A crise que faz o Hospital das Clínicas agonizar e impõe sofrimento a pacientes ultrapassou os corredores da unidade e agora está instalada no estacionamento dos médicos, à vista de todos. Pilhas de sacos plásticos pretos, entulhos e materiais hospitalares são jogados na parte de trás do terreno, localizado na Cidade Universitária, Zona Oeste do Recife. Membros amputados e sangue humano também são descartados como lixo comum, contrariando as exigências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O hospital-escola da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) abriga um lixão há quatro meses. E ensina o mau exemplo.
A TV Jornal inicia hoje uma série intitulada HC – um hospital em crise. Na primeira das três reportagens, a denúncia de que a perna direita de uma senhora foi depositada no lixão, embrulhada num saco plástico e num pano. Deveria ter sido incinerada, sepultada ou levada a um aterro sanitário dentro de um recipiente lacrado, como é a forma correta de descartar resíduos infectantes. A mulher teve que ser submetida a uma amputação, mas não resistiu e morreu em seguida.
As matérias serão veiculadas nos três telejornais: TV Jornal Mais (7h20), TV Jornal Meio Dia (11h45) e O Povo na TV (18h20). As imagens estão em poder do e da TV Jornal. Mas, em respeito aos leitores/espectadores, não serão divulgadas.
Outro vídeo, também obtido pela equipe de reportagem, mostra um carrinho de coleta de lixo sujo de sangue e material hospitalar. Como 11 dos 15 elevadores do hospital estão quebrados, os resíduos infectantes são transportados nos poucos que ainda funcionam e dividem o mesmo espaço com refeições, pacientes e funcionários. Além de membros amputados e sangue, também são classificados como resíduos infectantes drenos, sondas e gazes, por exemplo.
Em reserva, por receio de represálias, funcionários de dois setores diferentes do HC confirmaram à equipe de reportagem que é comum o descarte de partes de corpos humanos vindas diretamente do bloco cirúrgico. E reclamaram dos riscos à saúde. “A situação é difícil tanto para o funcionário quanto para os pacientes. É para o diretor sair do gabinete dele e olhar que aqui tem seres humanos trabalhando e pacientes também”, lamentou um deles.
IRREGULARIDADES - Embora os funcionários da limpeza utilizem luvas e máscara, o descarte do lixo hospitalar desobedece a resolução de número 33 da Anvisa. Segundo a norma, os resíduos devem ser separados conforme a classificação (comuns, infectantes, químicos, radioativos e perfucortante). Depois, eles têm que ser armazenados dentro de recipientes (contêineres ou tonéis) e só abertos após serem transportados para o aterro sanitário ou setor de incineração.
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Mas, no Hospital das Clínicas, a única diferença entre lixo orgânico - como folhas e restos de comida - e o hospitalar é a cor do saco plástico. O primeiro é embalado em sacolas pretas. Já os resíduos infectantes são guardados em sacos brancos, junto ao lixão. Depositados numa espécie de garagem. Nas três vezes que a equipe de reportagem foi à unidade, o portão estava aberto e alguns tonéis, destampados. Vários gatos perambulavam pelo estacionamento onde está o lixão, o que aumentava ainda mais os riscos de infecção.
A empresa contratada para fazer a coleta do material hospitalar, a Serquip, recolhe os resíduos toda semana. Mas leva apenas os que estão depositados nos 16 recipientes do hospital. E nada mais, apesar de o HC produzir uma quantidade superior de descartes.