Entrevista

''A gente só quer trabalhar'', diz líder de carroceiros

Líder de categoria diz que só no Recife são mais de cinco mil carroceiros

Margarette Andrea
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Margarette Andrea
Publicado em 18/12/2018 às 7:26
Guga Matos/JC Imagem
Líder de categoria diz que só no Recife são mais de cinco mil carroceiros - FOTO: Guga Matos/JC Imagem
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Marcos Batista, 43 anos, líder dos carroceiros no Recife, diz que os carroceiros querem continuar na profissão e que a atividade sustenta mais de 20 mil pessoas no Recife. Ele defende a exclusão dos que maltratam animais e deixam menores pilotando as carroças. E afirma que o Recife não cadastrou sequer esses profissionais após a aprovação de lei que proíbe a circulação de veículos de tração animal, em 2013. Segundo ele, protesto realizado nesta segunda, pode se repetir.

JC – Qual o motivo do protesto e o que foi acordado com a prefeitura?
MARCOS BATISTA – O vereador Romero Albuquerque (PP) divulgou que no dia 19 de janeiro iam começar a tomar nossas carroças. Então, fomos para as ruas. Mas a prefeitura disse que não procede, nos deu um documento garantindo que podemos rodar e que vamos nos reunir nos próximos dez dias para discutir a regulamentação.

JC – O que os carroceiros querem?
MARCOS – O que a gente quer é trabalhar normalmente. Em Ouricuri (Sertão) emplacaram as carroças e todos os problemas se resolveram. Não tem mais menor de idade pilotando, não tem maus-tratos nem gente andando na contramão. Errou, perde o direito. É assim que tem que ser.

JC – Em 2013, a categoria chegou a ser cadastrada pelo município? Vocês sabem quantos são?
MARCOS – Não, disseram que iam nos chamar, mas não chamaram. No abaixo-assinado que fizemos tinha cinco mil assinaturas só do Recife. Mas muito mais gente vive disso.

JC – Quem mais sobrevive disso?
MARCOS – Se você considerar que cada um tem uma esposa já são dez mil. Contando dois filhos por casal são 20 mil. Fora as pessoas que fornecem ferradura (como eu), carroças, couro, arreio, grampo, comida, medicamento...

JC – Que tipo de trabalho os carroceiros realizam e quanto ganham?
MARCOS – A gente carrega de tudo. Material de reciclagem, de construção, móveis, feira. Cada um negocia seu preço, mas se você considerar R$ 15 por uma carga de areia e a pessoa pegar dez cargas no dia são R$ 150. No mês pode chegar a R$ 4,5 mil.

JC – E para manter um cavalo?
MARCOS – Um cavalo come nove quilos de ração por dia, gasto em média R$ 150 no mês com meus seis animais.

JC – Vocês não veem outra forma de trabalhar?
MARCOS – Vamos viver de quê? A maioria tem pouco estudo. Só sabe fazer isso. Eu fui no Senai ver um curso era só até 21 anos e precisava ter o primeiro grau completo. Tem gente de idade que não sabe ler, vai aprender agora pra quê? Qual é o projeto da prefeitura? mais gente desempregada? mais crianças nos sinais pedindo esmola?

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