Violência

Pernambuco: quase mil homicídios em dois meses

Fevereiro teve 497 assassinatos, 62,4% a mais do que o mesmo período de 2016

Margarette Andrea
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Margarette Andrea
Publicado em 15/03/2017 às 20:43
Ricardo B. Labastier/JC Imagem
Fevereiro teve 497 assassinatos, 62,4% a mais do que o mesmo período de 2016 - FOTO: Ricardo B. Labastier/JC Imagem
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Dois dias depois de o governador Paulo Câmara classificar como “boatos” balanços extraoficiais que apontavam quase 900 mortos no Estado este ano, a Secretaria de Defesa Social (SDS) divulgou uma realidade ainda mais dramática, ontem. Nos primeiros dois meses deste ano, 977 pessoas foram assassinadas em Pernambuco, uma média de 16,5 por dia. Foram 480 homicídios em janeiro e 497 em fevereiro, o mês mais violento dos últimos 11 anos, desde antes do lançamento do Pacto pela Vida, em 2007, que estabeleceu meta de redução de 12% dos índices. Na contramão dessa meta, tivemos um aumento de 48% no número de mortes, comparando ao mesmo período do ano passado, quando foram registradas 660 ocorrências. E de 62,4% se considerarmos só os meses de fevereiro.

O primeiro boletim da SDS após polêmica mudança na metodologia de divulgação foi apresentado em uma coletiva dupla, na sede do órgão, que abordou também o andamento das investigações sobre o homicídio da menina Beatriz Angélica Mota, de 7 anos, morta em Petrolina, em dezembro de 2015. Pelo novo método, o site do órgão não é mais atualizado diariamente, como era feito até a primeira quinzena de janeiro, nem traz mais o nome das vítimas, tendo sua transparência bastante questionada. 

Em contrapartida, o balanço passou a incluir outros dados, todos com redução entre janeiro e fevereiro (não foram informados os números de 2016). Os crimes violentos contra o patrimônio (roubos) tiveram 20.276 ocorrências, sendo 11.230 em janeiro e 9.046 em fevereiro (-11%). Os roubos a ônibus (que excluem casos onde a renda da empresa não é levada) foram 199 em janeiro e 175 em fevereiro (-3%), totalizando 374. Já as investidas contra bancos somam 28, caindo de 17 para 11 (-55). Os casos de violência contra a mulher chegaram a 5.158, sendo 2.915 em janeiro e 2.243 em fevereiro, já os de estupro saíram de 167 para 128 (-15%), somando 295.

HOMICÍDIOS SÃO DESAFIO

Na coletiva, o secretário da pasta, Angelo Gioia, salientou os números positivos, dizendo não ser motivo para comemorar, “mas mostram que estamos no caminho certo”. E disse que a redução dos homicídios é o grande desafio, que já está sendo enfrentado com algumas mudanças, inclusive de comandos. “Para mim, o grande ajuste que nós fizemos foi descentralizar as investigações de homicídios. Eu acho que o grande pecado que se cometeu, no passar desses anos, foi exatamente a centralização”, declarou, destacando que é preciso focar em grupos de extermínio.

O secretário disse acreditar que o crescimento dos homicídios não está ligado a recursos materiais ou humanos. Mas destacou que sua gestão avançou em projetos de reestruturação das carreiras das Polícias Civil e Militar, está contratando mais profissionais e  reequipando as instituições. 

SINDICATO CONTESTA

A explosão dos índices de assassinatos vem justamente quando o governo trava uma queda de braço com os policiais militares, que ficaram insatisfeitos com a reestruturação salarial realizada. “A culpa desses dados é do sistema. Há uma defasagem de mais de oito mil policiais militares. As viaturas e armas estão obsoletas; não há rádio de comunicação nos carros; as munições são insuficientes; os coletes, vencidos. E não se investe na carreira do policial, que está desestimulado”, afirmou presidente da Associação de Cabos e Soldados (ACS), Alberisson Carlos. Ele contestou os números de assaltos a ônibus. “Esse sim é boato. Já são mais de 850 ocorrências este ano” e adiantou que vai divulgar outro balanço, nos próximos dias.

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