Setenta e cinco dias. Foi esse o tempo necessário para Ednaldo José da Silva e Maria José da Silva saírem de uma casa insalubre, com paredes de madeirite e coberta com telhas brasilit para um imóvel de tijolos com dois quartos, sala, cozinha, banheiro e jardim interno. A nova residência, na comunidade Entra Apulso, em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, inaugura um projeto social que prevê melhorias habitacionais na área pobre do bairro sem custo para moradores que não podem pagar pelo serviço.
Ednaldo, Maria José e os cinco filhos receberam nessa quinta-feira (28) as chaves da nova casa. “Sem esse projeto eu ainda estaria vivendo do mesmo jeito porque meu dinheiro é pouco, a gente ou bem comia ou bem fazia a reforma da casa”, declara Ednaldo José, que trabalha como biscateiro. “Hoje eu tenho um palácio e não mais um barraco”, diz ele, ao se referir ao imóvel de 41 metros quadrados com piso de cerâmica, chuveiro e pia no banheiro projetado pela empresa Arquitetura Faz Bem e construído com apoio do Instituto Shopping Recife.
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A cozinha com novos eletrodomésticos. Foto de Felipe Ribeiro/JC Imagem
A proposta inicial do instituto, em parceria com os arquitetos, é reformar mais quatro casas precárias em Entra Apulso. A próxima obra começa segunda-feira (2), com prazo de 45 dias para execução. A edificação já existente, de 26 metros quadrados, será parcialmente demolida. É uma situação diferente da família de Maria José, que teve a moradia derrubada em 13 de setembro e refeita em 75 dias. “Não pretendemos acabar o projeto, queremos ajudar outras pessoas”, informa a presidente do Instituto Shopping Recife, Ione Costa.
Para conseguir os recursos necessários à construção e reforma das casas, além de móveis, eletrodomésticos e objetos de decoração, foram realizadas campanhas e brechós. “Não se trata apenas de entregar um novo lar, é uma mudança de vida para as famílias”, destaca Ione Costa. Ela avisa que a próxima edição do Brechó do Entra será realizada no período de 7 a 15 de dezembro, das 12h às 20h, no estacionamento do Shopping Center Recife, ao lado da comunidade Entra Apulso.
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Jardim interno da casa. Foto de Felipe Ribeiro/JC Imagem
“Para mim, é um sonho realizado, uma alegria, uma felicidade que não dá para explicar. Ficou muito melhor do que eu sonhei, sozinha eu jamais conseguiria fazer uma casa assim”, resume Maria José da Silva ao mostrar o quarto dos filhos com camas e colchões novos, o quarto do casal e o jardim interno que auxilia na ventilação e iluminação natural, decorado com plantas e uma rede. Ela e Ednaldo moraram 19 anos no imóvel de madeirite em Entra Apulso. “Agradeço a Deus e a essa equipe toda que contribuiu com a obra”, diz Maria José, 44 anos.
Lucas José da Silva, 23 anos, filho mais velho do casal, reforça o depoimento da mãe. “Não tinha como ficar melhor, é uma casa abençoada, não dá para fazer comparação com a outra, é uma mudança completa”, diz o rapaz. Com apoio de parceiros, a família recebeu geladeira, fogão, armário, tanquinho e quadros para enfeitar paredes.
Fazer o bem
“Todo o projeto, incluindo a escolha da mobília e dos quadros, teve a participação deles, a casa é a cara da família, só traduzimos o que eles queriam para a linguagem técnica, para campo das possibilidades”, explica o arquiteto Antonio Lucio Neto, fundador da empresa Arquitetura Faz Bem. A proposta do grupo, ressalta Antonio Neto, é mostrar que a arquitetura é capaz de transformar vidas.
As cinco casas selecionadas foram indicadas por agentes comunitários de saúde que atuam em Entra Apulso. “Eles sugeriram os imóveis mais insalubres, de extrema precariedade”, diz o arquiteto. “Somos uma empresa que executa projetos sociais, essas pessoas não podiam contratar nossos serviços, mas nós não podíamos simplesmente virar as costas para eles, por isso procuramos o Instituto Shopping e fizemos a parceria.”
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Moradia antiga da família. Foto de Leo Mota/JC Imagem
Cada imóvel tem um projeto específico para atender as necessidades dos ocupantes. “Nada é padronizado e as casas são feitas com segurança na parte elétrica e hidráulica, é uma transformação com rebatimento na saúde das famílias, estamos fomentando a saúde a partir da arquitetura”, afirma Antonio Neto. Escritórios de arquitetura parceiros do projeto doaram materiais para o revestimento das edificações, diz ele.
No momento, a Arquitetura Faz Bem desenvolve projetos de baixo custo adaptado ao orçamento dos contratantes apenas na Zona Especial de Interesse Social (Zeis) Entra Apulso. “Sabemos que há outras comunidades na mesma situação e pretendemos expandir o trabalho, estamos avaliando a possibilidade de levarmos essa ação para o Coque (Zeis situada na Ilha Joana Bezerra e bairro de São José, na área central do Recife)”, adianta.
