Neste final de semana, o Luíla e Pretinha Cineclube, iniciativa que leva cinema gratuito e diálogo a comunidade Apipucos, na Zona Norte do Recife, tem encontro marcado com os moradores da área. Em sua 9º sessão, o cineclube, que é um dos frutos do projeto Movimenta Cineclubes e Organização Popular, está com a programação repleta de atividades. Indo além da apresentação de filmes seguida por rodas de conversas, a atividade quer usar a arte como ferramenta para despertar o pertencimento e a coletividade.
As sessões começaram em abril e acontecem na sede do Conselho de Moradores de Apipucos. Sempre com temas que remetem à realidade do bairro, os filmes são apenas um dos atrativos trazidos pelos facilitadores do projeto, que chegaram até Apipucos depois de participarem do Movimenta Cineclubes. Agora, com a ajuda dos moradores, que se tornaram articuladores, o grupo de seis amigos está ajudando a resgatar a autonomia do local. “Vai muito além de sessões de cinemas. A ideia é exibir as obras e trazer o contexto para para dentro da comunidade. São criadas rodas de diálogo e a partir dos filmes pensamos novas formas de organização comunitária”, explica Andréa Almeida, jornalista e facilitadora do Luíla e Pretinha Cineclube.
O nome dado ao cineclube faz homenagem a duas antigas moradoras do bairro. Uma delas é dona Luíla Bezerra, de 86 anos, que muito contribuiu para a comunidade alfabetizando voluntariamente dezenas de crianças e jovens. A outra é dona Maria José do Carmo, mais conhecida como dona Pretinha, que faleceu em julho deste ano aos 96 anos. Apesar da idade avançada, a idosa participou das primeiras sessões do projeto e foi homenageada ainda em vida por sua dedicação ao bairro onde vivia.
As exibições acontecem duas vezes no mês, nos finais de semana, e sempre são acompanhadas de outras atividades. Para este sábado, antes do filme começar, será implementada a segunda etapa do projeto Farmácia Viva, que consiste na criação de uma horta comunitária vertical com plantas medicinais na sede do Conselho de Moradores. A ideia é que, posteriormente, cada morador possa implementar hortas em casa e produzir seus próprios alimentos.
As atividades são promovidas por cinco Grupos de Trabalho (GT) - Soberania Alimentar, Infraestrutura, Memória, Jurídico e Articulação - criados pelos facilitadores para atuar na solução das demandas levantadas pelos moradores de Apipucos. “Nós temos um GT para cuidar da reestruturação física do Conselho e trazer ideias de bioconstrução para a comunidade, temos um que usa as plantas medicinais e está atuando na criação das hortas, outro cuida de assuntos jurídicos e também há o grupo de trabalho que cuida da memória do bairro. Estamos fazendo vídeos, entrevistando moradores antigos e novos, buscando documentos e fotos antigas para fazer um resgate cultural do que foi e continua sendo o bairro de Apipucos”, explica Andréa.
Unidos pelo bem do bairro
Morador do bairro desde que nasceu, o gestor de logística Isaac Gomes é membro do Conselho e se tornou um dos articuladores do Luíla e Pretinha Cineclube. Segundo ele, a comunidade precisava de atividades que trouxessem de volta o sentimento de união e coletividade. “Nós estávamos em um momento muito ruim. O Conselho de Moradores estava parado e as pessoas estavam se distanciando cada vez mais. Quando chegou, a proposta dos cineclube foi logo acatada. Agora a gente está resgatando esse sentimento, estamos fazendo atividades juntos e nos empenhando pelo bem de todos, isso é o mais importante”, comenta.
Quem também adora participar das atividades é a pequena Dandara Ferreira, de apenas 9 anos. Sempre que pode ela, que mora ao lado do Conselho, vai regar e cuidar das plantas do jardim vertical. “Eu sempre vou depois que o sol baixa, é a minha atividade preferida”, conta. A menina é incentivada pelos pais, que também participam dos GTs. “Eu moro no bairro há seis anos e nunca tinha tido nenhum envolvimento político. O cineclube despertou isso em mim e hoje eu tenho uma visão diferente. Finalmente estou fazendo algo pelo lugar onde moro”, conta a pedagoga Conceição Ferreira. Como a sede do Conselho está sem poste de energia, as sessões acontecem com a ajuda de Conceição, que cede a energia de sua casa. “Nós queremos que a situação seja resolvida o mais rápido, mas enquanto isso não acontece eu fico muito feliz de poder contribuir para esse engajamento. Essa é minha forma de incentivar”, diz.
Serviço
As atividades começam a partir das 14h. Além da criação da segunda etapa do jardim vertical, os moradores participarão de uma oficina de cura por meio de plantas medicinais. Grupo de Idosas Eternas Aprendizes da comunidade também fará parte do encontro e levará mudas para serem plantadas na horta. Em seguida, será exibido o filme “O Menino e o Mundo”. Já no domingo, a partir das 9h, a comunidade será convidada a participar do Passeio Sensorial por várias áreas do bairro. O encontro é finalizado com o 2º Seminário de Reestruturação do Conselho de Moradores de Apipucos. As atividades serão realizadas na sede da instituição, na Rua Caetés, 195.