DESPEDIDA

João Pontes, cacique da aldeia Fulni-ô, é sepultado em Águas Belas

O líder morreu com 93 anos e esteve à frente das decisões da tribo por cerca de 60 anos

EDMÉA UBIRAJARA
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EDMÉA UBIRAJARA
Publicado em 20/08/2018 às 0:00
Foto: Edméa Ubirajara/Especial JC
O líder morreu com 93 anos e esteve à frente das decisões da tribo por cerca de 60 anos - FOTO: Foto: Edméa Ubirajara/Especial JC
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O silêncio dentro e ao redor da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, na aldeia Fulni-ô, só foi quebrado pelos cânticos em homenagem ao cacique. Neste domingo (19), foi sepultado João Pontes, 93 anos, a maior autoridade da tribo de Águas Belas, no Agreste pernambucano. Caravanas participaram da despedida do líder, respeitado em todo o Brasil pela forma pacífica de mediar conflitos.

A igreja recebeu indígenas e não indígenas para se despedir do cacique, que esteve à frente das decisões da tribo por cerca de 60 anos. O cortejo feito a pé, ao som de cânticos da língua nativa Yathê e mensagens gravadas pelo próprio cacique (e reproduzidas em carro de som) pedindo paz e união, terminou no Cemitério Público Municipal. Findou a jornada do grande líder e começam os rituais restritos para a definição do próximo cacique.

Um dos netos, Raonny de Albuquerque Santos Barros, contou emocionado que o avô liderou a comunidade buscando manter a harmonia. “Fui criado com ele, entendendo o que eram limites, respeito e ordem, com um sistema rígido. Meu avô foi a referência do apaziguador, que dá o norte e mostra o caminho certo, sempre tentando intervir nas questões e buscando o meio termo para adequar as situações sem conflitos. Ele deixou um legado de cidadão e pai para todos”, detalhou Raonny. “Era uma autoridade tão respeitada que não precisava sequer levantar a voz para ser ouvido. Um líder nato e muito importante do ponto de vista histórico e cultural”, completou Genivaldo Menezes, ex-prefeito da cidade presente no velório.

TRAJETÓRIA

O nome no registro de nascimento era João Francisco dos Santos Filho. Nascido em 1925, em Águas Belas, trabalhou na agricultura quando criança. Um médico judeu, que chegou à cidade para cuidar dos índios, o levou para estudar no Rio. João ainda atuou como jogador amador no América (MG) e se orgulhava de contar que jogou no Maracanã antes mesmo de Garrincha. Voltou para a cidade natal como coordenador no Serviço de Proteção ao Índio, indicado pelo Marechal Rondon. Amante das antigas serestas, casou com Elba e teve quatro filhos.

Segundo o Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena, em 2014 existiam 4.689 índios na aldeia de Águas Belas.

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