Cidadão Imperador

Uma proposta para transformar a Rua do Imperador numa grande praça

O projeto foi apresentado à prefeitura e a ocupantes de prédios localizados na Rua do Imperador, no Centro do Recife

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 22/07/2017 às 22:22
Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem
O projeto foi apresentado à prefeitura e a ocupantes de prédios localizados na Rua do Imperador, no Centro do Recife - FOTO: Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem
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A Rua do Imperador Pedro II, que aparece em mapas do Recife na segunda metade do século 17 e assistiu a vários acontecimentos históricos do bairro de Santo Antônio, sempre chamou a atenção do auditor fiscal Cláudio Couceiro d’Amorim. Tanto que agora, depois de aposentado, ele ousou apresentar uma proposta para transformar a via, entre a Praça da República e a Avenida Nossa Senhora do Carmo, no Centro, numa rua exclusiva para pedestre.

“É minha contribuição para a cidade. Imagino essa área como um espaço de convivência de domingo a domingo, um local para as pessoas circularem e conversarem olho no olho”, declara Cláudio Couceiro, ex-funcionário da Secretaria Estadual da Fazenda, situada na Rua do Imperador. “Poderia haver um estímulo para os prédios abandonados serem ocupados com atividades culturais e educacionais, além de moradia.”

O Projeto Cidadão Imperador prevê escolas para formação de músicos, passista e atores em imóveis hoje fechados, agências de viagens, salas para exposições, bar, cafés, quiosques para venda de água de coco, tapioca e outras comidas típicas. Bancos seriam espalhados ao longo dos quase 500 metros de extensão da via para favorecer a convivência. “As escolas dariam novas oportunidades de vida a pessoas pobres”, avalia.

A ideia de fazer da Rua do Imperador uma grande praça, acrescenta, se soma a outras iniciativas com o mesmo perfil no Centro. Ele destaca a Estação Ecoturística Cais do Imperador, entre o Rio Capibaribe e a Avenida Martins de Barros, e o Boulevard da Avenida Rio Branco, em construção no Bairro do Recife. Cláudio Couceiro apresentou a proposta à prefeitura e a instituições localizadas na via e nas redondezas.

CULTURA

Entidades que já exercem função cultural na Rua do Imperador, como o Gabinete Português de Leitura e o Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano, acenam positivamente para o projeto. “Acho muito interessante e na medida do possível podemos nos enquadrar”, afirma Celso Stamford Gaspar, presidente do Gabinete. A instituição, criada em 1850, recebe o público de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h às 17h.

A biblioteca do Gabinete Português de Leitura, com acervo rico e diversificado, pode ser consultada gratuitamente. “Temos computadores e mesas de estudos. Uma vez por mês organizamos o Encontro de Poesia, para alunos de escolas públicas”, informa Celso Stamford. O prédio passa por obra de restauração e não suspendeu as atividades, mas está em recesso por 15 dias, até 30 de julho de 2017.

No Arquivo Público, há sempre exposições produzidas com material do acervo da instituição – fotos, jornais e documentos históricos. “Nossa proposta é oferecer uma exposição diferente por mês. É uma forma de estimular a população a entrar e conhecer o prédio”, diz o presidente do Arquivo, Félix Filho. A mostra em cartaz é Luzes do Passado, montada com fotos das décadas de 1920 e 1930 de municípios pernambucanos.

Antiga câmara e cadeia pública, o prédio do Arquivo foi construído em 1731 e recebeu republicanos presos em 1817 (Revolução Pernambucana) e em 1824 (Confederação do Equador). “Temos biblioteca, agendamos visitas guiadas e abrimos das 8h às 17h, de segunda a sexta-feira, sem intervalo para almoço”, informa Félix Filho.

PREFEITURA

O Instituto da Cidade Engenheiro Pelópidas Silveira vê com bons olhos o projeto sugerido para a Rua do Imperador. “Somos entusiastas da ideia e a proposta será considerada dentro dos estudos que estão sendo feitos para a área central”, declara o arquiteto e presidente do instituto, João Domingos Azevedo. Segundo ele, ainda é cedo para dizer se o projeto pode ser implementado da forma como foi concebido.

Pela Rua do Imperador, diz o arquiteto, passam linhas de ônibus que teriam o percurso alterado com a proibição do tráfego para veículos motorizados, como prevê o Projeto Cidadão Imperador. Na proposta de Cláudio Couceiro, após consulta a um engenheiro de trânsito, os coletivos poderiam cruzar a via apenas em dois trechos, um na Rua Siqueira Campos e outro na Rua 1º de Março.

“Reconhecemos o apelo turístico e cultural da Rua do Imperador. É nossa intenção valorizar esse diferencial da via, onde encontram-se o Palácio da Justiça, o Gabinete Português de Leitura, o Arquivo Público, a Praça Dezessete e igrejas históricas”, afirma João Domingos. “Num primeiro momento, pode-ser criar um roteiro turístico com esses equipamentos, sem intervenção física.”

O assunto também será levado em consideração no Plano de Mobilidade, diz João Domingos, acrescentando que nenhuma intervenção para a rua pode ser pensada sem pensar no bairro como um todo. Ele diz que a Empresa de Urbanização do Recife tem projeto para melhoria das calçadas no local.

HISTÓRIA

A Rua do Imperador, com esse nome, nasceu da junção de três vias – de São Francisco, da Cadeia Nova e do Colégio – em dezembro de 1859, com a visita de Dom Pedro II ao Nordeste. “Dela saíam as famosas procissões de cinzas e os degradantes cortejos dos condenados à morte”, escreve Carlos Bezerra Cavalcanti no livro O Recife e suas Ruas.

No trecho final da via, a Praça Dezessete rende homenagens à Revolução Pernambucana de 6 de março de 1817. E no prédio de esquina com a Rua 1º de Março, que hoje oferece crédito consignado, funcionou o primeiro Observatório Astronômico do Hemisfério Sul e das Américas, na casa de Maurício de Nassau, governador do Brasil holandês de 1637 a 1644.

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