Peritos do Instituto de Criminalística (IC) realizaram, na noite desta terça-feira (4), a reconstituição da perseguição policial que terminou com a morte do vendedor de automóveis Adriano Egito Santiago Ramos, de 26 anos, em abril de 2014. Na ocasião, Adriano foi atingido por disparos de pistola ponto 40 no bairro de Afogados, na Zona Oeste do Recife, depois de desobedecer a ordem para que ele parasse em um bloqueio policial. O soldado José Tiago Martins de Souza foi indiciado por homicídio doloso e o o soldado Diego Fernando Silva de Lima por tentativa de homicídio.
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De acordo com o IC, a reprodução simulada foi solicitada pelo Ministério Público de Pernambuco e pela defesa dos acusados. "A gente foi solicitado pelo Ministério Público e pela defesa para realizar a reprodução simulada e dirimir algumas dúvidas que surgiram ao longo do processo. Foram feitos alguns quesitos e viemos para ratificar o laudo do local", explicou o perito criminal Gilmário Lima.
Ainda de acordo com o perito, mesmo com a reprodução, ainda não é possível concluir o que ocorreu no dia do crime. "Vamos fazer agora um estudo com toda a análise feita no local somado ao laudo do dia do fato mais outros exames, entre eles o tanatoscópico. Como foi dito linha de tiro, vamos ver se o que eles declararam aqui pode ter ocorrido ou não e no final a gente vai dar o resultado", afirmou.
Para o assistente de acusação do caso, Luiz Antônio Gaião, está claro que o disparo que atingiu a viatura não foi feito por Adriano. "Para a acusação não há mais nenhuma dúvida. O laudo anterior que foi feito no dia do fato já era bastante esclarecedor e essa simulação veio confirmar o entendimento da acusação. Pelo que eu acompanhei agora, é impossível esse tiro ter acontecido na hora que os policiais afirmaram que ocorreu e da forma que eles dizem que ocorreu", cravou o promotor.
A defesa de José Tiago Martins, único dos acusados que participou da reconstituição, afirma agora que o tiro veio da outra viatura que participou da perseguição e não do carro de Adriano, como dizia anteriormente. "Havia uma perseguição. Uma viatura acompanhava o Gol da vítima desde a Madalena até o desfecho. Outra viatura do batalhão da Mangueira que veio em
apoio interceptou o Gol e, quando isso aconteceu, sofreu a impactação de um disparo de arma de fogo de trás pra frente, o que está caracterizado na perícia. É possível que o tiro tenha vindo da outra viatura. Ou seja, fogo amigo", disse o advogado José Siqueira. O julgamento dos acusados ocorreria no dia 23 de maio deste ano, mas foi adiado para que a reconstituição fosse realizada.
Tiroteio e morte na Zona Oeste
"Constata-se que não há dúvidas quanto a autoria, circunstâncias e motivação do crime. A vítima não teve a menor chance de defesa, sendo executada por disparos de pistola ponto 40", concluiu o delegado Ivaldo Pereira Santiago Júnior sobre a abordagem policial que terminou na morte do vendedor de automóveis Adriano Egito Santiago Ramos, de 26 anos, no bairro de Afogados, no Recife. Dois policiais militares foram indiciados pelo crime: o soldado José Tiago Martins de Souza por homicídio doloso e o soldado Diego Fernando Silva de Lima por tentativa de homicídio. Ambos são lotados no 13º batalhão e atuavam na Patrulha do Bairro, antes do afastamento das atividades enquanto durou a investigação.
No dia 13 de abril de 2014, quatro dias após seu aniversário, Adriano Ramos comemorou a data com amigos num bar do Rosarinho, na Zona Norte da cidade. Depois, seguiu sozinho de carro à Estância, na Zona Oeste, onde morava na companhia dos pais. Como trafegava em alta velocidade, despertou a atenção e passou a ser perseguido por duas viaturas. O jovem ignorou a ordem de parar e foi alvejado na Rua São Miguel. Apesar da desobediência do motorista, o delegado apurou que os disparos foram desnecessários.
"A motivação deste delito foi o excesso ocorrido na abordagem policial, tendo os policiais indiciados assumido o risco de cometer delito, quando utilizaram suas armas para parar um veículo (...) Várias outras formas poderiam ter sido utilizadas para conter Adriano", atestou Ivaldo Pereira.
Cada um dos dois PMs atirou cinco vezes contra Adriano Ramos. Mas as perícias realizadas atestaram que apenas os disparos do soldado José Martins acertaram o jovem. Por isso, ele foi indiciado por homicídio doloso. O colega de farda, Diego Fernando, errou todos os tiros e foi enquadrado por tentativa de homicídio.
"É importante destacar que havia mais dois soldados. Estes não efetuaram disparos, tendo dito que não viram necessidade em disparar. Primeiro por não ter linha de visão. Depois, por não ter alvo certo", frisou o delegado do caso. No momento da abordagem, Adriano Ramos não portava nenhuma arma de fogo. E morreu no local.