Arquitetura social

Coletivo Massapê resgata espaços públicos no Grande Recife

Formado por estudantes da UFPE e jovens arquitetos, o Coletivo Massapê defende o urbanismo colaborativo

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 10/06/2019 às 8:08
Foto: Filipe Jordão/JC Imagem
Formado por estudantes da UFPE e jovens arquitetos, o Coletivo Massapê defende o urbanismo colaborativo - FOTO: Foto: Filipe Jordão/JC Imagem
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Três anos atrás, em 2016, um grupo de jovens estudantes da Universidade Federal de Pernambuco, inquietos com a função social da arquitetura e do urbanismo, decidiram se juntar e colocar em prática os conhecimentos adquiridos na faculdade. Pensa de cá, pensa de lá, criaram o Coletivo Massapê para exercitar o urbanismo colaborativo e tentar resgatar o uso de espaços públicos mal aproveitados no Grande Recife.

O urbanismo colaborativo, explicam Laryssa Araújo e Amanda Santana, estudantes de arquitetura da UFPE e integrantes do Coletivo Massapê, não se limita à elaboração de um projeto e à execução da obra. Antes de qualquer intervenção o grupo promove diversas rodas de conversa com os moradores, para saber de que forma eles se apropriam da área e como gostariam que o lugar fosse ocupado.

Praça da Paz em Jardim Brasil I (Foto: Filipe Jordão/JC Imagem)

Como cada caso é diferente do outro, não há uma fórmula pronta para as rodas de debate. Numa das primeiras atuações do coletivo, os estudantes conversaram com habitantes de um residencial construído pelo programa Minha Casa Minha Vida em Barra de Jangada, no município de Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, para contribuir com a redução de conflitos na nova moradia.

“Eles queriam melhorar o espaço físico e organizar o pagamento do condomínio porque não tinham essa vivência anterior, não houve intervenção”, diz Laryssa Araújo. Da experiência em Barra de Jangada o Coletivo Massapê foi parar na Vila Santa Luzia, situada no bairro da Torre, Zona Oeste do Recife. Depois de quatro sessões de cinema na rua, seguidas de discussões sobre espaços públicos na comunidade, partiram para duas ações práticas.

Na Praça Gregório Bezerra, transformada em estacionamento de veículos e depósito de lixo, os alunos se empenharam, inicialmente, em fazer as pessoas entenderem que aquela área era uma praça e poderia ter outro tratamento para uso coletivo. “Não sabíamos como conseguir financiamento na época, então construímos brinquedos de duração temporária num mutirão com a comunidade, uma intervenção pequena, chamando a atenção para o lugar”, diz Amanda Santana.

Horta e Praça

A segunda ação na Vila Santa Luzia, dessa vez com financiamento do Fundo Socioambiental Casa da Caixa Econômica, resultou na implantação de uma horta orgânica às margens do Rio Capibaribe. “Conseguimos aprovar um projeto no valor de R$ 30 mil”, informa Laryssa Araújo. O trabalho foi realizado em 2018, no Espaço RioTeca, criado pelo marceneiro Claudemir Amaro da Silva, morador da comunidade, com o apoio da vizinhança. A horta, informa Claudemir Amaro, continua dando hortaliças e ervas medicinais às famílias.

 Horta comunitária na Torre (Foto: Filipe Jordão/JC Imagem)

“Quando a comunidade participa das etapas da intervenção, desde o início, ela vai cuidar com mais carinho do lugar, a gente acredita nisso”, destaca Amanda Santana. “A partir do trabalho na Vila Santa Luzia definimos nosso foco no urbanismo colaborativo, feito com as pessoas e para as pessoas”, complementa Laryssa Araújo. O Coletivo Massapê é formado por seis pessoas, sendo um arquiteto, uma concluinte do curso e quatro estudantes.

De janeiro a abril de 2019, com financiamento do Fundo Ciranda, do Instituto Bernard Van Leer, o grupo ajudou a revitalizar uma praça degradada no bairro de Jardim Brasil I, em Olinda. “Concorremos no edital voltado para a primeira infância e recebemos R$ 8 mil, o valor é pequeno mas alcançamos nossa meta com o engajamento dos moradores”, destacam Amanda e Laryssa.

O Coletivo Massapê manteve os brinquedos de cimento existentes na área e acrescentou um pergolado (espaço aberto com uma cobertura leve também chamado caramanchão) e brinquedos de madeira, moradores se encarregaram de comprar e instalar refletores, providenciar mais brinquedos, reformar bancos e fazer mesas para jogos (dama e xadrez) e outros usos. Com patrocínio de uma empresa de tintas, o muro ganhou uma pintura decorativa e jogos foram desenhados no chão.

Convivência

Prestes a se aposentar, Veruschka Dias Leal, 50 anos, é uma das moradoras que abraçaram a ideia do coletivo Massapê. “Não tenho filhos pequenos nem netos, fiz pela comunidade e pela saúde das crianças. Hoje, muitas mães me agradecem porque os filhos já pedem para brincar na praça. Elas ficavam angustiadas porque os meninos, por falta de opção de lazer, passavam muitas horas na internet em celular e computador, o retorno é gratificante”, comenta Veruschka Leal.

 Veruschka Dias Leal (Foto: Filipe Jordão/JC Imagem)

A Praça da Paz, depois da intervenção, virou ponto de encontro no bairro. “As crianças brincam juntas e os pais também interagem, os vizinhos estão conversando mais, houve uma mudança de comportamento”, observa Veruschka Leal. Ela comprou animais confeccionados com pneus de automóveis para decorar a praça e cuida da limpeza. O marido dela fez as mesas de jogos, usadas na festa do Dia das Mães na área de lazer.

“Esse lugar estava abandonado como os outros, agora temos uma atração para as crianças. Antes, não tinha o que a gente fazer aqui. É uma ação que ajuda a valorizar o bairro”, diz Lucilene Ângela Costa, 45, enquanto brincava com os netos Ana Líbia e Fabiano, de 2 anos, na Praça da Paz.

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