Arquitetura

Arquiteto lança livro sobre palacetes e solares do Recife do século 19

A publicação, elaborada por José Luiz Mota Menezes, será lançada às 17h desta quarta-feira (29/05) no Museu do Estado de Pernambuco, no bairro das Graças, Zona Norte do Recife

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 29/05/2019 às 8:08
Guga Matos/Acervo JC Imagem
FOTO: Guga Matos/Acervo JC Imagem
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O arquiteto e urbanista José Luiz Mota Menezes tinha 9 anos de idade quando migrou de Pilar (Alagoas) para o Recife, em 1945. Naquela época, a diversão do menino, nos dias de domingo, era bater perna nas ruas com o pai. Nesses passeios despretensiosos ele viu, pela primeira vez, os casarões da cidade. “Ficava impressionado com a Rua da Aurora e com os palacetes da Rua Benfica”, recorda José Luiz, 83, que lança nesta quarta-feira (29/05) o livro Palacetes e Solares dos Arredores do Recife, às 17h, no Museu do Estado de Pernambuco.

Professor emérito da Universidade Federal de Pernambuco e um dos maiores conhecedores da evolução urbana do Recife, José Luiz apresenta aos leitores o resultado de um longo trabalho de pesquisa. A publicação, como ele mesmo explica, não narra a história da arquitetura, mas a história social de uma cidade em transformação. Os palacetes e solares, construções bem diferentes dos sobrados de paredes conjugadas, introduzem um novo modo de vida no Recife do século 19.

Edmar Melo/Acervo JC Imagem
No antigo solar do Barão de Beberibe, nas Graças (Recife), funciona o Museu do Estado de Pernambuco - Edmar Melo/Acervo JC Imagem
Leo Mota/JC Imagem
O Museu do Estado é uma construção de arquitetura eclética, com colunas clássicas e janelas góticas - Leo Mota/JC Imagem
Guga Matos/Acervo JC Imagem
Palacete Henry Gibson, na Av. Rui Barbosa (Graças-Recife), é a moradia da família Batista da Silva - Guga Matos/Acervo JC Imagem
Bobby Fabisak/JC Imagem
A Academia Pernambucana de Letras está instalada no solar do Barão Rodrigues Mendes, nas Graças - Bobby Fabisak/JC Imagem
Felipe Ribeiro/JC Imagem
Casarão principal da Academia Pernambucana de Letras (Recife) ambientado como moradia do século 19 - Felipe Ribeiro/JC Imagem
Felipe Ribeiro/JC Imagem
O solar do Barão Rodrigues Mendes, do século 19, nas Graças, é tombado como patrimônio brasileiro - Felipe Ribeiro/JC Imagem
Felipe Ribeiro/JC Imagem
No museu da APL há móveis que pertenceram ao Barão Rodrigues Mendes e acervo reunido pela academia - Felipe Ribeiro/JC Imagem
Aslley Melo/Acervo JC Imagem
Palacete da Rua Benfica, no bairro da Madalena, Zona Oeste do Recife - Aslley Melo/Acervo JC Imagem
Edmar Melo/Acervo JC Imagem
Na Rua Benfica, bairro da Madalena, no Recife, palacete foi transformado em casa de recepções - Edmar Melo/Acervo JC Imagem

 

As edificações com jardins caprichados e ricamente mobiliadas, seguem um modelo europeu de moradia. “Lembram as casas de campo inglesas”, comenta o arquiteto, acrescentando que grandes festas eram realizadas nos solares por filhos e netos dos proprietários. “Eles estudavam na França e traziam o costume das festas galantes para cá”, informa o professor.

“O Recife deixa de ser a cidade amarga dos becos estreitos e sombrios sobrados para ser festiva e alegre. Em alguns palacetes havia festa toda semana, era uma afirmação do poder financeiro.” José Luiz mapeou palacetes e solares ainda existentes na Madalena (Zona Oeste), Graças, Poço da Panela e Apipucos, na Zona Norte.

Um dos solares mais antigos do Recife, diz o pesquisador, pertencia a Bento José da Costa e ficava na área do atual Parque da Jaqueira, na Zona Norte. “Há referências a essa casa, que caiu muitos anos atrás, em 1821 e 1830”, relata. Entre as edificações ainda existentes a mais antiga seria o solar de Othon Bezerra de Melo, na esquina da Rua Cardeal Arcoverde com a Avenida Rui Barbosa (Graças), que perdeu a função de moradia. “Infelizmente, está modificado”, observa.

Palacetes e solares surgiram com o declínio dos engenhos de cana-de-açúcar. A atividade, que teve seu apogeu nos séculos 16 e 17, perde importância no século 19 quando as grandes propriedades se instalam em Goiana e no Cabo de Santo Agostinho, atuais municípios da região metropolitana, explica. “Os engenhos são parcelados em grandes sítios e neles são construídos os casarões, ocupados por comerciantes.”

Veraneio

Inicialmente, os casarões servem para o veraneio das famílias de imigrantes portugueses, ingleses e franceses que viviam no Bairro do Recife e em Santo Antônio, no Centro. “As pessoas fugiam do calor nos sobrados no verão, porém numa cidade como o Recife, quase sem inverno, isso significava o ano quase todo”, pondera o arquiteto. Os solares, próximos ao Rio Capibaribe eram mais frescos.

O Barão de Beberibe era proprietário do casarão na esquina da Rua Amélia com a Avenida Rui Barbosa, nas Graças, hoje ocupado pelo Museu do Estado e que sediará o lançamento do livro; o Barão Rodrigues Mendes viveu num solar na esquina das Avenidas Rui Barbosa e Doutor Malaquias, nas Graças, onde funciona a Academia Pernambucana de Letras; o Barão do Livramento tinha o seu pouso na Rua Benfica, na Madalena, no imóvel que abriga o Batalhão de Choque da Polícia Militar; o palacete de Henry Gibson, na Rui Barbosa (Graças), em frente ao Colégio Damas, mantém a função de moradia e pertence aos Batistas da Silva.

A arquitetura neoclássica predomina e uma das exceções é o Palacete Henry Gibson, de arquitetura eclética, aquela que mistura vários estilos. Para produzir o livro, José Luiz fez a superposição de plantas da cidade até encontrar os mais antigos e os mais novos; identificou proprietários e o modelo adotado nos casarões; classificou e ordenou um a um.

“É um livro que não se esgota nele, uma publicação para estimular a ampliação da pesquisa”, diz José Luiz. Palacetes e Solares dos Arredores do Recife tem financiamento do Funcultura e projeto do Bureau de Cultura. Pode ser comprado em livrarias por R$ 30. Parte da edição é destinada a instituições de cultura e ensino.

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