JC – A SDS veio para unificar as forças de segurança. Isso não funcionou?
FRANCISCO RODRIGUES - Isso nunca funcionou. Primeiro porque são duas forças que não se entendem.
JC – Por que não?
FRANCISCO - Porque fazem trabalhos diferentes, simples assim. Não tem muito a explicar. Como a gente vai colocar duas forças numa sala se uma faz um trabalho diferente da outra? Não tem muito sentido. Leia Também
JC – Mas um trabalho não é complementar ao outro?
FRANCISCO – Não, não é complementar. Se fosse tinha que haver os dois ao mesmo tempo. E não é o caso. Um tem um trabalho e o outro tem outro. Quando um falha o outro atua. Se a PM (coisa hipotética) fizesse um trabalho de prevenção completa dos crimes, a Polícia civil não atuaria.
JC – São R$ 3,2 bilhões para a segurança. O senhor acredita que esse dinheiro está sendo mal investido?
FRANCISCO – Quanto maior a estrutura mais dispendiosa ela é. Quanto mais enxuta, mais eficiente. O governo criou vários intermediários para uma área que não precisava de nenhum. A SDS tem logo três secretários. Já começa daí o peso da pasta. Delegados, policiais civis e militares de todas as patentes que poderiam estar fazendo o seu trabalho estão na SDS para atividade meio.
JC – Fazendo o quê?
FRANCISCO - A gente tem hoje 403 delegados na ativa. Desses, cerca de cem (um pouco mais) estão fora da delegacia. Corregedoria, inteligência, SDS... Numa conta rápida: são 26 delegados seccionais. Há casos, como os delegados do Espinheiro e Boa Vista em que há um seccional para dois. Um absurdo! No interior faz sentido. Aqui, não.
JC – E fosse uma secretaria de segurança seria diferente?
FRANCISCO – Se a gente tivesse hoje uma Secretaria de Segurança Pública em vez de uma SDS a gente de cara já teria um prédio inteiro a menos pra administrar. Vários cargos, várias viaturas, vários computadores, vários cafezinhos, vários tapetes, vários auxiliares de serviços gerais...
JC – E os resultados do Pacto pela Vida?
FRANCISCO -É outro que tinha uma boa intenção, mas pecou por não implementar uma de suas bases fundamentais que é a valorização do servidor. O Pacto só quer número, número, número.
JC – O que tá faltando pra essa violência diminuir?
FRANCISCO -Tá faltando um melhor direcionamento dos recursos. Tá faltando gestão. Tá faltando parar de se tratar a segurança pública com política. Segurança é assunto técnico.