Alívio para uns, espera sem fim para outros. No bairro dos Coelhos, Centro do Recife, moradores nesta segunda-feira (27) se dividiam entre os que circulavam, sorridentes, com um envelope debaixo do braço e os que, sem ter o que comemorar, continuavam na promessa. O envelope em questão era a documentação da tão sonhada casa própria. Após mais de uma década de espera, 160 famílias ribeirinhas receberam a posse do apartamento no Conjunto Travessa do Gusmão, cuja construção foi anunciada ainda na gestão do prefeito João Paulo. Localizado no bairro de São José, também no Centro, o residencial vai atender menos de 25% do déficit habitacional das comunidades Beira-Rio e Vila Nova, formadas em grande parte por palafitas. Na área, cerca de 700 famílias estão cadastradas para receber uma nova moradia. Para os que ficaram fora da lista, a esperança agora é ser incluído entre os beneficiários do Conjunto Sérgio Loreto, também no bairro de São José, e Vila Brasil, na Ilha Joana Bezerra. O problema é que as obras desses residenciais estão paradas e ainda sem data para serem retomadas.
Com mais demanda do que apartamento pronto, a prioridade foi dada às famílias que moram em palafitas, em função do projeto de navegabilidade do Rio Capibaribe, cuja dragagem está parada à espera da retirada das ocupações irregulares. Na realidade, o mapeamento da Prefeitura do Recife aponta para 445 palafitas na área. Mas nem todas serão desocupadas mediante entrega de habitacionais. Cerca de 200 famílias vão receber indenização e outra parcela terá direito a auxílio-moradia, até que os novos apartamentos fiquem prontos. Juntos, os dois habitacionais vão beneficiar 352 famílias da região.
Durante a entrega do residencial, o prefeito Geraldo Julio informou que os barracos ocupados pelas famílias beneficiadas serão destruídos o mais rápido possível. “A mudança para o novo endereço começa a ser feita a partir de amanhã (hoje) justamente para acompanhar família a família e evitar novas ocupações”, observou. Sobre os dois habitacionais pendentes, ele disse que a prefeitura está negociando com construtoras para retomada das obras. “Vamos fazer uma nova licitação para que uma outra empresa possa assumir essas construções.”
Há mais de 20 anos morando numa palafita fincada no mangue, a telefonista desempregada Ana Paula da Silva Aguiar, 44 anos, nem acreditava mais que fosse possível realizar o sonho de ter uma casa de alvenaria, com piso de cerâmica, banheiro, água encanada e energia elétrica. “Essa promessa já se arrasta há 12 anos. Eu escutava falar e achava que nunca ia acontecer. Agora finalmente terei o meu canto”, comemorou a futura moradora do bloco B, apartamento 203, do Conjunto Travessa do Gusmão. Ela foi uma das poucas da comunidade Vila Nova contemplada. A maioria dos beneficiados é da comunidade Beira-Rio.
Um diferencial do novo habitacional é o grafismo do artista plástico Manoel Quitério. Na fachada dos blocos, ele estampou figuras humanas de 12 metros de altura, com a proposta de criar uma harmonia entre o espaço da rua e o de convivência dos moradores. “É a arte dando boas-vindas a uma vida nova”, disse. O residencial tem cinco blocos com 32 apartamentos cada, e recebeu um investimento de R$ 7,6 milhões, com recursos municipais e federais.
