ABASTECIMENTO

Barragens com água, mas moradores ainda sem

As chuvas melhoraram o nível de algumas barragens, mas problemas na rede de distribuição ainda não fizeram com que a água chegasse nas torneiras

Leonardo Vasconcelos
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Leonardo Vasconcelos
Publicado em 10/04/2018 às 7:23
Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
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“Ter e não ter água é o mesmo que nada.” A frase é dita com um misto de constrangimento e revolta pelo aposentado Manoel Antônio dos Santos, 72 anos, enquanto tenta, mais uma vez em vão, abrir a torneira em busca de água na sua humilde casa em Jataúba, no Agreste do Estado, a 229 quilômetros do Recife. A indignação dele tem a ver com o fato de que a poucos quilômetros dali a barragem do Sítio Luiza, que abastece (ou deveria abastecer) a cidade de 17 mil moradores, está completamente cheia há mais de um mês. Depois de sete anos de seca, o reservatório voltou a encher e sangrou no dia 4 de março após as chuvas no Agreste, mas não está distribuindo água devido a problemas na rede.

“É um absurdo, né? Quando não tinha água tudo bem, mas agora com a barragem derramando lá e você sem água em casa, tendo que comprar. Isso tá errado, né não, seu moço?”, questionou, com razão, Manoel. A situação dele é a mesma de moradores de outras localidades próximas, como a do distrito de Poço Fundo, em Santa Cruz do Capibaribe, que em pleno período de estiagem comemoraram ao ver sua barragem voltar a acumular água com as chuvas após cinco anos completamente seca, mas ainda não a receberam em casa.

Enquanto a aguardada água não chega na casa de seu Manoel, em Jataúba, ele continua gastando R$ 140 no carro-pipa. Cabe a sua esposa Severina da Soledade, 71 anos, o desafio de fazer o “investimento” render ao máximo. “A gente faz de tudo pra ver se a água dura pelo menos um mês e 15 dias. Mas é um sufoco, viu? Tem que economizar cada gota. É lavar roupa com um balde embaixo pra aproveitar no banheiro”, contou Severina, mostrando a engenharia que faz no tanque da residência para não deixar o precioso líquido escapar.

Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
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A ausência de água na casa dos aposentados contrasta com a abundância na barragem do Sítio Luiza, de 300 mil metros cúbicos de capacidade, que de tão cheia se transformou até em “parque aquático”. Alguns moradores estão indo até o local para se refrescar nas margens do reservatório ou simplesmente usar o paredão dele como trampolim para mergulhos. “A última vez que eu vim tomar banho aqui tinha 15 anos, hoje com 27 poder voltar a mergulhar aqui é uma alegria só. Isso graças ao nosso Deus que encheu isso tudo”, disse o autônomo Gilberto Melo, entre um salto e outro.

Alegria de um lado da barragem, medo do outro. O próprio Gilberto levou a equipe do JC até a base do paredão e mostrou algumas rachaduras e buracos por onde a água estava vazando. “Desse jeito faz até medo ele estourar e destruir tudo aqui. E enquanto não consertam isso tá aí a água vazando, jogada fora, em vez de ser mandada para as casas da gente”, reclamou o autônomo, indignado.

Indignação vista também na pequena vila de Poço Fundo, de apenas quatro mil moradores, localizada bem ao lado da barragem do distrito. O reservatório passou cinco anos em colapso e com as chuvas do mês passado recebeu 5,4 milhões metros cúbicos de água, o que representa quase 20% de sua capacidade, mas os moradores permanecem sem água em casa. Por isso, o agricultor Ivo Otaviano da Silva, de 56 anos, percorre quase um quilômetro com botijões em um cavalo para enchê-los na barragem. “Se a água não chega na torneira vai se fazer o quê? Tem que vir buscar mesmo. Se a gente precisa tem outro jeito não”, disse, em tom de resignação.

REPAROS

A Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) informou que por conta do grande período em que estiveram desativados os sistemas de distribuição necessitam de reparos que, segundo ela, já estão sendo feitos. “Precisamos realizar uma série de ações para reativar a operação das adutoras, manutenção nos conjuntos motobombas e intervenções na estação de tratamento de água”, afirmou o diretor regional do interior, Marconi de Azevedo.

Em relação aos buracos na barragem de Jataúba, a companhia garantiu que não há risco dela se romper. Segundo a Compesa, no último dia 28 foi iniciada a fase de testes para retomar a distribuição de água e que durante esse processo poderá haver interrupções do abastecimento para conserto de vazamentos. “Após vários anos sem água na adutora e na rede de distribuição é normal a ocorrência desses vazamentos, até a pressurização das tubulações e equilíbrio do sistema do abastecimento”, disse o gerente da Unidade de Negócios da Compesa, Bruno Adelino.

Apesar do acúmulo de água nestas duas barragens e em outras da região devido às chuvas, a companhia ressalta que o Agreste ainda sofre com um grande déficit hídrico. “Tivemos alguns acúmulos em algumas barragens, mas ainda estamos em um período crítico de abastecimento. Temos esperança de um horizonte bom com a obras do governo como a adutora do Alto do Capibaribe que vai abastecer a região do Agreste Setentrional e diminuir o sofrimento dos moradores. E também a Adutora de Serro Azul que já foi licitada e estamos aguardando o início das obras”, explicou o gerente da unidade de negócios da Compesa Mario Heitor Filho.

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