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Deslizamento que matou 7 pessoas em Dois Unidos permanece sem culpado

Compesa adiou mais uma vez a conclusão do laudo que investiga as causas do deslizamento - agora sem previsão. Para moradores, tragédia foi causada pelo vazamento de um cano de água

Maria Lígia Barros
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Maria Lígia Barros
Publicado em 30/01/2020 às 20:20
Foto: JC Imagem/ Alexandre Gondim
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Quase quarenta dias depois do deslizamento de morro que vitimou sete pessoas na véspera de Natal, em Dois Unidos, Zona Norte do Recife, ninguém foi responsabilizado.

Mais uma vez, a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) adiou o prazo da conclusão do laudo técnico que investiga as causas do incidente - agora sem previsão.

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Os familiares das vítimas, que moram no entorno das duas casas atingidas e convivem diariamente com a cena da tragédia, relatam que a terra veio abaixo depois de um cano vazar água por baixo da encosta.

Inicialmente, a Compesa entregaria o laudo dentro de um mês, em 24 de janeiro, mas a data foi postergada para esta quinta-feira (30). Por meio da assessoria de imprensa, a Compesa afirmou que o documento não fica pronto nesta data, e que, quando ele for finalizado, passará por análise de técnicos da Companhia e da Secretaria Estadual de Infraestrutura.

Todos os mortos eram da mesma família. Agora, tudo que seus parentes mais querem são respostas. Angustiada, a dona de casa Alexsandra de França, 46, que perdeu o filho de 25 anos Emanuel Henrique de França e o neto, espera uma resolução. “Demora. Me deixa louca. Me sinto do mesmo jeito, parece que foi hoje. Não consigo esquecer nada, nada, nada”, conta, às lágrimas. O sofrimento emocional é sentido também no corpo. “Fiquei o dia todinho com dor. Pode ter certeza, de coração, eu só estou viva por causa da minha filha. Se não, não faria questão de nada”, revela.

Alexsandra sofre diariamente com as lembranças do dia do que classifica como o pior de sua vida. “Todo dia eu venho e beijo a parede da casa para sentir o cheirinho do meu neto. Eu ligo para o meu filho e ele não atende”, chora.

Foto: JC Imagem/ Alexandre Gondim
Segundo moradores, encosta teria cedido após vazamento de cano - Foto: JC Imagem/ Alexandre Gondim
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Tragédia matou sete pessoas e feriu três - Foto: JC Imagem/ Alexandre Gondim
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“Isso não pode ficar impune", defende Erivaldo Barbosa, tio de vítima - Foto: JC Imagem/ Alexandre Gondim
Foto: JC Imagem/ Alexandre Gondim
Restam apenas os escombros das duas casas atingidas - Foto: JC Imagem/ Alexandre Gondim

O motorista de aplicativo Erivaldo Barbosa, 40, tio de Emanuel, também cobra pelos resultados. “Eles estão fazendo análise do solo e não fala mais nada além disso”, reclama. “Isso não pode ficar impune. Todo mundo sabe mais ou menos o que aconteceu, e espera só eles se declararem”, defende.

Segundo ele, a Compesa tentou reaproximação nos últimos dias, após “sumir” logo depois do deslizamento. “De vez em quando eles vêm aqui e procuram conversar, mas só a parte social. O administrativo ainda não teve contato nenhum com a gente. Eles perguntam o que a gente está precisando. O que a gente está precisando do laudo”, fala.

Ainda de acordo com Erivaldo, o abastecimento de água, interrompido desde o acidente, está retomando à normalidade. “Essa parte foi a última a chegar água, depois de tudo que aconteceu”, conta, referindo-se ao conjunto de casas vizinhas dos imóveis destruídos. moram ao lado dos escombros.

Além da Compesa, a Polícia Científica também elabora um laudo. A Secretaria de Defesa Social (SDS) informou que o documento está em fase final, e deverá ser entregue para a Polícia Civil nos próximos dias. O inquérito é investigado pelo delegado Ricardo Cysneiros, titular da Delegacia do Alto do Pascoal.

Reunião

Otoniel Simião da Silva, 57, foi um dos três feridos que escaparam com vida da tragédia. Sua esposa Lucimar Alves da Silva, de 50 anos, e a neta Daffyne Kauane Alves, de 9, não resistiram. A casa onde moravam foi soterrada pela lama. Ele e outros sobreviventes se reuniram no fim de tarde desta quinta com o secretário de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude, Sileno Guedes.

No encontro, as partes começaram a dialogar sobre reparações. “A gente expôs os fatos acontecidos, e ficou tudo para a gente tirar documentação que está faltando. Depois que a gente resolver vai ter uma segunda reunião para tratar de moradia, emprego, tudo”, comenta.

Desempregado e sem casa própria, Otoniel não consegue pagar pelo aluguel do espaço em que está vivendo. “O proprietário disse que eu podia morar o tempo que fosse e que depois eu acertava. Estou esperando ressarcir com o dinheiro da prefeitura e Compesa, mas até agora não chegou ajuda de custo de lado nenhum”, declara.

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