Patrimônio

Forte das Cinco Pontas: patrimônio conservado com tinta à base de cal

A cal virgem é indicada para construções antigas, que não são de cimento, feito o Forte das Cinco Pontas, no Centro do Recife

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 02/12/2017 às 17:17
Foto: Luiz Pessoa/JC Imagem
A cal virgem é indicada para construções antigas, que não são de cimento, feito o Forte das Cinco Pontas, no Centro do Recife - FOTO: Foto: Luiz Pessoa/JC Imagem
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As muralhas do Forte das Cinco Pontas, no bairro de São José, Centro do Recife, serão pintadas neste fim de ano (2017). Tudo com cal, revestimento simples e barato. Mas não vá pensando que a opção pela tinta é pirangagem do Museu da Cidade, instalado na fortificação do século 17 desde sua fundação, em 1982. A cal, ninguém pode negar, é econômica. Porém, nas paredes de um prédio histórico ela tem mil e uma utilidades.

“É a pintura indicada para o forte porque é compatível com a estrutura original da edificação”, diz Maria de Lourdes Bezerra Cordeiro, historiadora e técnica em conservação e restauro do Museu da Cidade do Recife. “Além de permitir que a parede respire (movimento de contração e dilatação da parede), a cal age como fungicida e bactericida naturais. Isso evita manchas, fungos e desprendimento do reboco.”

O trabalho no Forte das Cinco Pontas começou em novembro, com a raspagem das velhas camadas de tinta (todas de cal) com espátula e escova de aço. A pintura mesmo será executada em 30 dias, ao longo do mês de dezembro. Pintar o forte, na verdade, é um ritual que se repete anualmente, por causa do desgaste da tinta. A novidade, desta vez, é o uso de uma cal de melhor qualidade, com mão de obra especializada e cuidados museológicos.

Funcionários do museu passaram por treinamentos sobre a arte da caiação (nome dado à pintura feita à base de cal) com a equipe do Estúdio Sarasá, de São Paulo. O grupo atua na restauração de monumentos e presta assessoria gratuita ao centro cultural, desde a preparação correta da tinta até a forma de aplicar o revestimento. “Conseguimos encontrar a cal virgem, sem impurezas, auxiliados por eles”, diz Maria de Lourdes.

Patrimônio da Humanidade

Com R$ 1,1 mil reais, o museu comprou 55 pacotes de 20 quilos de cal bruta a um fornecedor do Recife. O produto vem de Surubim, município do interior de Pernambuco, e a quantidade é suficiente para as muralhas e as paredes do Forte ds Cinco Pontas. “A partir da cal, vamos produzir argamassa, misturando cal com areia, para cobrir fissuras”, informa. A pintura só deverá ser renovada daqui a três anos.

“Estudos comprovam que a caiação feita da forma correta tem essa durabilidade e resiste às intempéries”, acrescenta Maria de Lourdes. Além de usar cal bruta, cada parede precisa de três camadas de tinta, uma na horizontal, uma na diagonal e mais uma na vertical. A cor branca será mantida porque o forte nunca teve outra tonalidade. “Precisamos desconstruir o preconceito com a cal, ela não é tinta de pobre”, comenta.

A tinta de PVA, que impermeabiliza paredes e é própria para superfícies de cimento, não deve ser utilizada em monumentos históricos, destaca Maria de Lourdes. Segundo o arqueólogo Ulisses Pernambucano, que tem estudos sobre a fortaleza, o Forte das Cinco Pontas é uma construção portuguesa de pedra calcária sobre uma fortificação holandesa. O forte é candidato ao título de Patrimonio Mundial da Unesco.

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