Moradores de Barreiros, na Mata Sul do Estado, foram surpreendidos, na noite da última terça-feira (28), por fortes chuvas. Até as 6h dessa quarta-feira (29), choveu 212 milímetros, 75% do esperado para o mês de maio, de acordo com a Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac). Casas e ruas ficaram alagadas. Segundo a Defesa Civil do município, 376 famílias foram, de alguma forma, prejudicadas pelo grande volume de água. Nenhuma delas ficou desabrigada. Os transtornos, aponta o poder público, só não foram maiores devido à Barragem de Serro Azul, localizada em Palmares, que beneficia vários municípios da Mata Sul, entre eles Barreiros. Ela é única dos cinco reservatórios prometidos pelo Governo do Estado em 2010, após a enchente que castigou a região, a ter as obras concluídas, em 2017. A Secretaria de Infraestrutura e Recursos Hídricos espera conseguir recursos junto à União no próximo mês de julho para retomar a construção da Barragem de Panelas II, em Cupira, paralisada em outubro de 2014, por falta de verba. A expectativa é de que os cinco reservatórios estejam prontos até 2022.
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“A barragem segura um grande volume de água. Duzentos milímetros significam uma chuva muito intensa. Parte dessa vazão fica retida. Ainda assim, os alagamentos acontecem porque Barreiros tem localidades muito próximas à áreas ribeirinhas”, argumenta a secretária de Infraestrutura e Recursos Hídricos de Pernambuco, Fernandha Batista. Uma ação preventiva aconteceu em fevereiro, quando o volume alcançou cerca de 50% da capacidade total do reservatório, de 303 milhões de metros cúbicos. As válvulas dispersoras foram abertas, para reduzir 10 metros do nível da barragem, preparando a estrutura para o período chuvoso. “Foi uma operação em conjunto entre Estado e município. Estávamos em 50% e baixamos para 20% da capacidade”, completa a secretária. Ontem o volume era de 53,2 milhões de metros cúbicos de água, cerca de 20% da capacidade máxima.
Coordenador da Defesa Civil do município, Mário Joaquim Galdino também defende a importância da obra. “Serro Azul foi muito importante para Barreiros. A maior enchente que tivemos ocorreu quando ela não existia. Em 2017, ano de outra enchente, o estrago não foi tão grande por causa dessa barragem. Ajudou muito a nossa região. Se fizessem as outras, acredito que não teríamos mais tantos problemas em épocas de chuva.”
Todas as barragens tiveram obras iniciadas. Duas (Panelas II e Gatos) foram paralisadas em 2014 e as outras duas (Barra de Guabiraba e Igarapeba) em 2015. “São obras de grande porte e, por isso, o aporte do Governo Federal é fundamental. Com a crise, houve a paralisação. Fizemos algumas reuniões e temos previsão de liberação de R$ 56 milhões em julho para a conclusão da Barragem de Panelas. As obras seriam retomadas em agosto, com prazo de um ano para conclusão”, explica a secretária. Os recursos federais pendentes somam R$ 320 milhões.
TRANSTORNOS
Seis bairros foram mais afetados pelas chuvas da madrugada de ontem: Santa Gorete, Itaperibu, Prainha de Cima, Lotes, Colinas Douradas e Massa Falida. A dona de casa Amara Rosângela da Silva, 41 anos, amanheceu o dia tendo que limpar a casa onde reside com os pais, dois filhos e um neto, às margens de um córrego que deságua no Rio Una, no bairro Santa Gorete. “Não sei quando esse sofrimento vai acabar. Acordamos por volta das 2h com a água entrando em casa. Minha filha está grávida, ficou assustada. Perdemos cômoda, guarda roupa, sofá. Até documentos ficaram estragados”, lamentou. Sem água encanada, ela e outros parentes passaram a manhã carregando baldes para limpar a sujeira deixada pela enchente.
Vizinha dela, Jacélia Maria da Conceição, 35, relembrou o susto que tomou na madrugada. “Tenho cinco filhos pequenos. O mais novo está com cinco meses e o mais velho tem 13 anos. Foi muita lama dentro de casa. Até apareceram duas cobras. Infelizmente não temos para onde ir, o jeito é continuar aqui.” Ela contou que não deu tempo de salvar muita coisa. “Minha preocupação era proteger as crianças. A feira que tínhamos foi perdida. Até as roupas deles o rio levou”, afirmou Jácelia.
Rosemere Maria Cavalcanti, 38, colocou os pertences, entre móveis e utensílios domésticos, na frente do imóvel onde reside há sete anos, também no bairro Santa Gorete, com uma filha adolescente. “Saí de casa por volta das 2h30 para viajar para o Recife. Fui visitar um filho. Estava chovendo muito. Voltei antes porque telefonaram dizendo que estava tudo cheio de água”, comentou.