O Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, unidade da Fiocruz no Recife, abriga um dos cinco grupos no Brasil que se dedicam a grandes pesquisas sobre dengue. Guarda cinco mil amostras de soro humano (parte do sangue) de pessoas que tiveram a doença, reunidas ao longo dos últimos dez anos.
Com esse material, foi possível isolar e estabelecer o sequenciamento genético de vírus circulantes, estudar o poder de adoecimento de cada um deles e a produção de anticorpos, explica Marli Tenório, pesquisadora do Departamento de Virologia do CPqAM.
As informações são importantes na validação de uma vacina e direcionamento das ações de imunização, tratamento e controle da doença. Com 40 anos de experiência, metade deles dedicados a estudos sobre a dengue no Laboratório Central do Estado (Lacen) e na Fiocruz, Marli é fascinada pelo vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. “É fácil de se trabalhar, mas também muito desafiador em relação a sua patogenia. É extremamente versátil, provocando variedade de sintomas, que predominam de forma diferente em cada epidemia”, comenta.
Ao mesmo tempo que causam estresse na população e nos gestores da saúde pública, os anos de epidemia ajudam a ciência, por fornecerem maior quantidade de material para pesquisas. Pernambuco viveu seu primeiro surto em 1987, atribuído ao vírus DENV1. Em 1995/1996, a segunda epidemia foi comprovadamente causada pela vírus DENV 2. Já em 2002 o Estado atingiu o pior quadro, com a entrada do DENV3. Há quatro anos foi confirmada a presença do quarto vírus, graças à estruturação da vigilância do SUS e ao desenvolvimento tecnológico dos centros de pesquisa.