O Museu de Arte Sacra de Pernambuco (Maspe), localizado no Alto da Sé de Olinda, encerra no próximo dia 30 a exposição Santos Negros, inaugurada em 20 de novembro de 2018. Mas antes de se despedir do público, o centro cultural lança um catálogo com textos, fotografias e uma pequena biografia de cada um dos santos selecionados para compor a mostra religiosa. A publicação tem 127 páginas coloridas, custa R$ 50 e extrapola o conceito de registro documental do evento.
“É quase um livro, não é só uma recordação da exposição”, declara padre Rinaldo Pereira, diretor do Maspe e um dos organizadores do catálogo Santos Negros. O lançamento será na próxima quarta-feira (13) com uma mostra de imagens de santos, das 18h às 21h, no restaurante Ilha da Kosta, situado na Avenida Rui Barbosa, 471, nas Graças, bairro da Zona Norte do Recife. É um casarão antigo, ao lado do Palácio dos Manguinhos (sede da Arquidiocese de Olinda e Recife) e na esquina da Rua Cardeal Arcoverde.
São Baltazar, o rei mago negro. Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Publicado numa parceria com a Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), o catálogo encerra o trabalho abraçado pelo Maspe de expor ao público a beleza da santidade negra da Igreja Católica. “Recebemos muitos alunos e plantamos no coração de cada um deles a semente contra o preconceito racial, a intolerância religiosa e a falta de respeito com a crença do outro, promovemos palestras com o Ministério Público de Pernambuco e com pessoas envolvidas com a causa negra”, informa o sacerdote.
A exposição apresenta imagens pertencentes a igrejas do Recife e de Olinda vinculadas à arquidiocese: Nossa Senhora Aparecida, São Benedito, Santo Elesbão, Santa Efigênia, São Baltazar, São Moisés Anacoreta, Santo Antônio de Cartagerona e São Felipe. “Pela primeira vez, no Brasil, reunimos tantos santos negros num só lugar”, diz padre Rinaldo. A única imagem branca é a de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, a santa de devoção das irmandades frequentadas por africanos e descendentes.
Nossa Senhora Aparecida. Foto: Bobby Fabisak
“Santidade não tem cor, todos somos chamados à santidade, o valor de uma pessoa não pode ser julgado pela cor da sua pele e não devemos tolerar as tentativas de demonização das religiões de matrizes africanas”, sublinha padre Rinaldo. O combate à intolerância racial e religiosa também se revela no texto de abertura do catálogo, assinado pelo cônego pernambucano Severino Martins da Silva Filho, integrante da Arquidiocese de São Paulo, ao historiar a vida de exploração e resistência da comunidade negra.
Igreja
Cônego Severino repassa seu recado de forma simples e direta: “Quando em pleno século 21 vários negros e negras são vítimas de ataques diários na redes sociais, quando um parlamentar afirma que um filho seu não casaria com uma negra por ter sido bem-educado, fica claro que a luta é contínua e longa!” No mesmo artigo ele chama a atenção para os poucos bispos negros na Igreja Católica, menos de 5% do total de bispos de acordo com dados do Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Sociais (Ceris), vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Santo Elesbão e Santa Efigênia. Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
O catálogo da exposição Santos Negros, com fotografias de Fred Jordão, pode ser adquirido no dia do lançamento e, posteriormente, no Maspe e na Igreja da Madre de Deus (Bairro do Recife). A publicação é bilíngue (português e inglês) e traz artigos do papa Francisco (Exortação Gaudate et Exsultate – Sobre a chamada à santidade no mundo atual), do historiador do Maspe Iron Mendes de Araújo Júnior e de padre Rinaldo. Contém, ainda, histórico da Missa dos Quilombos, celebrada por dom Helder Camara (1909-1999) no Centro do Recife, em 1981.
Arcebispo de Olinda e Recife à época, ele terminou a missa com um sermão de exaltação aos negros desprezados pela própria igreja. Uma cópia do manuscrito original do sermão, o poema denominado Prece à Mariama, de autoria de dom Helder, está reproduzido no catálogo Santos Negros. A publicação teve como organizadores, além de padre Rinaldo, a arquiteta Diomáris Diniz e os historiadores do Maspe Anazuleide Ferreira e Iron Mendes Júnior.