Os dois homens carbonizados dentro de um carro em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, no dia 17 de setembro, não eram envolvidos com o tráfico de drogas, como a polícia pensava. Identificados por exame de DNA como Diego Vieira da Rocha, 26 anos, e Luan Pedro da Silva, 22, eles foram mortos por traficantes da Comunidade Irmã Dorothy, da Imbiribeira, onde moravam, suspeitos de terem denunciado o paradeiro do líder do tráfico local, assassinado uma semana antes. Essa foi a versão apresentada pela polícia, nesta sexta, em entrevista coletiva na sede do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no Cordeiro, Zona Oeste.
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O delegado Francisco Océlio, que comanda as investigações, salienta que elas ainda estão em curso, mas já apontam a dinâmica do caso. A perícia indicou que Diego e Luan (que trabalhavam como pedreiros e ambulantes e seriam usuários de maconha), depois de terem sido arrastados de dentro de casa, foram executados a tiros próximo ao mangue. Os corpos foram levados até a entrada da Comunidade Entra Apulso, dentro de um veículo Ágile roubado e incendiado no cruzamento entre as ruas Bruno Ribeiro e Arnuld Holanda, como demonstração de punição a delatores.
“Quem comandou a execução foi Paulo da Vaca (Paulo Henrique dos Santos, 26 anos), preso um dia depois em uma Operação da Lei Seca por porte ilegal de arma”, afirma o delegado. “A perícia confirmou que foi com aquela arma que Diego e Luan foram executados. Paulo nega, mas não há dúvida. Ele, inclusive, aparece no vídeo incendiando o veículo e foi reconhecido por testemunhas”.
Segundo o delegado, os outros que aparecem no vídeo são Carlos Henrique Pereira de Lima, 19, que já tem mandado de prisão pelo crime; um menor de 17, também com mandado de busca e apreensão; e um quarto homem ainda sem mandado. Todos estão foragidos. “Estamos divulgando novas imagens e quem tiver informações deve nos procurar”, apela.
SUSPEITA
Francisco Océlio conta que a suspeita dos traficantes sobre os dois homens se deu porque, em agosto, Diego foi procurar o então líder do tráfico na Irmã Dorothy, Jackson Paulo da Silva, o Tito Gordo, em Paudalho, na Zona da Mata, onde ele estava escondido. “Ninguém sabia onde Tito estava, mas ele sabia, pois Tito levava a esposa todos os dias para um curso em Carpina, onde moram familiares de Diego e de Luan, amigos de infância”, destaca.
Diego foi a Tito reclamar de Paulo da Vaca, pois o mesmo bateu em seu sobrinho e quando ele foi tomar satisfação os dois acabaram brigando. “Paulo fez ameaças e quebrou o telhado da casa da criança, então Diego pediu providências a Tito, que mandou Paulo pedir desculpas e resolver tudo.
“Mas quando Tito foi morto a tiros, em Paudalho, por traficantes da Entra Apulso, o grupo dele pensou: quem sabia onde ele estava? E concluiu que Diego e Luan eram os delatores. Mas eu estou convencido de que não foram eles”, declara o delegado. “Isso será esclarecido mais adiante”.
Quando o inquérito for concluído, os responsáveis deverão ser indiciados por sequestro, duplo homicídio qualificado, destruição de cadáver e associação criminosa armada, crimes que podem resultar de 27,5 a cem anos de prisão, em caso de condenação.