Exposição "Santos Negros" prorrogada no Museu de Arte Sacra
A mostra Santos Negros ficará em cartaz até o segundo semestre de 2019. Museu está localizado no Alto da Sé em Olinda
O Museu de Arte Sacra de Pernambuco (Maspe), localizado na Sé de Olinda, prorrogou a data de encerramento da exposição Santos Negros, que está em cartaz desde novembro de 2018. Programada para terminar na próxima segunda-feira, 13 de maio, a mostra se estenderá até o início do segundo semestre. “Vamos concluir a exposição com o lançamento do catálogo dos santos negros”, informa Iron Mendes de Araújo Júnior, historiador do Maspe.
Ilustrado com fotografias de todos os santos selecionados para a mostra Santos Negros, o catálogo também vai trazer a história de cada um deles, curiosidades e iconografia, com a tradução para o público dos símbolos associados às imagens. O São Benedito das Rosas, por exemplo, remete a um dos milagres atribuídos ao mais popular santo negro da Igreja Católica, explica Iron Mendes de Araújo Júnior.
Responsável pela dispensa do convento onde morava, São Benedito costumava pegar alimentos da comunidade religiosa e doar aos pobres. “Um dia, ele foi flagrado pelo supervisor e ao ser questionado pelo volume que carregava, respondeu que eram rosas. Quando teve de provar, os pães haviam se transformado em rosas”, relata o historiador do Maspe.
A imagem de Elesbão pisando numa figura masculina reproduz a vitória do santo negro sobre o rei judeu que perseguia cristãos. O rei é representado tanto como uma pessoa de cor branca quanto de pele escura. A igreja cercada por labaredas de fogo que Santa Efigênia segura com uma das mãos simboliza o convento que ela construiu e foi incendiado.
Um primo da jovem, que queria se casar com ela, provocou o incêndio porque não aceitava a recusa, informa Iron Mendes. “Ela rogou a Deus que salvasse o convento e o fogo não atingiu a igreja. Santa Efigênia é considerada a protetora contra os incêndios”, acrescenta. A imagem também segura uma folha de palmeira, indicando que se trata de uma santa mártir.
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Com organização do gestor do Maspe, padre Rinaldo Pereira, de Anazuleide Ferreira (atua na Unidade de Conservação e Documentação do Maspe) e de Iron Mendes de Araújo Júnior, o catálogo dos santos negros será publicado pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) e poderá ser comprado no museu. A data de lançamento não está definida.
“O catálogo vai enriquecer o projeto da exposição, criada para levar informações ao público sobre a santidade dos negros na Igreja Católica, é preciso divulgar essa história e mostrar a importância dos negros nas confrarias e irmandades religiosas criadas no Brasil”, destaca Iron Mendes. Mais de quatro mil pessoas visitaram a mostra, desde 20 de novembro de 2018.
Inédita no País, a exposição Santos Negros reúne cerca de 20 imagens pertencentes ao acervo de oito igrejas do Recife e de Olinda, do Maspe e da Arquidiocese de Olinda e Recife. Segunda-feira (13), dia em que a exposição seria encerrada, o museu abrirá excepcionalmente para receber o público, no horário das 10h às 17h, e não vai cobrar taxa de ingresso.
Na ocasião, o Maspe oferecerá uma mediação temática aos visitantes. “Vamos estabelecer conexões entre a exposição e a abolição da escravatura”, avisa o historiador, em referência ao aniversário de 131 anos da assinatura da Lei Áurea, que acabou oficialmente com a escravidão no Brasil em 13 de maio de 1888, no século 19.
Acervo
Só uma santa de cor branca é exibida na mostra Santos Negros, Nossa Senhora do Rosário (protetora dos homens pretos, pardos ou brancos), que divide o mesmo ambiente com a padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida. Na sala, onde o ar recende a folhas de canela, o visitante também escuta a voz pausada do arcebispo emérito de Olinda e Recife, dom Helder Camara (1909-1999), recitando a Prece à Mariama.
Dom Helder declamou a oração na primeira edição da Missa dos Quilombos, celebrada no Pátio do Carmo, no Centro do Recife, em 1981. Ele era arcebispo de Olinda e Recife e presidiu a cerimônia. Os curadores da mostra, padre Rinaldo e a arquiteta Dió Diniz, também selecionaram para compor a exposição um manuscrito da Igreja da Madre de Deus no qual uma criança ganha a alforria na pia batismal.
A liberdade da bebê, chamada Maria crioula no documento, foi comprada por 100 mil réis. Ela nasceu em 26 de setembro de 1863 e foi batizada em 31 de maio de 1864. A Lei do Ventre Livre, que libertava os filhos das mulheres escravas no Brasil, seria assinada apenas em 1871. “Santos Negros é uma exposição com muitos sentidos e significados”, avisa o historiador do Maspe.