Crônica policial

Os arquivos escondidos do IML - reveja os destaques da série

Menina Sem Nome, Ezequias, tragédia no Morro e cheia de 1975 são recontados nos documentos catalogados pelo Arquivo Público de Pernambuco

Felipe Vieira
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Felipe Vieira
Publicado em 20/04/2015 às 12:00 | Atualizado em 02/11/2020 às 9:02
Foto: Guga Matos/JC Imagem
Menina Sem Nome, Ezequias, tragédia no Morro e cheia de 1975 são recontados nos documentos catalogados pelo Arquivo Público de Pernambuco - FOTO: Foto: Guga Matos/JC Imagem
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Em 2015, o Jornal do Commercio publicou documentos reveladores de grandes histórias da crônica policial do Estado de Pernambuco. Esses documentos foram resgatados dos arquivos do Instituto de Medicina Legal (IML), por pesquisadores do Arquivo Público de Pernambuco. A reportagem escolheu quatro casos emblemáticos - a morte da Menina Sem Nome, considerada santa por muitos; a identificação do preso político Ezequias, a tragédia que matou sete pessoas pisoteadas durante a festa do Morro da Conceição e a enchente que destruiu o Recife em 1975.

Os vídeos abaixo, feitos pelo repórter Felipe Vieira, com imagens de Guga Matos e edição de Victória Gama, falam desses quatro casos. E um resumo deles está logo abaixo.

 

 

A MENINA SEM NOME

O ano de 1966 foi o mais violento da década de 1960 em Pernambuco, com 121 homicídios registrados para uma população, na época, de 5 milhões de habitantes. Quase 50 anos depois, a população do Estado praticamente dobrou, mas as mortes violentas – 3.463 em 2014 – foram multiplicadas por 30. A famosa Menina sem nome, cujo túmulo é um dos mais visitados do Cemitério de Santo Amaro, na área central da cidade e a quem se atribuem graças, não foi morta por afogamento, jamais sofreu violência sexual e não conseguiu se defender do seu agressor. Os registros de óbito do militante de esquerda Ezequias Bezerra da Rocha, morto em 1972 durante a ditadura militar, no município de Escada, Zona da Mata Sul, só foram localizados 41 anos depois, graças ao médico-legista que escreveu o laudo à mão e o escondeu bem longe do alcance dos militares. Não se sabe se intencionalmente.

A IDENTIFICAÇÃO DO PRESO POLÍTICO EZEQUIAS

Ninguém no município de Escada, na Zona da Mata Sul do Estado, sabia de quem era aquele corpo que apareceu na Barragem do Bambu, dentro da Usina Massauassu, na manhã daquele 12 de março de 1972. Era um homem de cor parda, com 1,64 metro, trajando apenas cueca. Tinha marcas de agressões por todo o corpo e estava amarrado a uma pedra de 30 quilos. No ofício de remoção de corpos número 78, encaminhado naquele mesmo dia ao Instituto de Medicina Legal (IML), o delegado da cidade, tenente Bartolomeu Melo, lembrou-se de colher as impressões digitais do cadáver e fazer um minucioso relato da cena que tinha encontrado. Graças a ele e ao médico legista que fez a necropsia, no dia seguinte, a morte do geólogo Ezequias Bezerra da Rocha deixou de ser mais uma ocorrida sob as patas da ditadura militar (1964-1985) a ficar sem identificação.

TRAGÉDIA NA FESTA DO MORRO

Na madrugada de 8 de dezembro de 1959, o Morro da Conceição, na Zona Norte do Recife, foi palco de uma tragédia cujo motivo, até hoje, permanece obscuro. Sete pessoas morreram e cerca de cem ficaram feridas quando um pânico generalizado, seguido de correria, tomou conta do local, durante a festa profana em homenagem a Nossa Senhora da Conceição. Entre os mortos, quatro crianças, com idade variando de seis meses a 11 anos. A versão mais comentada por quem presenciou o tumulto dá conta de que houve um curto-circuito na rede elétrica – improvisada – que alimentava o local da festa, o que teria gerado o corre-corre da população por medo de choques elétricos. Mas há quem diga ter se tratado do estouro de um cilindro de gás. Até mesmo o delegado responsável pelo caso registrou na ocorrência que o pânico começou por conta de dois disparos de arma de fogo.

CHEIA DE 1975 NO RECIFE

Nascido sob o signo das águas, o Recife ironicamente chegou perto de desaparecer sob elas. No próximo mês de julho completam-se 40 anos da maior tragédia natural da história da cidade: a enchente que varreu 80% de seu território, matando 104 pessoas, deixando 350 mil desabrigados e um prejuízo estimado, à época, em 1,5 bilhão de cruzeiros. 

 

A famosa cheia de 1975 colocou o Recife de joelhos. Foram 31 bairros e 370 ruas atingidos pelo transbordamento do Rio Capibaribe, por conta das fortes chuvas. Não à toa, os bairros que ficam na bacia do curso-d’água – Caxangá, Iputinga, Cordeiro, Casa Forte, Afogados, Madalena entre outros – foram os mais atingidos. Ruas inteiras ficaram embaixo d’água, houve desabamentos, milhares de flagelados, e o pior: vidas, de todas as classes sociais, foram interrompidas.


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