Pesquisa realizada no Pronto-Socorro Cardiológico de Pernambuco (Procape), principal referência do SUS no Estado, constatou entre vítimas de infarto que 69% estavam com o peso acima do ideal. No mesmo grupo, nada menos que 91% tinham a chamada obesidade abdominal, que aumenta o risco de doença cardiovascular, e 79,6% eram sedentários.
O recorte pernambucano compõe um desenho nacional da relação entre os infartos e os hábitos alimentares do paciente, para a construção de uma estratégia nutricional que reduza os riscos de morte. O projeto Dieta Cardioprotetora Brasileira, também conhecido como Dica Br, é resultado de uma parceria entre o Ministério da Saúde e o Hospital do Coração (HCor), de São Paulo, coordenador do trabalho. As ações são financiadas pelo Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS e devem apontar resultados conclusivos no próximo ano.
A ideia é acompanhar por três anos pessoas com mais de 45 anos que tiveram algum episódio coronário (infarto ou angina instável, por exemplo). Dos 2.100 brasileiros a serem avaliados em 33 centros do País, 50 são do Procape, que recebe diariamente oito novos infartados.
O funcionário público Gilson Souza Leão, 54 anos, morador de Olinda, já viveu a experiência. Desde os 40, descobriu-se hipertenso. Mas só acordou para a necessidade de mudar sua dieta e deixar de fumar depois do infarto, 12 anos depois. “Comia de tudo, rabada, sarapatel, mão de vaca, churrasco, picanha com aquela gordurinha e tudo com sal, muito sal”, relembra.
A nutricionista Cláudia Sabino Pinho, uma das que coordenam a pesquisa em desenvolvimento no Pronto-Socorro Cardiológico de Pernambuco para a construção da dieta cardioprotetora, diz que há estudos no mundo mostrando redução de 30% nas doenças cardiovasculares a partir de mudanças na ingestão de alimentos.
“Sabe-se que a alimentação contribui de várias formas para a determinação do risco cardiovascular. A composição da dieta pode constituir um fator de risco ou de proteção”, afirma. Ela lembra que “o consumo elevado de colesterol, lipídeos, sobretudo de ácidos graxos saturados, somado ao baixo consumo de fibras constituem importantes marcadores de risco” para infartos e derrames.
Cláudia destaca que na maioria das vezes os pacientes não apresentam um único fator de risco, mas acumulam várias condições que potencializam a chance de sofrer os chamados eventos coronarianos. Na amostra estudada entre abril e agosto de 2013, cujos resultados preliminares foram apresentados no Congresso Norte-Nordeste de Cardiologia, realizado este mês no Recife, ficou evidente que os doentes somavam várias condições favoráveis ao internamento no hospital de cardiologia: não só estavam acima do peso, como eram, na maioria, sedentários.
A última pesquisa Vigitel do Ministério da Saúde, divulgada em abril e que apura as condições de saúde em entrevistas por telefone, apontou que 51% dos adultos do Recife estão acima do peso e 18% são obesos.
Leia mais sobre o assunto na edição desta sexta-feira do JC e nas de sábado e domingo, na série Dieta do Coração