O santuário do Morro da Conceição, na Zona Norte do Recife, promove neste sábado (23), às 17h, uma cerimônia inter-religiosa. Católicos, umbandistas, evangélicos, praticantes do candomblé, espíritas kardecistas e juremeiros estarão juntos, pela primeira vez, aos pés da imagem de Nossa Senhora da Conceição. A ideia é estimular a cultura de paz e abrir caminhos para um tempo não de tolerância, mas de respeito às diversas expressões religiosas existentes no País.
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Sugerido pelos padres missionários redentoristas que administram o santuário do Morro há quatro anos, o ato inter-religioso é coordenado por Paula Guedes, integrante do Terreiro Ilê Obá Ogunté Sítio de Pai Adão, em Água Fria, bairro da Zona Norte da cidade. “A retomada desse diálogo religioso, com o respeito à manifestação de fé escolhida por cada pessoa, será um dos momentos históricos da festa anual em homenagem a Nossa Senhora da Conceição”, declara Paula Guedes.
Pluralidade
Na década de 1980, quando padre Reginaldo Veloso era pároco do Morro, havia missas com a participação da comunidade afro, recorda Paula. “Nesse mesmo período, os ônibus que saíam dos terreiros com panelas de oferendas para Iemanjá paravam no monumento de Nossa Senhora e faziam reverências à santa antes de seguir para o mar, seria ótimo ver as casas de candomblé repetindo isso”, destaca.
A celebração deste sábado é aberta ao público e terá, aproximadamente, uma hora e meia de duração com orações católicas, louvores, cânticos e toadas de terreiro. Simpatizantes e seguidores das diversas religiões que subirem o Morro nesta tarde serão recepcionados ao lado da igreja pelo primeiro bloco feminino afro de Pernambuco. O Obirin (mulher ou feminino na língua iorubá) foi fundado por Paula Guedes no Morro da Conceição, em maio deste ano.
Todos os líderes religiosos que confirmaram presença na cerimônia falarão para o público, informa o reitor do santuário do Morro, padre Mailson Régis Queirós Costa. “Não queremos com esse ato formar mais católicos ou mais umbandistas, queremos mostrar que as nossas diferenças não são empecilhos para vivermos na paz”, afirma o sacerdote. O encontro, diz ele, tem função educativa na redução de preconceitos.
“Com frequência, escutamos notícias de terreiros incendiados e imagens destruídas em igrejas, a intolerância religiosa está crescendo muito no Brasil, precisamos nadar contra essa corrente de ódio travestida de amor cristão”, ressalta padre Mailson Régis. A celebração de hoje, acrescenta o missionário redentorista, reforça a vocação do Morro da Conceição como um território aberto a todas manifestações de fé.
O reitor do santuário avisa que o ato inter-religioso, a partir de agora, será incorporado à programação da pré-festa de Nossa Senhora da Conceição (a abertura oficial da Festa do Morro será quinta-feira próxima com a Procissão da Bandeira). “Vamos encerrar a cerimônia rezando o pai-nosso, por ser universal, e cantando a Oração de São Francisco, por difundir a paz”, diz. O Afoxé Omim Sabá, do Cordeiro, também participa do encerramento.
“Acho ótimo esse encontro de religiões no Morro, o papa Francisco defende esse diálogo, e é uma forma de mostrar respeito aos rituais, os caminhos são diferentes mas todos levam a Deus”, declara o presidente do Centro Espírita Olhos da Vida, France José Álvaro Mariante. “Precisamos acabar com essa intolerância religiosa, a convivência eu acho difícil, mas o respeito é necessário”, reforça o kardecista. O centro funciona no Morro há cinco anos.