Em um mesmo dia, afogamentos vitimaram três pessoas no litoral pernambucano. Na Praia do Paiva, no Cabo de Santo Agostinho, dois homens morreram após se afogarem enquanto tomavam banho de mar. Ao Sul do Estado, na Praia dos Carneiros, em Tamandaré, um rapaz de 28 anos desapareceu na água e só foi encontrado mais de 24 horas depois, sem vida. Ambos os casos aconteceram em áreas onde não há postos ou atuação de guarda-vidas e acendem o alerta para a segurança dos banhistas nas praias de Pernambuco, principalmente com a chegada da alta temporada.
Ocorrências em uma faixa de até 200 metros da costa ficam sob responsabilidade do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar. O órgão responsável por socorro e orientação de banhistas é o Grupamento de Bombeiros Marítimo (GBMar), que só atua em Olinda, Recife e Jaboatão dos Guararapes. As demais praias do litoral pernambucano, que tem ao todo 187 km de extensão, não contam com guarda-vidas, o que aumenta o risco de acidentes na água, como os que aconteceram nesse domingo (13).
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Além destas três cidades do Grande Recife, Itamaracá também recebe equipes nos finais de semana. Apesar da área de atuação chegar a cerca de 100 km, o subcomandante do GBMar, major Alexandre Araújo, reconhece que ainda é pouco devido a demanda. “Nós atuamos, por atribuição legal, nesses pontos da RMR, mas entendemos que ainda precisamos avançar, ir mais para o litoral até as divisas do Estado. Infelizmente não temos braços para atender Pernambuco todo, ainda que saibamos a necessidade disso”, admite. Para suprir essa necessidade, o órgão tem tentado parcerias, como é o caso da praia de Porto de Galinhas, em Ipojuca. Como é turística e recebe milhares de turistas por dia, a cidade montou postos de fiscalização municipais com a capacitação do Corpo de Bombeiros. O mesmo acontece em Igarassu, também na RMR.
Postos ativados
Nas praias atendidas pelo GBMar, semanalmente há uma média de 10 postos ativados. Nos finais de semana o número sobe para 18. São 130 militares atuando, mas só uma média de 30 estão em campo. Entre quem frequenta a praia há quem esteja satisfeito com o trabalho realizado pelas equipes e há quem acredite que apenas a fiscalização não um método efetivo. “Eu sempre vejo eles por aqui sinalizando para as pessoas saírem da água e isso, inclusive, me deixa mais segura na hora de entrar no mar”, pontua a estudante de psicologia Mariana Reis. Já para a dona de casa Amanda Braga, que costuma frequentar e nadar na praia de Boa Viagem, o trabalho deveria ser mais educativo. “A gente não vê ações educativas na praia e eu sei que isso contribui para situações como afogamento, por exemplo. Seria mais eficiente do que só gritar pedindo para você sair da água, isso intimida o banhista e acaba que não tem tanto efeito”.
Nos pontos em que o grupamento atua, o número de óbitos por afogamentos chegou a oito este ano. Os fatores que influenciam, de acordo com o subcomandante do GBMar, vão desde questões naturais do mar até falta de consciência dos banhistas. “A gente tem uma população que vê a praia como ambiente de lazer, esquecendo que, mesmo assim, é um lugar que oferece riscos. Entrar no mar sem conhecer o lugar é um risco muito grande já que aqui, por exemplo, lidamos muito com áreas de vala, responsáveis por muitos acidentes”, explica. A junção de praia e bebidas alcoólicas também entra no alerta, assim como a presença de crianças na beira-mar.
O analista de investimentos Fillipe Toscano aproveitou o feriadão em comemoração ao dia dos professores para ir à praia, em Boa Viagem. Apesar de não morar mais no Recife há 8 anos, os cuidados na hora de tomar banho de mar não foram esquecidos. “Eu fico mais na beira, tento não entrar mais que a altura do joelho e sempre estou em alerta com a maré para evitar qualquer acidente”, conta. Os cuidados foram redobrados depois que, quando criança, ele foi arrastado pela correnteza. “Quando eu tinha uns 5 anos estava tomando banho aqui em Boa Viagem e acabei sendo puxado pela correnteza. Algumas pessoas me tiraram no mar metros depois e acabei me perdendo da família. Foi um susto para todo mundo”, diz.
Tragédias
As ocorrências no mar são classificadas de 0 a 6 dependendo do grau de seriedade. No caso das vítimas do Paiva, ambas foram consideradas o grau mais alto, quando há parada cardiorrespiratória. Segundo o sargento Márcio França, que esteve na ocorrência, a suspeita é que um deles tenha se afogado e o outro, sem saber nadar, tenha tentado socorrer. “É um erro comum e, infelizmente, recorrente. A gente sempre recomenda que, se não sabe nadar, a pessoa não tente fazer o socorro dentro da água. Acionar o Corpo de Bombeiros pelo 193 é a melhor forma de ajudar”. Equipes do GBMar que atuavam em Barra de Jangada, em Jaboatão, fizeram o socorro dos dois homens, mas eles já estavam sem vida. No Paiva também não tem posto fixo ou atuação dos bombeiros marítimos.
Nos Carneiros, no litoral Sul, a vítima de afogamento foi Mayron Raphael Januário de Farias, de 28 anos. O Corpo de Bombeiros e o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (SAMU) foram acionados, mas quando chegaram o corpo já estava desaparecido. Para os familiares da vítima, a presença de guarda-vidas no local poderia ter evitado a tragédia. “Um bombeiro civil estava no local e ajudou, mas se tivesse equipes de prontidão, guarda-vidas com material, as chances dele ser resgatado na hora e com vida seriam maiores. A gente veraneia em Tamandaré há anos e eu nunca vi um guarda-vidas sequer”, lamenta Anderson Cavalcante, primo de Mayron.