Violência

Centro no Hospital da Mulher do Recife acolhe vítimas de violência

Assistência contempla atendimento de médicos e outros profissionais, como também perícia do Instituto de Medicina Legal e registro do boletim de ocorrência

Da editoria de Cidades
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Publicado em 17/12/2016 às 15:04
André Nery/JC Imagem
Assistência contempla atendimento de médicos e outros profissionais, como também perícia do Instituto de Medicina Legal e registro do boletim de ocorrência - FOTO: André Nery/JC Imagem
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Desde julho deste ano, cerca de 20 mulheres chegam mensalmente ao Centro de Atenção à Mulher Vítima de Violência Sony Santos, no Hospital da Mulher do Recife (HMR), no bairro do Curado, Zona Oeste da cidade, com a esperança de vencer os efeitos nocivos das agressões sofridas ou toleradas diariamente. Até tomar a iniciativa de ir ao local, algumas padecem em silêncio por diversos motivos: enquanto uma parte tem medo de ser culpada pela violência, outra se sente envergonhada ou humilhada diante dos episódios de agressão que vivencia.

“A mulher está num contexto de violência, tem consciência de que precisa romper com esse ciclo, mas o medo paralisa. Então, o serviço trabalha na perspectiva do fortalecimento da autoestima e do empoderamento da mulher”, diz a assistente social Sandra Leite, coordenadora do centro, que acolhe vítimas de violência, de todo o Estado de Pernambuco, a partir dos 10 anos. A assistência contempla atendimento de médicos e outros profissionais (psicólogos, assistentes sociais e enfermeiros), como também perícia do Instituto de Medicina Legal (IML) e registro do boletim de ocorrência. 

Para manter a segurança e a privacidade das mulheres, o Centro Sony Santos funciona num prédio anexo ao hospital (com entrada pela lateral), a fim de evitar passagem pelos setores de emergência e ambulatórios. Em cinco meses, 85 mulheres já foram acolhidas pelo serviço. “Mas há uma capacidade bem maior de atendimento. Muitas perguntam se precisam denunciar para serem acolhidas, e isso não é necessário”, reforça Sandra. Para passar adiante essa mensagem e encorajar vítimas de agressões a procurar ajuda, o HMR tem apresentado o serviço a profissionais das unidades de saúde, delegacias, conselhos tutelares e associações de moradores.

“Sabemos que há mais mulheres vítimas de violência que não estão nas nossas estatísticas e precisam se encorajar para vir ao centro, que é o único setor do hospital aberto a todas as mulheres de Pernambuco. Não atendemos apenas aquelas que moram no Recife. Todas podem buscar a ajuda, inclusive turistas. Outro dia, por exemplo, uma mulher que estava em Fernando de Noronha e vivenciou um estupro, foi atendida pelo serviço”, informa a diretora-geral do HMR, Isabela Coutinho. 

Recentemente, Maria (nome fictício) saiu de uma cidade do interior do Estado para ser atendida pelos profissionais do centro. Chegou abalada ao hospital em decorrência do sofrimento causado pela violência sexual. “Soube do serviço depois que uma parente pesquisou na internet. Ao chegar, passei pela assistente social, pelo psicólogo e pelo médico. Tremia e chorava. O psicólogo ajudou muito. Nunca fui tão bem recebida”, contou Maria, que encoraja outros mulheres vítimas de agressão a procurarem apoio. “O recado que tenho para elas é que não tenham medo, que venham ao centro, procurem ajuda. É um lugar que pode entender a gente da forma que precisamos. Agora estou bem aliviada.”

ACESSO AO SERVIÇO

O Centro Sony Santos é porta aberta – ou seja, quem quiser receber acolhimento não precisa ser encaminhada por posto de saúde, delegacia ou pelo IML. “Basta a mulher querer ser atendida que vai encontrar o atendimento, todos os dias, por 24 horas”, frisa Sandra. Ela salienta que, embora a violência sexual seja o tipo que mais predomina entre as agressões relatadas pelas mulheres acompanhadas pelo centro, há os casos de violência física e psicológica que também aparecem nas estatísticas. 

“As agressões não são dissociadas. E existem episódios em que o companheiro não praticou violência física com a mulher, mas pegou todos os pertences delas, como roupas, documentos e objetos, e ateou fogo. Isso é violência moral, psicológica”, conclui a assistente social. 

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