PESCADOS

Após manchas de óleo, pescadores e marisqueiras esperam feriadão para recuperar lucro

Com clientes temerosos por causa do óleo, produtos da família que vivem do mar e do mangue ficaram estocados no congelador

Julia Aguilera
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Julia Aguilera
Publicado em 15/11/2019 às 10:16
Foto: Bobby Fabisack/ JC Imagem
Com clientes temerosos por causa do óleo, produtos da família que vivem do mar e do mangue ficaram estocados no congelador - FOTO: Foto: Bobby Fabisack/ JC Imagem
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A história de Maria Lucia da Silva, 45 anos, desde sempre esteve ligada ao mangue. Catadora de marisco, aratu, caranguejo e siri, hoje em dia ela ensina aos filhos o que aprendeu com a mãe. Quando era pequena, ainda com 10 anos, começou a catar crustáceos e moluscos para ajudar na renda de casa e essa se tornou sua profissão. O lucro, mesmo sendo pouco, é o que mantém a família. Ou mantinha. Com a chegada das manchas de óleo, clientes estão temerosos e os produtos da família de Maria Lúcia e de tantos outros catadores ficaram estocados no congelador.

A expectativa é de que com a chegada do feriadão a pequena vila na beira do mangue, onde mora Maria Lúcia, na Praia de Maracaípe, em Porto de Galinhas, ganhe novo ritmo e um pouco mais de movimento. Assim como a maioria dos vizinhos, ela já estava há pelo menos 15 dias sem vender nada. “Ninguém comprou mais não, parou tudo. O pior é não ter o cliente certo. Saio oferecendo aos restaurantes, nas casas, pra ver quem compra. Depois de mais de duas semanas, vendi sete quilos, mas nem o dinheiro recebi ainda”, desabafa. Mesmo vendendo uma quantidade maior de uma vez, os valores ainda não compensam. O preço do quilo varia de R$ 25 a R$ 50. Quando se leva em conta o trabalho de catar, cozinhar, tratar e embalar, tem-se ideia do quanto a lida é desvalorizada e sofrida.

Para Maria (nome fictício), 12 anos, o manguezal representa muitas coisas. É a paisagem que vê da porta de casa, é o palco das brincadeiras, é de onde sai a renda dos pais e, por necessidade, é também trabalho. Apesar da pouca idade, a garota já consegue ir sozinha para o mangue e voltar em poucas horas com um balde cheio de siris. “Eu vou com meus pais desde que eu tenho nove anos, é bom, mas tem dia que dá preguiça e cansa. Quando dá, eu vou todo dia, mas às vezes paro pra não ficar doente com o esforço”, conta a garota, que costuma ir ao mangue quando chega da escola. Apesar do cansaço, ela diz gostar de ajudar os pais. “É bom quando eu vou e consigo pegar muita coisa. Ou quando estou lá e fico tomando banho de rio, brincando enquanto descanso.”

A situação difícil se repete na casa de Manassés Rufino. Casado e pai de dois filhos pequenos, ele se divide entre o mangue e os bicos como pedreiro. A situação já não era das mais fáceis. Em um mês bom, segundo ele, o apurado chega a no máximo R$ 200. Nestes dias sem vender, o jeito foi recorrer à praia. Só que desta vez, o pescado tem vindo direto para o prato de casa. “Ficamos comendo peixe, era a única opção. Tem gente que diz que pode estar contaminado, mas e quem quer saber? A gente precisa comer”, resigna-se.

Sem alternativas, a esperança dessas famílias está no auxílio prometido pelo Ministério da Agricultura para quem depende financeiramente da venda de peixes e crustáceos. Um cadastro está sendo feito pelo governo do Estado para contabilizar quantas pessoas devem receber a ajuda. Inicialmente classificado como Seguro Defeso, o auxílio deve chegar aos trabalhadores de outra forma depois que a portaria que instituía o pagamento foi revogada. Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Agrário de Pernambuco, cerca de 10 mil pessoas já foram cadastradas, ainda que não se saiba quando ou como esse amparo chegará.

Análise de contaminação

Cerca de 150 amostras de diferentes de pescados – moluscos, peixes e crustáceos – de 12 localidades do litoral pernambucano estão sendo coletadas pelo Estado junto com a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e a Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro para a análise de contaminação. As primeiras coletas foram enviadas na última segunda-feira (11) e devem ficar prontas em 10 dias.

Enquanto isso, Maria Lucia, que já se cadastrou na colônia de pescadores de Maracaípe, espera que as vendas comecem a melhorar com a chegada do verão e que não haja contaminação nos manguezais. “Todo o sustento da família vem disso aqui. Nunca ganhei muito dinheiro, mas é o trabalho que eu escolhi e é o que sei fazer, tenho fé que tudo voltará ao normal. Enquanto não volta, a gente vai pedindo uma ajuda aqui e outra ali.

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