreas Verdes da Emlurb, Élida Santos, explica que o órgão tem uma equipe de 11 engenheiros e agrônomos que vistoriam as árvores e produzem laudos indicando o serviço necessário. “Pode ser preciso fazer manutenção, poda ou erradicação. Mas só arrancamos uma árvore em último caso, quando é extremamente necessário. Se ela puder ser tratada, tratamos”, assegura. “As da Rua Amélia estavam muito altas e pesadas, eram um risco nas chuvas. As da escola também podiam tombar”.
A secretária de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Recife (órgão que autoriza os serviços), Inamara Mélo, acredita que falta informação. “A árvore é um ser vivo, então ela nasce, cresce e envelhece, precisando ser substituída. Não podemos manter uma árvore em risco. Se houver uma morte, o poder público pode ser responsabilizado”, destaca. Ela reconhece a necessidade de mudanças, como a divulgação de informações, e diz que estão sendo feitas. Mas que falta apoio da sociedade. “Cerca de 60% das pessoas rejeitam o plantio de árvores em suas calçadas. E como elas são responsáveis pela manutenção dos passeios, não forçamos, trabalhamos com o convencimento, mas já são 45 mil plantios feitos desde 2013”, observa.
Gestor de meio ambiente da Celpe Thiago Dias Caires afirma que o serviço de poda exige responsável técnico e que a empresa fez um diagnóstico ambiental das árvores junto aos postes, apresentou ao MPPE e vem atualizando os dados. “Também apresentamos uma proposta de treinamento conjunto à Secretaria de Meio Ambiente (marcado para agosto) e estamos fazendo o plantio de 200 árvores”.
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