Patrimônio

Livro analisa pinturas da Igreja Conceição dos Militares

A publicação será lançada terça-feira (3) pelo arquiteto José Luiz Mota Menezes e pelo fotógrafo Gustavo Maia. A Conceição dos Militares fica no Centro do Recife

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 01/12/2019 às 8:08
Fotos: Leo Mota/JC Imagem
FOTO: Fotos: Leo Mota/JC Imagem
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 arquiteto José Luiz Mota Menezes e o fotógrafo Gustavo Maia lançam na próxima terça-feira (03) um livro sobre a Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Militares, construção do século 18 no Centro do Recife. Com 80 páginas ilustradas, a publicação narra a história da templo religioso católico contextualizada com a restauração e o desenvolvimento da cidade depois da saída dos holandeses do Nordeste brasileiro, em 1654.

José Luiz Menezes, autor da pesquisa histórica, traz para o leitor curiosidades sobre a igreja da Rua Nova, no bairro de Santo Antônio, edificada após 1720 em terra resultante de aterro de mangue do Rio Capibaribe. Ele apresenta a arquitetura do prédio, as fachadas, as talhas e a sacristia para chegar no foco da publicação: os medalhões do forro da nave (local onde os fiéis assistem à missa) decorados com pinturas alusivas à Virgem da Conceição.

Fotos: Leo Mota/JC Imagem
Obra de restauração recupera pintura do século 18 na Igreja Conceição dos Militares, no Recife - Fotos: Leo Mota/JC Imagem
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Painel do batismo de Cristo por São João Batista da Igreja Conceição dos Militares foi restaurado - Fotos: Leo Mota/JC Imagem
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Painel da ressurreição de Cristo decora a entrada da capela-mor da Igreja Conceição dos Militares - Fotos: Leo Mota/JC Imagem
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Desenhos em tom de azul e douramento do século 18 são recuperados na Igreja Conceição dos Militares - Fotos: Leo Mota/JC Imagem
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Pintura jaspeda (imita a pedra jaspe) azul tinha sido raspada e pintada de branco no século 19 - Fotos: Leo Mota/JC Imagem
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Mais de 1.600 livros de folhas de ouro já foram usados na recuperação do douramento da igreja - Fotos: Leo Mota/JC Imagem
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Folhas de ouro 24 quilates foram usadas para recuperar o douramento perdido com o passar do tempo - Fotos: Leo Mota/JC Imagem
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Coro da Igreja Conceição dos Militares ainda vai passar por obra para recuperar tons do século 18 - Fotos: Leo Mota/JC Imagem
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A igreja Conceição dos Militares está com as atividades religiosas suspensas desde 2014 - Fotos: Leo Mota/JC Imagem
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O púlpito da igreja, onde os padres faziam pregação no passado, já está restaurado - Fotos: Leo Mota/JC Imagem
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Restauradores removeram três camadas de verniz dos medalhões que decoram o forro da igreja - Fotos: Leo Mota/JC Imagem
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O Cristo Crucificado na arte barroca-rococó da Igreja Conceição dos Militares, no Centro do Recife - Fotos: Leo Mota/JC Imagem
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Medalhões do forro da Igreja Conceição dos Militares contam passagens da vida de Nossa Senhora - Fotos: Leo Mota/JC Imagem
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A Igreja Conceição dos Militares, na Rua Nova, demorou 58 anos para ficar pronta, de 1723 a 1781 - Fotos: Leo Mota/JC Imagem
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O serviço de restauração dos bens artísticos da igreja teve início em 2017 e termina em 2020 - Fotos: Leo Mota/JC Imagem
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Forro da Igreja Conceição dos Militares foi construído de 1760 a 1770. Falta terminar 25% da obra - Fotos: Leo Mota/JC Imagem
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Talha no retábulo da Igreja Conceição dos Militares, peça que divide a nave central da capela-mor - Fotos: Leo Mota/JC Imagem

 

“Meu interesse é o tema das pinturas, as cenas alegóricas da concepção de Maria, a pessoa que fez os 11 painéis usou uma temática proibida pelo Concílio de Trento e que não existe no Novo Testamento, os episódios foram criados, é uma temática única em igrejas do Brasil”, declara o arquiteto ao analisar a iconografia da Igreja Conceição dos Militares. O concílio foi uma reunião de autoridades eclesiásticas ocorrida de 1545 a 1563 e que teve como principais resultados a reafirmação dos dogmas da fé católica e da liturgia.

Um dos exemplos citados pelo pesquisador é a pintura da Virgem com o filho no ventre. “O tema é do final da idade média, é a anunciação associada à encarnação, a descida de Jesus Criança ao seio de Maria, não há outra igreja no Brasil com uma representação tão polêmica”, avalia. O desenho da mãe segurando nos braços o filho pequeno que mata um dragão teria como fonte o apocalipse, diz José Luiz. “Nos séculos 17 era comum Maria ser apresentada como a nova Eva, a mãe da humanidade, é um tema muito caro à contrarreforma.”

No painel central da Igreja Conceição dos Militares, a imagem de Maria vestida de sol, coroada por 12 estrelas, também remete ao apocalipse, relata José Luiz Menezes. “O medalhão com a pintura da Virgem de pé vendo o que vai acontecer com o filho que ainda vai nascer (a crucificação de Cristo), é quase surreal”, acrescenta.

 Forro da nave da igreja. Foto: Leo Motta/JC Imagem

De acordo com o arquiteto, há um sentido de leitura no conjunto de painéis produzido por autor até hoje desconhecido. “As pinturas não são de João de Deus Sepúlveda (famoso pintor do período colonial pernambucano), não tem as características dele. O artista, possivelmente, se guiou por livros e gravuras europeias, ele retratou cenas que naquele período do século 18 a igreja não as aceitava mais”, diz José Luiz.

O livro intitulado Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Militares no Recife – A Arte da Imagem contém informações sobre as pinturas dos altares colaterais (a ressurreição e o batismo de Cristo), da capela-mor (anunciação e apresentação de Maria no templo) e da parte de baixo do coro (a Batalha dos Guararapes travada no século 17 entre holandeses e luso-brasileiros). Os desenhos não são do mesmo pintor do forro, afirma o arquiteto.

Restauração

Gustavo Maia explica que as imagens do livro foram produzidas em 2014, quando ele fotografou as pinturas dos forros de madeira da igreja, orientado por José Luiz. Na época, a Conceição dos Militares estava coberta por tinta branca, que escondia a pintura jaspeada azul (imita a pedra jaspe) do século 18 na moldura dos medalhões, púlpitos, tribunas e sanefas.

A obra de restauração artística, contratada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e que recupera a pintura barroca-rococó, começou em 2017 e termina em 2020. “Essa intervenção não interfere no conteúdo da publicação”, diz José Luiz. A igreja é tombada pelo Iphan como monumento brasileiro.

 Ressurreição de Cristo no altar colateral. Foto: Léo Motta/JC Imagem

“Uma edificação tem muitas interfaces e nada nela se conclui em termos de sua história. Sempre temas nos surgem para enriquecimento do seu conhecimento e razões da sua existência”, ressalta o arquiteto. O lançamento será às 17h no Museu do Estado de Pernambuco (Avenida Rui Barbosa, 960), nas Graças, Zona Norte do Recife. A edição impressa traz um QR Code com o pdf em formato acessível e áudio descrição.

Bibliotecas, instituições públicas e entidades culturais receberão exemplares gratuitamente. O projeto é do Bureau de Cultura com apoio do Fundo de Incentivo à Cultura do Estado de Pernambuco (Funcultura). O livro com a iconografia da Igreja Conceição dos Militares custa R$ 30.

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