Familiares, amigos e integrantes da Orquestra Criança Cidadã deram adeus a Moysés Gonçalves, de 21 anos, ex-integrante do projeto, que foi assassinado a tiros na noite da última segunda-feira (1º). Morador da comunidade do Coque, no Centro do Recife, ele se envolveu no mundo das drogas e foi mais uma vítima do tráfico. Moysés tocava violino desde os 11 anos de idade, quando foi fundada a orquestra, e, como dizem os professores e maestro, tinha um futuro promissor, carregando no currículo apresentações internacionais e até um CD, gravado em Roma, na Itália. Moysés teve a grande oportunidade da vida ao tocar, junto com a Orquestra Criança Cidadã, para o papa Francisco, em novembro de 2015.
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O corpo de Moysés foi sepultado no final da manhã desta quarta-feira (3), no Cemitério de Santo Amaro, área Central do Recife. O jovem violinista chegou a ser monitor da orquestra em Ipojuca, na Região Metropolitana do Recife, onde trabalhou por um ano e meio. Companheiro de monitoria e amigo de infância do jovem, João Pedro de Souza, de 20 anos, conheceu Moysés pouco antes da fundação do projeto, onde permanece até hoje. Ele e mais um colega tocaram em violinos o clássico “My Way”, de Frank Sinatra, como forma de homenagem. “O título da música significa ‘meu jeito’, ou ‘meu caminho’, e a escolha da música é uma forma de dar adeus, lembrando do caminho que, agora, ele já não pode mais tomar”, disse João Pedro.
VELÓRIO
Durante o velório, houve choro e, a todo tempo, um pequeno rádio entoava músicas evangélicas e que falavam sobre amor. Maestro da Orquestra Criança Cidadã, Nilson Galvão Júnior lembrou de Moysés como um garoto querido por todos. “Ele participava do projeto desde o começo e era um menino bom, talentoso e feliz, que fez escolhas erradas, como todos fazemos, só que, para ele, foi o fim da vida”, lamentou. “Nós fizemos o que podíamos, demos conselhos, tentamos ajudar, mas infelizmente o pior aconteceu”, completou o maestro Nilson.
CONSELHOS
O pai, também chamado Moysés, estava ao lado do jovem quando ele foi assassinado. “Foi-se embora um pedaço de mim. Meu filho não era assassino, não bebia e nem usava as drogas, só se envolveu no tráfico com o repasse”, explicou o pintor Moysés Sobrinho. “Eu sempre dei conselhos, dizia para ele começar uma faculdade de música. Ele foi se envolvendo, perdeu o emprego de monitor da orquestra e até se envolveu em uma confusão por causa de uma corrente de prata”, comentou. No último dia 27, Moysés sofreu uma tentativa de homicídio e escapou por pouco. Ele foi atingido de raspão por quatro tiros nas costas e uma bala, que atravessou o peito, mas não atingiu nenhum órgão vital. “Eu disse a ele que aquilo foi um livramento. Saiu do hospital no mesmo dia e prestamos queixa”, disse o pai. Ele acredita que a queixa na delegacia motivou o segundo atentado, que acabou na morte do jovem violinista.