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Projeto #UmaPorUma tem destaque internacional

Iniciativa do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação foi apresentada neste sábado (23) em evento na Cidade do México

Mona Lisa Dourado
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Mona Lisa Dourado
Publicado em 23/02/2019 às 21:37
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Iniciativa do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação foi apresentada neste sábado (23) em evento na Cidade do México - FOTO: Foto: Divulgação
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CIDADE DO MEXICO - O projeto multimídia #UmaPorUma, que conta as histórias de todas as mulheres assassinadas em Pernambuco no ano de 2018, com atenção especial para os casos de feminicídio, ganhou neste fim de semana projeção internacional. Desenvolvida por 31 profissionais de todos os veículos do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação, a iniciativa inédita na imprensa brasileira foi apresentada neste sábado (23) em evento na Cidade do México que reúne lideranças femininas, pesquisadoras e jornalistas da América Latina para discutir estratégias de enfrentamento e erradicação da violência de gênero no mundo. O encontro é promovido pelo Centro para a Liderança Mundial das Mulheres (CWGL, na sigla em inglês), sediado na Universidade Rutgers, nos Estados Unidos.

“A violência de gênero desconhece fronteiras. À parte uma ou outra peculiaridade regional, percebemos em nossa troca de experiências que as características das agressões contra as mulheres são as mesmas no Brasil, no México, Peru, Guatemala, Argentina, Venezuela, Honduras ou EUA. As raízes estão no mesmo machismo que insiste em querer delegar uma posição de submissão as mulheres e reage com fúria quando é desafiado, chegando ao extremo do feminicídio”, diz a editora Mona Lisa Dourado, que representa o coletivo do #UmaPorUma no México. “O nosso projeto e tantos outros apresentados aqui mostram o quanto o jornalismo feito com responsabilidade, contextualização e aprofundamento continua sendo vital para a garantia de direitos e a democracia”, completa.

Coordenadoras do #UmaPorUma, Ciara Alves e Julliana de Melo destacam que a participação no evento representa mais uma chancela aos processos e métodos utilizados da concepção à execução do projeto, que desde o primeiro momento buscou a parceria entre o SJCC e as entidades públicas, como a Secretaria de Defesa Social, o Ministério Público e o Tribunal de Justiça de Pernambuco.

“O #UmaPorUma é um projeto corajoso de investigação cuja maior força está no fato de ser realizado por um time de jornalistas que assumiram a responsabilidade de reportar a violência de gênero de modo claro e objetivo, capaz de impactar a opinião pública e mudar realidades. Vejo um enorme potencial replicar essa experiência em outra regiões”, ratifica Cosette Thompson, consultora afiliada do CWGL”, ratifica Cosette Thompson, consultora afiliada do CWGL. A instituição foi criada há 25 anos com a primeira campanha “16 dias de ativismo contra a violência de gênero” e desde então contribui por meio de inúmeras ações para uma maior consciência em âmbito global sobre a violência de gênero como violação dos direitos humanos das mulheres. “Os meios de comunicação são um agente chave para mudar ou perpetuar atitudes”, reforça, destacando a importância da linguagem. “Tanto as vozes, como a terminologia e as escolhas semânticas são essenciais.”

Cosette adianta que o encontro deste fim de semana é parte de um projeto global para o desenvolvimento de uma ferramenta impressa e multimídia que ajude a estabelecer padrões conceituais, éticos e legais para a cobertura de temas relacionados à violência de gênero. Isso inclui um glossário com referências cruzadas, documentos internacionais e regionais de proteção aos direitos humanos, testemunhos pessoais, casos de estudo, exemplos de melhores práticas, fotografias, bibliografia e lista de organizações e instituições especializadas.

Trata-se de um importante recurso não só para jornalistas e escolas de comunicação, mas também para responsáveis por elaborar políticas públicas em âmbito local, nacional e internacional, pesquisadores e defensores dos direitos humanos, centros de estudos de gênero, profissionais encarregados de aplicar a lei e todos os envolvidos com a rede de proteção às mulheres.

Reconhecimento

A contribuição do #UmaPorUma para o combate a violência contra a mulher já foi reconhecida pelo menos outras três vezes em 2018, quando o projeto foi vencedor da 40ª edição do Prêmio Vladimir Herzog e do 24º Prêmio Cristina Tavares de Jornalismo, além do 7º Prêmio Amaerj Patrícia Acioli de Direitos Humanos.

Mais que produzir estatísticas, o #UmaPorUma dá voz, nome, rosto e história a cada uma das 241 mulheres assassinadas em Pernambuco no ano passado, 83 delas vìtimas de feminicídio. O projeto mapeia onde as mataram, as motivações do crime, acompanha a investigação e cobra punição dos culpados. No site www.umapouma.com.br, é possível buscar os casos pesquisando pelo nome da vítima, localidade, idade e parentesco com o agressor, entre outros vários parâmetros. As chocantes cenas de crime foram transformadas em ilustrações que expõem a dor, mas não a vítima que já foi alvo de crueldade.

A cada mês, nas páginas do Jornal do Commercio e na versão web, também foram publicadas ao longo do ano reportagens que contextualizam os atos de violência e os relacionam às suas causas de origem. A construção do banco de dados se encerrou no dia 31 de dezembro, quando os casos pararam de ser contabilizados. “Mas continuarão sendo acompanhados até o julgamento de cada assassinato. Esse é o nosso compromisso em respeito à memória de cada uma dessas mulheres, para que não sejam esquecidas e para que outras de nós não tenham o mesmo destino”, conclui Mona Lisa.

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